Há seis meses, quando a pandemia aterrissou no país, o artista Bruno Ribeiro resolveu aproveitar os museus fechados e as ruas vazias para fazer a sua primeira exposição.
Morador de um prédio no entorno da praça Rotary, na região central de São Paulo, ele viu que o espaço público estava fechado durante a quarentena e resolveu transformar as grades do lugar em galeria de arte —o Sesc Consolação já exibia mandalas coloridas ali.
Sem pedir permissão, começou a montar a mostra batizada de “Rave Infinita”. “Fiz a minha estreia para ninguém. Agora que as pessoas estão voltando para as ruas, estou recebendo algum feedback”, conta enquanto faz uma espécie de visita pela mostra com o Guia.
“Minha casa é meu ateliê. De repente, me vi soterrado por obras”, diz o artista de 35 anos, que mora em São Paulo há uma década.
Nascido em Florianópolis, ele nunca havia exposto sua produção. Em 2017, em meio à polêmica em torno do “Queermuseu” —mostra de temática LGBT que foi cancelada em Porto Alegre após ataques de conservadores—, ele resolveu mandar emails para mais de 50 museus e galerias.
Julgava que seu trabalho dialogava com aquele universo, mas só sete instituições responderam. “E só uma resposta foi positiva, mas não deu certo”, conta.
As obras expostas na praça paulistana são coloridas, flertam com o pop e são produzidas com o que ele define como “técnicas de tia”, que lembram o artesanato, com doses de sarcasmo e acidez. “Gosto de ser agressivo, mas um agressivo colorido, que parece fofo.”
Um dos trabalhos mais antigos traz franjas metálicas coloridas dispostas para simular os pixels de uma imagem. “São as bailarinas do Faustão. Eu capto as expressões delas e depois transformo em pixels”, conta. A intervenção fica ao lado do ponto de táxi.
Mas as primeiras obras foram roubadas. “O Ceará [dono do boteco em frente à praça] viu quem foi. Estão todas na casa da mesma pessoa”, diz. Depois disso, Ribeiro começou a colocar cadeados no que expõe.
Além das bailarinas, há também personagens de desenhos animados e videogames feitos com pastilha de vidro, como se fossem mosaicos. Uma foto da Regina Duarte foi impressa em papel na expectativa de que a imagem exposta ao ar livre ganhasse um efeito derretido com a chuva.
E há frases, muitas. Numa delas, ele pintou uma mensagem que recebeu do pai, dizendo “esse lixo que tu chama de arte”. Em outra, tira sarro do estilo da moda. “Eu sabia que você gostava de arte cafona.”
No muro da praça está também sua assinatura, com letras emprestadas do pixo, mas feitas com isopor: Tecnobruno. “Mas vem de tecnobrega, não tem nada a ver com a noite”, conta.
“Queria ser rock star, mas não sei tocar nada. Mas, quando vi que a Rolling Stone elegeu Julian Assange como o rock star de 2010, percebi que não precisava.”
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