Nome importante da fotografia lituana inaugura mostra; leia entrevista

Afastado do formalismo soviético vigente em sua juventude, o fotógrafo Antanas Sutkus optou por voltar suas lentes à simplicidade da vida dos moradores de Vilna, capital da Lituânia.

Parte de sua rica produção, compreendida entre as décadas de 1950 e 1980, será exibida na Caixa Cultural Sé (centro de São Paulo) a partir de sábado (dia 2). Aos 73 anos, o fotógrafo participa de videoconferência durante a abertura. A entrada é gratuita.

Entre as 120 fotos expostas, devem impressionar os retratos das crianças nas paisagens urbanas.

Leia abaixo a entrevista com o fotógrafo:



"Guia" - Quais eram suas principais influlências quando o sr. começou a fotografar?
Antanas Sutkus - Comprei "The Family of Man", de Edward Steichens, muito cedo. A exposição que vi de Paul Strand em uma das minhas primeiras viagens internacionais também me causou grande impressão. Apesar disso, a fotografia não tem uma influência maior no meu estilo. Meus primeiros professores foram escritores como Sartre, Camus, Kafka, Kerouac, Faulkner, Sallinger, Kobo Abe e Dostoiévski. A tuberculose contribuiu bastante para minha educação; pude ler 16 horas por dia no hospital. O cinema também me influenciou com diretores como Bergman, Antonioni e Buñuel.

Quais são as principais características de seu trabalho que o mantiveram afastado do formalismo soviético?
Eu era livre para fotografar o que quisesse. Minha fotografia "Pioneiro" (1964) foi premiada na Itália e publicada em uma revista soviética. Alguns amigos de Moscou tiveram que me defender e explicar que "Pioneiro" não era uma foto ameaçadora à sociedade. Consegui não sucumbir à influência ideologica. Além disso, a situação política na Lituânia era mais leal em comparação a outras repúblicas da União Soviética, uma das razões pelas quais pude trabalhar mais livre.

Qual é o aspecto mais especial do povo da Lituânia que você tentou capturar em suas fotos?
Minhas melhores fotografias foram feitas de transeuntes nas ruas da cidade ou do interior. Um encontro instantâneo pode ser muito revelador. Sempre confiei em minha intuição e trabalhei espontaneamente. Meu credo é amar as pessoas. Sou um fotógrafo autodidata. Tinha a câmera comigo e fotografar se transformou no meu modo de viver os anos de juventude. O homem sempre foi o centro das minhas fotografias, soube desde o início que isso era importante para mim. Chamei minhas séries de Povo da Lituânia por toda a vida. Não eram retratos de tipos, mas situações contextualizadas onde os olhos dos meus heróis falavam. Acredito que essas imagens são imunes ao tempo porque elas não se relacionam com nenhuma situação histórica. A existência é minha principal preocupação.

O sr. pode falar mais sobre a Photography Art Society, fundada em 1969?
Aquela década foi um período de florescimento artístico. Estou falando de fotógrafos talentosos, como Vitas Luckus, Aleksandras Macijauskas e Romualdas Rakauskas, entre outros. A fotografia precisava de uma casa e isso foi uma das razões de estabelecermos o grupo. A sociedade foi a primeira organização de fotógrafos na União Soviética. A permissão para estabelecer uma instituição que não tinha análogia em Moscou foi uma enorme conquista para os fotógrafos lituanos, recebíamos suporte de toda a intelligentsia. Nossa sociedade tem uma das mais ricas bibliotecas de fotografia, que é constantemente reabastecida por Jonas Dovydenas, fotógrafo lituano que vive nos Estados Unidos. Ele dizia que o estabelecimento da sociedade eram um típico exemplo do capitalismo: fazíamos coisas que ninguém havia feito antes e descobrimos todo um novo mercado.

Como o sr. vê a fotografia contemporânea? Quais são os fotógrafos que admira hoje em dia?
Ainda estou mais interessado na fotografia clássica do homem e de sua personalidade. A fotografia contemporânea está mudando e depende de uma chamada "moda". Esse tipo de fotografia é mais um modo de comunicação entre as pessoas, mas não toca meu coração. Sou fiel ao tema da existência humana. Eu valorizo o inglês Martin Parr, Boris Michailov, da Ucrânia, o lituano Arunas Baltenas e o brasileiro Sebastião Salgado. A fotografia do homem é a fotografia mais contemporânea para mim.

Como é o seu dia a dia? Quais são seus planos futuros?
Eu fotografei por cinquenta anos e agora parei porque o meio social mudou, não posso mais encontrar meu herói. Dedico meu tempo aos arquivos. Meu maior desejo é encontrar tempo para a vida diária. Gostaria de largar todos os trabalhos irrelevantes, atividades e coisas e me recobrar para viver um pouco mais. Quero apenas olhar a neve caindo pela janela ou as flores florescendo no jardim de minha esposa.

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