A suspensão mística das peças cinéticas de Abraham Palatnik e a agitação pueril das obras de Mestre Molina foram unidas no térreo do Sesc Avenida Paulista, em uma exposição que cria um diálogo claro entre os trabalhos e joga luz sobre o movimento dessas obras —mas, a partir daí, são variadas as sensações que se desdobram.
"Oficina Molina-Palatnik" exibe sete obras de Mestre Molina, artista pernambucano que morreu em 1998 e ficou conhecido por sua inventividade típica de criadores de brinquedos, e cinco trabalhos de Abraham Palatnik, que morreu vítima da Covid-19 no ano passado, aos 92 anos de idade. Todas integram o acervo Sesc de Arte e são caracterizadas por seus movimentos.
É Molina quem tem maior destaque na exposição, e não só por ter mais peças, mas principalmente por "A Vida de Cristo" —uma obra de 7,5 metros que fica ao fundo do espaço expositivo e que representa vários momentos, como o nome sugere, da vida de Cristo.
As traquinagens visuais de Molina são ligadas de tempos em tempos —é possível ver a contagem regressiva para o começo da movimentação num pequeno relógio, abaixo das mesas que sustentam as peças— e alternam entre si.
Enquanto o "Palácio dos Fantasmas" desliga, se escuta, por exemplo, o carrossel e a roda gigante do "Parque de Diversões" começando a girar, ou os pequenos bonecos quebrando a madeira na "Marcenaria Natal".
O alvoroço desses objetos de Molina ligados, com o tilintar de latas, madeira e borrachas, envolve também as peças de Palatnik, que se movem lentamente e em silêncio dentro das caixas de vidro.
São trabalhos como os "Objetos Cinéticos", feitos com esferas coloridas em hastes de metal, numa estrutura acionada por por motores ou por eletroímãs —e o fluxo moroso dos globos remetem a planetas em órbita.
A equipe também criou uma plataforma online para acompanhar a mostra, acessível pela leitura dos códigos QR dispostos ao longo do espaço, que sugere um percursso educativo com áudios e perguntas para guiar a percepção das obras.
Numa das peças de Palatnik, por exemplo, a proposta é ouvir três sons diferentes enquanto se acompanha o movimento das esferas. Outras sugerem ainda escutar áudios curtos dos próprios artistas falando sobre seu processo de criação enquanto se mira suas crias.
O movimento faz as obras lembrarem muitas vezes brinquedos e tornam o passeio uma atividade possível para fazer com crianças presas em casa ou na proximidade das férias escolares.
A mostra fica em cartaz até agosto e é preciso agendar a visita com antecedência para respeitar os protocolos de segurança da pandemia. E lembre-se: se sair de casa, use máscara.
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