Com 25 anos de estrada, a Cia. Armazém de Teatro --nascida em Londrina e com sede no Rio de Janeiro-- traz a São Paulo seu esperado e mais recente espetáculo: "A Marca da Água", que estreia neste sábado (16) no Sesc Santana (zona norte de São Paulo).
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A peça transita entre os panoramas de sonho e realidade a partir de uma pesquisa sobre a água como elemento cênico --ela está presenta durante toda a encenação e os atores se molham em vários instantes.
Aos 40 anos, Laura (Patrícia Selonk) é surpreendida pelo aparecimento de um misterioso peixe em seu jardim. Esse surgimento surreal traz à tona uma doença neurológica causada por um acidente na infância da personagem.
O trabalho mereceu três indicações ao Prêmio Shell-Rio: atriz (Patrícia Selonk), autor (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes) e cenário (Paulo de Moraes). Também foi selecionado para os importantes festivais de Avignon (França) e Edimburgo (Escócia).
Leia abaixo entrevista com Paulo de Moraes, que dirige a montagem:
"Guia" - O trabalho de vocês sempre foi focado no tempo narrativo, na memória e na existência humana. Como foi a pesquisa para "A Marca da Água"?
Paulo de Moraes - Partimos de uma pesquisa bastante formal e queríamos trabalhar a água como elemento cênico. Pesquisamos o filósofo francês Gaston Bachelard, que tem um texto chamado "A Água e os Sonhos", que é incrível e relaciona a água a questões do passado e à profundidade. Essas coisas todas foram nos tocando e achamos que a água não deveria estar só no cenário, mas também na história de um modo muito determinante. Começamos a achar que a água estava dentro do personagem também, porque a gente é muito feito de água. Até que ficou que iríamos trabalhar com um personagem com distúrbio neurológico, em que a água não é drenada do cérebro e causa determinadas fissuras.
Mas, ao contrário da maioria dos trabalhos de vocês, que têm longas pesquisas, a peça nasceu em poucos meses para participar do festival Cena Brasil Internacional em 2012...
É, quando nos chamaram, estavámos trabalhando com a pesquisa formal, não tínhamos texto, somente a ideia da água. Estávamos trabalhando com exercícios e coisas fragmentadas. Quando surgiu o convite, tivemos que nos apressar e pular um pouquinho as etapas.
Vocês tratam, na peça, de distúrbios ligados à música e até citam "Musicophilia", trabalho do neurologista britânico Oliver Sacks, em que ele fala como um trauma poderia surgir a beleza. O que chamou a atenção de vocês para esse tipo de distúrbio?
Surgiu por causa dessa questão: a água, a água no corpo da pessoa, a água no cérebro. Aí começamos a estudar distúrbios neurológicos e chegamos a Oliver Sacks. Em "Musicophilia", ele descreve surpreendentes distúrbios neurológicos ligados à música. Percebemos que a personagem, além de ter sentido teatral, poderia ser mais verossímil. Então criamos uma personagem que tem um acidente na infância e passa por algumas cirurgias no cérebro. E o sintomas desaparecem por muitos anos. Quando essa personagem tem 40 anos, já paralisada pela vida, ela começa a sentir novamente os sintomas, sendo um deles, muito forte, uma música que ouve insistentemente na cabeça.
Mas é como se ela preferisse o sintoma à cura?
Ouvir essa música traz um desejo de potência para a personagem, que quer corporificar essa música. Acho que ela começa a pensar muito no tempo, mas não no tempo como duração, e sim como potência. Para ela não interessa mais viver muito, mas viver de forma plena. Ela parte de uma fragilidade física para tentar uma afirmação de vida.
Como vocês representam a água na cenografia?
Temos um tanque com uns 20 cm de profundidade, 7 metros de largura e 13 de comprimento. Muitas ações do espetáculo ocorrem dentro desse espaço, que por vezes é uma piscina, noutras um rio e até cérebro da pessoa. Também há projeções que ajudam a criar essas imagens. O espetáculo oscila muito entre passado, presente, alucinação, o sonho. Mas não é um espetáculo "cabeção". É uma história fragmentada, mas bastante direta. Acho que consegue se aproximar muito do público.
Vocês foram selecionados no Cena Brasil para participar dos importantes festivais de Avignon (França) e Edimburgo (Escócia). Após 25 anos de grupo, é a primeira vez que vocês saem do Brasil?
Sim. Eu acho bacana, isso surgiu depois de muito tempo de grupo. A gente foi sondado um monte de vezes. Mas nossos cenários são em geral muito grandes. Muitas vezes a gente negociava e, no fim, dava tudo errado. Antes de irmos para Avignon e Edimburgo, a gente também foi convidado a levar "A Marca da Água" para ir para Montevideo, em maio, e para Portugal em maio com "Toda a Nudez Será Castigada".
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