Feiras e lojas reúnem fãs de LPs; saiba onde encontrar discos em SP

Em um tempo não muito distante, arautos da modernidade atestaram a morte dos discos de vinil. Mas faltou combinar com uma porção de colecionadores e, em tempos recentes, com um novo público. Para eles, exaltar o velho formato é a forma de resgatar o prazer de ouvir música.


"Muitos vêm só pela moda. Para quem curte música é a volta dos que não foram, porque o vinil nunca deixou de existir", diz Kátia Pimentel, da Big Papa (leia à pág. 9).

A onda ganhou fôlego com a retomada da produção pela Polysom, em 2010. Contrariando previsões pessimistas, a fábrica do Rio de Janeiro contabilizou bons resultados em 2012 (veja ao lado).

Ainda assim, quem vende LPs e compactos convive com dificuldades curiosas. Nas galerias do centro, enquanto lojistas comercializam álbuns entre R$ 20 e R$ 500, nas calçadas contíguas ambulantes desovam discografias inteiras em mídias digitais por R$ 5.

Com muitos calouros, esse novo contingente de fãs dos "bolachões" tem no domingo (dia 10) uma boa chance para começar suas coleções na 12ª edição da Feira de Discos.

Alimente a vitrola com a seleção do "Guia" e bom som!


Feira de Discos
A necessidade de fomentar os negócios fez Márcio Custódio, 33, pensar na ideia. Depois de reunir outros vendedores, ele chega agora à 12a edição da feira, que, diz, "acabou ficando mais famosa que a loja (Locomotiva Discos - leia abaixo)". Na primeira edição, foram 35 expositores. No domingo (10), serão cem. Nascida no centro, a reunião bimestral acontece agora em Pinheiros. "Os lugares ficaram pequenos e o caráter itinerante agradou o público." O evento tem vendedores de vitrolas e especialistas em manutenção.
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LOJAS

Baratos Afins
A loja de Luiz Calanca, 60, é uma referência na Galeria do Rock. São mais de 100 mil títulos divididos entre quase todos os gêneros. Mas não foi sempre assim: nos primeiros anos, itens de "disco music" ficavam jogados no chão à entrada da casa. "Um dia um rapaz pegou um disco da Donna Summer do chão e lamentou: 'a rainha da música disco, que pecado!'. Tive vergonha. A gente não pode julgar o gosto dos outros", conta Calanca. No local desde 1978, ele capitaneia um selo homônimo, famoso pela reedição da discografia dos Mutantes nos anos 1990 e que hoje se dedica a bandas independentes. Ruy Castro, colunista da Folha, está entre seus clientes ilustres. Calanca engrossa o coro dos que veem uma febre do vinil, mas ressalva que faltam uma indústria de vitrolas e mais concorrência para baixar os preços e fortalecer o mercado. www.baratoseafins.com.br.
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Big Papa Records
O cubano Carlos Suarez, 53, e a paulistana Kátia Maria Pimentel, 49, conheceram-se nos Estados Unidos. Casados, voltaram ao Brasil em 2006 e abriram a loja em junho de 2007. As especialidades da casa são o rock clássico e um acervo de jazz de todas as vertentes, além da seção de músicas africana, latina e asiática. Os álbuns custam entre R$ 30 e
R$ 200. A preocupação em divulgar a música, no entanto, justifica os descontos fixos da loja, de 20%, para músicos e mulheres. Kátia dispensa saudosismos radicais, mas não tem dúvidas quanto às virtudes dos "bolachões": "Uso o iPad o dia inteiro, mas o som do vinil obviamente é melhor". bigpaparecords.com
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Disco 7 Vinil
A loja abriga cerca de 2.000 discos, principalmente de soul, música negra e jazz. E um pouco de rock, segundo Carlos Galdy Silveira, 46, o Carlinhos. Ele está lá há cerca de dez anos, mas convive com os discos há muitos mais. "O vinil é meu ganha-pão desde a infância." A loja é mantida praticamente intocada de mídias digitais e não faz vendas pela internet. Carlinhos diz que o movimento cresceu, mas também apareceram mais vendedores. Os preferidos da sua clientela, ele diz, são Jorge Ben e Tim Maia. disco7vinil.com.br/site
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Disconcert
Com foco no rock, a pequena loja em Perdizes (são cerca de 500 discos) é generalista e abrange os figurões de gêneros como punk, folk, bossa nova, jazz e MPB. Vende também CDs e DVDs e trabalha com encomendas -principalmente as raridades. Nascida nos anos 1990 por iniciativa do jornalista Fábio Massari, a loja hoje pertence a Paulo Assad, auxiliado por Moraes Filho, o Fil, que caça os "bolachões" mais procurados. A clientela aumentou de um ano para cá e fez a loja abrir regularmente -antes o fazia em dias esparsos. Com a boa música sempre rodando na vitrola, o espaço serve de "esquenta" para músicos e notívagos antes das baladas.
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Eric Discos
O inglês Eric Crauford, 66, veio de Londres em 1972. Em 1979, abandonou o emprego em um banco para vender parte da imensa coleção. São 80 mil álbuns nas seis pequenas salas do sebo, fora os 50 mil em casa. O menu é variado e cobre ícones e obscuridades do carimbó ao blues de raiz. O item mais caro do acervo atual é "Their Satanic Majesties Request", dos Rolling Stones (1967; R$ 400), em edição original com imagem em 3D na capa. Ele diz que tem discos da década de 1940 e que o vinil, se guardado sem umidade e dentro dos plásticos, dura mais que o CD. Com uma lista de visitantes ilustres que inclui Fatboy Slim ("vem comprar bossa nova") e, no passado, Raul Seixas (1945-1989), ele está seguro sobre a nova onda: "Cada vez mais jovens compram vitrola sem ainda ter uma coleção. O vinil está voltando". www.ericdiscos.com.br
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Fatiado Discos
Depois de garimpar discos nas turnês de sua banda (Rock Rocket), o baterista Alan Feres resolveu criar seu canto próprio para os vinis. Há pouco mais de três meses, ele e o amigo Mario Rossi inauguraram o espaço com clima de garagem. Localizada numa rua residencial, a loja tem preciosidades como "Pin Ups" (R$ 50), de David Bowie. Além dos discos nacionais e importados, estão à venda algumas vitrolas portáteis (de R$ 350 a R$ 450). Na página da loja no Facebook, é possível acompanhar a chegada de novos lotes e saber sobre os eventos nas tardes de sábado.
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Crédito: Letícia Moreira/Folhapress
Cliente observa disco de Rita Lee na loja Locomotiva Discos (centro de São Paulo); Guia seleciona roteiro sobre discos de vinil

Locomotiva Discos
Os irmãos Márcio e Gilberto Custódio abriram a loja em janeiro de 2011 e queriam fugir do estereótipo de "sebo velho". O item mais procurado hoje é o do rapper e cantor Criolo. "Além de o som ser mais encorpado, o disco é mais charmoso e faz você dar um valor maior à música", diz Márcio, que, no entanto, não hesita em usar outras mídias: "Obviamente não dá para escutar vinil no carro ou na rua". A onda retrô lhe rendeu frutos mais valiosos que o comércio. Na loja, ele conheceu a namorada, que o impressionou por ter apenas discos raríssimos. Agora, eles colecionam juntos. www.locomotivadiscos.com.
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Mr. Groove Records
A "disco music" tem sua embaixada no centro: a Mr. Groove, de Osvaldo Oliveira Júnior, 45, em ação desde 1984. A loja vende também CDs, DVDs e equipamentos para DJs, mas o vinil é a vedete. "Tornou-se inviável para muitos porque ocupa espaço, mas a qualidade é indiscutível", diz Júnior, aficionado em "singles" de 12 polegadas. Ao telefone, ele embrulhava seu item mais valioso -um remix raro de Michael Jackson feito por um DJ brasileiro-, vendido para comprador na China por US$ 1.100 (cerca de R$ 2.180). www.mrgroove.com.br.
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Sebo do Disco
"Existe uma relação de sentimento. Pegar, cheirar, olhar o encarte. Difícil explicar", diz o dono Marcelo Paixão, 50. São 30 mil discos na loja, desde 1991 no Boulevard do Centro, também conhecido por Galeria do Vinil. Produtor musical e DJ, ele é mais um a mencionar Michael Jackson entre as preciosidades do acervo: um teste de prensagem do álbum "Dangerous" (1991) que traz, no conteúdo, canções do pianista francês Richard Clayderman. "Esse tipo de maluquice torna o item único." "www.sebododisco.com.br]":http://www.sebododisco.com.br
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Sebo Jovem Guarda
O destaque, aqui, é a gigantesca quantidade: são cerca de 700 mil álbuns em dois enormes galpões. O material foi reunido a partir de 2003, quando Manoel Jorge Dias, 57, começou sua coleção atraído principalmente pelas embalagens. "As capas possuem fotos e artes muito bonitas e um grande volume de conteúdo", diz. Há discos de 10 a 78 rotações de diversas décadas, artistas e países. Álbuns do início da carreira de Roberto Carlos são algumas das raridades, que chegam a custar R$ 8.000, mas há LPs a partir de R$ 10. O espaço também comercializa vitrolas, a partir de R$ 150. Como os ambientes passam por readequações, ligue para Thelma (97652-9826) antes de visitar o espaço.

R. da Mooca, 2.631 e 3.401, Mooca, zona leste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/97652-9826. Seg. a sáb.: 10h às 18h. Livre. GRÁTIS

The Records
Com fachada coberta de flyers e pôsteres, a loja entrega rápido sua vocação: reunir os catálogos punk e hardcore. Há dois anos e meio com mais dois sócios, Giuliano Belloni, 33, atribui a predileção a "um conjunto de coisas, da parte gráfica à qualidade do som". Foi nesse formato que ele aprendeu a ouvir música. Seu novo público, porém, nasceu quando o vinil já fora dado como morto. "Dá pra notar que tem mais público e bastante gente nova, de 15, 16 anos." Seu disco mais valioso (não necessariamente o mais caro) é a coletânea "Sub", de 1983, marco da discografia punk nacional com produções incipientes de nomes como Ratos de Porão e Cólera.
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Tony Hits
A vitrola fica o tempo inteiro dando as pistas da vocação na loja de Antonio Boaventura Vieira de Moura, 59, o Tony: samba, samba-rock, MPB e o soul negro nacional dos anos 1970 são a maioria por ali. Veterano de bailes e festas na cidade, Tony é mais um apaixonado pelo vinil. Depois de três décadas no setor de construção civil, ele se dedica há 15 anos à venda de discos, que, diz, cresceu bastante em seu comércio nos últimos tempos. "O jovem a partir de 16 anos é o grande responsável por aquecer esse mercado. Viveu sua vida toda com CD e MP3 e agora quer ouvir música com apreço." Ele alerta, porém, para as dificuldades de transitar em um meio de poucas referências de capital: "Tem uns loucos que vendem por R$ 300 o que eu cobro R$ 30".
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Ventania Discos
Alcides Neto, 19, é filho do dono da loja, Alcides Campos Filho, 55, e prefere ouvir vinil. Ele não se vê sozinho nessa: "Nos últimos três anos houve uma melhora. Cada vez mais há jovens que dizem que compraram uma vitrola e estão começando a colecionar". A loja existe desde 1985 e abraça todos os gêneros nos 100 mil discos do catálogo. O lado ruim do aquecimento, ele diz, é que os colecionadores retêm suas joias. "Fica mais difícil encontrar raridades clássicas, como o primeiro do Roberto Carlos, 'Paêbirú', do Zé Ramalho e do Lula Cortês, e 'Tim Maia Racional Vol. 1'." Os discos vão de R$ 5 a R$ 300.
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Zoyd Discos
Com mais de 3.500 discos de vinil, a loja foca o rock e o pop rock dos anos 1980 e 90, mas não exclui as mídias digitais, que aparecem com força. "Minha ligação com o vinil é só a raridade. Para ouvir, prefiro CD", diz Ivan Panigalli, 42, um dos donos, instalado na galeria há mais de 20 anos. Ele celebra um aumento na procura do público, mas lamenta a proliferação de "'zé manés' montando lojas, atravessando o mercado com feirinhas e confundindo os clientes". www.ventania.com.br
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