O público se acomoda nas mesas e sofás do Estúdio Emme (zona oeste de São Paulo) ao som de um contrabaixo, postado no centro do palco. Logo percebe que um garçom nada convencional circula entre as mesas, com olhar fixo e sério. O espetáculo já começou.
No musical "Emoções Baratas", que estreou em 1988 e está de volta a SP até 18 de dezembro, o diretor José Possi Neto recria o clima dos cabarés do início do século 20 ao som do jazz de Duke Ellington.
Em cena estão duas cantoras, a banda Heartbreakers e nove bailarinos, que são "possuídos" pelas canções e protagonizam danças acrobáticas e sedutoras. Os números não se restringem ao palco, e o público fica sem saber para onde olhar --se para a banda ou para os atores, que se espalham pelo espaço e interagem com a plateia.
Abaixo, veja um bate-papo com José Possi Neto:
Guia Folha - Um dos objetivos do musical é conquistar novos "apaixonados" por jazz?
José Possi Neto - Todo espetáculo cria ou alimenta um novo público. "Emoções", creio eu, não só apresenta Duke Ellington para uma plateia jovem ou leiga em matéria de jazz, como também traz novos adeptos para o mundo fascinante da dança, uma dança que está longe de ser mera ilustração das músicas, mas que consegue construir personagens e relacioná-los através de uma dramaturgia dos sentidos ao invés das palavras.
Guia - Qual o significado do nome da peça?
Possi Neto - "Emoções Baratas" é o título do primeiro LP da divina Janis Joplin, um disco que fez minha geração ter arrepios de êxtase pela espinha dorsal e todo o corpo diante daquela voz rouca e dilacerada. Quis, com nosso espetáculo, provocar "emoções" através da simples beleza de um gesto, da energia e sensualidade de corpos sarados e suados, do lamento de um trompete, da beleza de uma voz. Quis um maremoto de emoções, portanto, baratas.
Guia - Para você, o jazz é um dos estilos mais sensuais?
Possi Neto - O jazz, como o samba, o bolero e a salsa são ritmos que nascem de origem africana, dos ritmos e dos ritos africanos. São sons sempre materializados nos corpos através da dança, portanto, não cerebrais, mas totalmente emocionais e principalmente sensuais.
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