Filme prova que Park Chan-wook fica entre invenção e perfumaria

Que o diretor sul-coreano Park Chan-wook tem estilo, ninguém duvida. O problema, no caso, é identificar em que medida seu estilo engrandece ou prejudica as tramas com as quais trabalha.

Vejamos o caso de suas obras mais famosas, as que fazem parte da chamada "Trilogia da Vingança". Nos dois primeiros, "Senhor Vingança" e "Oldboy", o estilo de alguma forma se adequa às tramas, fortalecendo os alicerces que as sustentam.

No terceiro longa, "Lady Vingança", o estilo excessivo sufoca qualquer possibilidade dramática e torna mais graves e tolas as curvas aterrorizantes que a narrativa perfaz, e o filme se reduz ao choque pelo choque.

Kim Min-hee (Hideko) e Kim Tae-ri (Sooke) em cena do longa
Kim Min-hee (Hideko) e Kim Tae-ri (Sooke) em cena do longa - Divulgação

Muitos longas depois, quase todos entre o vulgar e o patético, surge este ambicioso "The Handmaiden" (a criada), thriller de época cheio de mudanças no tempo e reviravoltas dramáticas dignas de folhetim, acrescidas de uma carga erótica considerável.

Os personagens principais são três: Hideko, herdeira que vive sob os cuidados de um tio manipulador; um conde de araque doido para pôr a mão em sua fortuna; e Sooke, contratada pelo conde como criada de Hideko.

Quem está manipulando quem é o desafio que o espectador deve decifrar, e o jogo é construído de forma cuidadosa, embora em alguns momentos pareça que o diretor e seus roteiristas estejam tirando onda com nossa cara.

O estilo desta vez está entre o fortalecimento e a sabotagem das estratégias narrativas. Por vezes, a câmera se mexe demais, uma movimentação incessante e algo estéril.

Sobretudo nas cenas eróticas, há tal cuidado com angulações e gestos de prazer das atrizes que pensamos estar diante de um pornô chique.

Os recuos e avanços no tempo nem sempre funcionam. Alguns parecem acontecer para nos confundir, outros apenas para mostrar a suposta engenhosidade dos roteiristas, isso quando não explicitam uma incapacidade de mostrar os acontecimentos de forma linear.

No balanço, trata-se de um filme desigual, que servem para elucidar o paradoxo Park Chan-wook: por um lado, um cineasta interessante e inventivo; por outro, um farsante chegado à perfumaria.

Confira toda a programação no site do "Guia" da Mostra.


THE HANDMAIDEN
DIREÇÃO Park Chan-wook
ELENCO Kim Min-hee, Kim Tae-ri e Ha Jung-woo
PRODUÇÃO Coreia do Sul, 2016, 18 anos
QUANDO qua. (2), às 14h, Espaço Itaú Augusta 1
AVALIAÇÃO regular

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