O poder que o acaso tem sobre as nossas vidas é o tema da peça "O Encontro das Águas", que chega neste sábado (9) à SP Escola de Teatro e marca a estreia de Leonardo Miggiorin na direção.
"É muito instigante poder lançar um olhar particular e subjetivo sobre a obra", diz o ator. Ele também conta que essa nova função lhe permite mais autonomia. "E agora não preciso mais cuidar da pele", brinca. "Eu fico torcendo da cabine, tentando controlar minha ansiedade. É um exercício de desapego."
Com texto de Sérgio Roveri, a peça fala sobre um andarilho provocador (Patrícia Vilela) e um homem desorientado (João Fenerich) que acabam se encontrando numa ponte. Ao falar de luto e suicídio, faz a plateia refletir sobre as suas próprias perdas.
BATE-PAPO
"Guia" - O que é mais gostoso nesta nova função de diretor?
Leonardo Miggiorin - Eu adorei poder trazer uma concepção para o texto. Adoro assistir aos ensaios dos atores e pensar a encenação. Se antes eu precisava cuidar apenas de uma parte, meu personagem, desta vez eu precisei olhar para o projeto como um todo. Só consegui realizar porque tive o apoio de todo o grupo. Minha função foi dar as diretrizes e assegurar os resultados, sem ser muito enérgico ou controlador. Ser exigente na medida certa.
Na verdade, é muito instigante poder lançar um olhar particular, subjetivo sobre a obra. É uma função que permite autonomia. Acabei encontrando elos com ambos os personagens. O texto do Sérgio Roveri é sutil, mas carrega muitas pistas, que nos permitiu encontrar camadas mais profundas. E agora não preciso mais cuidar da pele!! [risos]
E o que acabou sendo mais difícil?
Não poder fazer mais nada depois do terceiro sinal. Fico torcendo da cabine, tentando controlar minha ansiedade. Um exercício de desapego e de muita fé.
Por que esta obra, especificamente, te tocou?
Foi uma forma de integrar alguns estudos como a psicologia, o teatro, a iluminação, o cenário. A questão do luto, o desejo de morte e a temática suicida sempre me instigaram. Colocamos nossa identidade no texto e, portanto, a peça foi uma forma de elaborar alguns lutos meus.
O teatro sempre inaugura um espaço para reflexão e catarse, e isso, por si só, é importante. O texto é um convite à elaboração de algumas perdas, um remédio para o luto. Ao acompanhar o encontro dos personagens, o espectador é convidado a refletir e a elaborar suas próprias questões, suas perdas. E acaba sendo surpreendido pela simplicidade e sutileza do encontro.
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