Peça 'O Rei da Vela', que riu da sociedade dos anos 1960, reestreia 50 anos depois



"Respeitável público! Não vos pedimos palmas, pedimos bombeiros! Se quiserdes salvar vossas tradições e vossa moral, ide chamar os bombeiros ou se preferirdes a polícia!". A fala de Hierofante, de "A Morta", de Oswald de Andrade, vinha estampada na abertura do programa da peça "O Rei da Vela", que estreou em 1967 no Teatro Oficina, e descreve bem as intenções do diretor Zé Celso.

A ideia era romper com a ordem, tanto do teatro quanto da sociedade, silenciada pela ditadura militar. Cinquenta anos depois, Celso e Renato Borghi —protagonista em 1967— voltam aos palcos, agora do Sesc Pinheiros, para reapresentar a peça. A nova montagem estreia neste sábado (21).

Escrito também por Oswald de Andrade (1890-1954), na década de 1930, "O Rei da Vela" critica a sociedade da época a partir da história de Abelardo 1º, que enriquece ao abrir uma fábrica de velas quando as empresas de energia elétrica fecham, já que a população não tem dinheiro para pagar a conta.

Segundo a pesquisadora de história do teatro da USP Mariana Rosell, os membros do Teatro Oficina propunham um confronto direto com a classe média da época, que assistia a peças teatrais e, de certa forma, sustentava a ditadura. A ideia era propor uma nova estética do teatro, interagindo com o público, afrontando os valores morais e até usando palavras de baixo calão.

Mais do que uma celebração de aniversário, no entanto, a pesquisadora considera que a peça traz um lembrete desconfortável de que questões de 1930 ainda permanecem. "É preocupante perceber que uma peça escrita nos anos 1930 e montada nos anos 1960 consegue se mostrar atual nas questões políticas e econômicas que critica".

Sesc Pinheiros - teatro Paulo Autran - R. Pais Leme, 195, Pinheiros, região oeste, tel. 3095-9400. 1.010 lugares. Sáb.: 19h. Dom.: 18h. Até 19/11. Ingr.: R$ 15 a R$ 50, p/ sescsp.org.br.

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