Teatro D-Jaraguá será inaugurado no aniversário da cidade; veja estrutura, história e programação

Peça de Maria Fernanda Cândido com texto de Clarice Lispector estreia na abertura do espaço

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São Paulo

Quando São Paulo completava seu 4º centenário, em 1954, o hotel Jaraguá abria suas portas na região central da cidade. Agora, 71 anos depois, o mesmo edifício modernista presencia outra inauguração no aniversário da capital, a do Teatro D-Jaraguá.

No sábado (25), o espaço abre as portas com a estreia da peça "Balada Acima do Abismo", criada a partir de textos de Clarice Lispector e protagonizada por Maria Fernanda Cândido.

O novo teatro D-Jaraguá, no Hotel Nacional Inn Jaraguá, um prédio tombado e cheio de obras de arte - Bruno Santos/Folhapress

"Ela amamentou o filho nas coxias deste teatro. Quis chamá-la para a estreia e ela topou", afirma Darson Ribeiro, 59, ator, diretor e produtor à frente do teatro.

O espaço cultural dá continuidade ao trabalho do Teatro-D, inaugurado no final de 2019 no Itaim Bibi com show de Ney Matogrosso. O local também foi palco de peças com atores como Heloísa Périssé, até que Ribeiro recebeu a notícia de que o prédio seria vendido e demolido.

Depois de dois anos e meio de funcionamento, o Teatro-D encerrou as suas atividades em julho de 2022. Desde então, Ribeiro buscava um novo imóvel para abrigá-lo.

O novo teatro

O Teatro D-Jaraguá fica no andar E1 do prédio, um abaixo do saguão do hotel. Até o final de 2024, o espaço era utilizado por eventos corporativos —na nova fase, porém, peças teatrais são o foco.

Com formato italiano ( a plateia a sua frente) e 260 poltronas, teve que passar por uma reforma para melhorar a visibilidade do público.

Na entrada, é possível ver pilastras pintadas pelo artista plástico Guilherme Kramer que relembram a estrutura do Teatro-D anterior.

Há também uma obra de Marysia Portinari, sobrinha de Cândido Portinari (1903-1962), encomendada para o hotel por Alaíde Quércia quando foi primeira-dama da cidade. A pintura foi encontrada em meio à reforma do teatro e está exposta na entrada do local.

Edifício histórico

O edifício que abriga hotel e teatro foi construído em 1953 para ser a sede do jornal O Estado de S. Paulo, que funcionou ali até 1979. O hotel Jaraguá passou a ocupar as mesmas instalações da publicação, em andares distintos, no ano de 1954, e ficou aberto até 1998 —durante o período, um teatro e bar também operaram no endereço.

Depois disso, o espaço só voltou a funcionar como hotel em 2004, mudando de bandeira algumas vezes até ser assumido em 2024 pela Nacional Inn.

Próximo às estações República e Anhangabaú da linha vermelha de Metrô, o edifício é parcialmente tombado pelo pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), na esfera municipal, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo (Condephaat).

O edifício foi projetado pelo arquiteto francês radicado no Brasil Jacques Pilon (1905-1962), que também assinou a concepção da Biblioteca Mário de Andrade.

O hotel ficou conhecido pela riqueza artística que abriga. Na fachada, há um mural de Di Cavalcanti (1897-1976) e, no saguão de entrada, é possível observar um painel de Clóvis Graciano (1907-1988).

É bem em frente à obra que ficará a bilheteria do novo teatro, também ao lado do Bar do Clóvis, reaberto para acolher os frequentadores do espaço. O local já está funcionado diariamente a partir das 17h, com opções de cardápio como taças de vinho (R$ 28), porções de dadinhos de tapioca (R$ 37) ou de pastel (R$ 47).

O hotel também foi sede de eventos culturais, como o 1º Festival Internacional de Cinema. A partir daí, diversas personalidades nacionais e internacionais se hospedaram no local. Entre elas, Alain Delon, Ella Fitzgerald, Sophia Loren, Frederico Fellini, Brigitte Bardot, Louis Armstrong, Edith Piaf e rainha Elizabeth 2ª - todos fotografados e expostos em galerias no lobby do hotel.

A seguir, confira o que entra em cartaz no novo espaço no primeiro semestre.

Balada Acima do Abismo
Dir.: Gonzaga Pedrosa. Com: Maria Fernanda Cândido e Sonia Rubinsky. Livre
Momentos emblemáticos da vida e da obra de Clarice Lispector dialogam com um repertório para piano. Aborda temas como a espiritualidade, o feminino, a infância, a vocação literária e a paixão pela língua portuguesa da escritora.
De 25/1 a 9/2. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla


Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio
Dir.: Luiz Antônio Rocha. Com: Beth Zalcman. 12 anos
Uma mulher está sozinha em seu último dia de vida e reflete sobre sua missão de vida e o conhecimento que adquiriu em diferentes lugares do mundo. O texto da filósofa Lúcia Helena Galvão está em cartaz desde o início de 2023 e faz quatro apresentações no novo teatro da capital paulista.
De 12 a 15/2. Qua. a sáb., às 20h. Ingr.: R$ 150 em Sympla


Parem de Falar Mal da Rotina
Dir.: Geovana Pires. Com: Elisa Lucinda. 14 anos
Em monólogo, a protagonista convida o espectador a uma auto-observação da dramaturgia diária, ou seja, da rotina. A comédia tem 22 anos de trajetória e já passou por diversos estados brasileiros.
De 20 a 23/2. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla

Outra Revolução dos Bichos
Dir.: Bruce Gomlevsky. Com: Gustavo Damasceno. 14 anos
Inspirado no livro George Orwell, o espetáculo solo faz um paralelo entre os anos 1945 e 2023 para tratar do autoritarismo em diversas partes do mundo.
De 11/3 a 3/4. Ter. a qui., às 20h. Ingr.: R$ 100 em Sympla


Um Tartufo
Dir.: Bruce Gomlevsky. Com: Glauce Guima, Gustavo Damasceno e Yasmin Gomlevsky. 14 anos
Propõe uma releitura do clássico de Molière à luz da cultura brasileira contemporânea. Sem falas, apenas com o uso do corpo, a companhia Teatro Esplendor trata de temas como a fé cega, o fundamentalismo religioso e a união entre religião e Estado.
De 7 a 30/3. Sex. e sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 100 em Sympla


Raul Seixas, o Musical
Dir.: Leonardo da Selva. Com: Bruce Gomlevsky. 14 anos
Escrita com base em manuscritos do artista, a peça apresenta sua obra e seu papel no Brasil, tanto na classe artística como na sociedade. Sucessos como "Gita", "Maluco Beleza" e "Metamorfose Ambulante" fazem parte do repertório do espetáculo, que já fez sucesso no Rio de Janeiro.
De 9/4 a 29/6. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla


Teatro-D-Jaraguá
R. Martins Fontes, 71, Centro, região central. @teatrodjaragua

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