Exposição 'Space Adventure' tem peças usadas na Lua e comida enlatada de astronauta

Com botas que já pisaram em solo lunar, mostra abre as portas em SP nesta quinta (26)

Peri Pane
São Paulo

Em 2010, tive a oportunidade de visitar o National Air and Space Museum, em Washington, nos Estados Unidos. Ainda é vívida a sensação de ver de pertinho a cápsula Mercury Friendship 7, com seus parafusos aparentes e placas oxidadas pelo tempo.

Foi difícil acreditar que um dia alguém teve coragem de se espremer ali para alcançar a órbita da Terra e dar uma volta completa no planeta em 1962 —meses depois de o cosmonauta russo Iuri Gagárin realizar o primeiro voo espacial, em 1961, dando a dianteira para a União Soviética na corrida espacial em meio à Guerra Fria. Aos meus olhos, a cápsula usada pelo astronauta americano John Glenn mais parecia uma gigante máquina de lavar.

Dali a alguns anos, Neil Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin seriam os primeiros seres humanos a pisar na Lua. A roupa usada por Buzz Aldrin na missão Apollo 11, em 1969, é uma das mais de 300 peças do acervo da Nasa que estão na exposição “Space Adventure”, que tem início nesta quinta, dia 26, em uma tenda de 2.600 metros quadrados no estacionamento do shopping Eldorado —as visitas serão organizadas em grupos de 30 pessoas.

Além de objetos originais, reunidos em uma parceria com o Museu e Centro de Educação Espacial Cosmophere, nos Estados Unidos, a mostra também conta com 20 réplicas, algumas em tamanho real, como a do módulo lunar Eagle, com sete metros de altura, e a do módulo de comando Columbia, que trouxe de volta à Terra os três astronautas da Apollo 11: Armstrong, Buzz e Michael Collins —que foi, mas não pisou na Lua.

A exposição vem sendo gestada há nove anos por Rafael Reisman, que também idealizou a mostra “The Elvis Experience”, sobre o cantor Elvis Presley, que ficou em cartaz em 2012. “Essa é a primeira e maior exposição do mundo dedicada ao programa Apollo”, afirma Reisman, diretor da Blast Entertainment.

Uma pequena bandeira dos Estados Unidos que o astronauta Charles Duke levou no bolso quando pisou na Lua na missão Apollo 16, em 1972, é uma das peças favoritas de Reisman que estão expostas. Prestes a completar 86 anos, Duke é um dos três homens ainda vivos que pisaram na Lua. Nesta quinta, dia 26, a partir das 15h, o astronauta participa do seminário “Por Que Ir ao Espaço?”, transmitido no site da Folha.

As botas usadas por Duke em suas caminhadas pela Lua também podem ser vistas —é espantoso ver a poeira lunar ainda impregnada nos calçados do astronauta. Uma parte puída no braço direito da roupa do astronauta Buzz Aldrin (que, sim, inspirou o personagem Buzz Lightyear, da animação “Toy Story”) também causa assombro.

A mostra apresenta as viagens do projeto Apollo em seus mínimos detalhes, como o sistema de aquecimento e resfriamento interno das roupas, as comidas em lata ou desidratadas usadas pelos astronautas —de chicletes a macarrão com queijo e barras de bacon— e até mesmo os esquemas para fazer as necessidades no espaço, com direito a pastilhas bactericidas para as fezes.

Reisman também destaca a coleção de câmeras de filmar e fotografar usadas pelos astronautas. Ao lado das máquinas, numa mesa de luz, está disposta uma série de slides com todas aquelas famosas fotos do século passado: a pegada da bota no solo da Lua, o astronauta ao lado da bandeira e as tais fotografias em que a Terra aparece coberta de nuvens (hoje de detritos espaciais, talvez?) para que não restem dúvidas sobre a redondeza do planeta.

Além das relíquias e das réplicas, a exposição tem salas interativas que devem fazer sucesso entre as crianças. Numa delas, o lançamento de um foguete é projetado em uma tela de 360 graus. O chão treme quando a propulsão é acionada. Em outra, há a exibição de uma aventura lunar em 3D. As poltronas se mexem durante a sessão. Há ainda um espaço que simula uma sala de comando com uma mesa de controle original, assim como o relógio usado em contagens regressivas.

Imagem da exposição 'Space Adventure'
Imagem da exposição 'Space Adventure' - Divulgação

Grandes painéis destacam trechos importantes da história dos programas da Nasa. O mais contundente deles lembra as cientistas negras Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson —suas histórias foram recentemente retratadas no filme “Estrelas Além do Tempo”, de Theodore Melfi. Elas tiveram de lutar contra a segregação racial e o machismo estrutural para simplesmente conseguir trabalhar. Sem o trabalho delas —e o de outras mulheres, como Kitty O’Brien Joyner, Pearl Young e Margaret Hamilton—, homem algum teria pisado na Lua.

O novo programa da Nasa, não à toa batizado com o nome de uma deusa, Artemis, pretende levar a primeira mulher à Lua em 2024. Os próximos projetos são tema de uma exposição complementar: “Futuro Espacial”, em exibição no Farol Santander até o dia 5 de dezembro, incluindo a corrida até Marte, em uma nova disputa geopolítica para a exploração espacial —com os múltiplos sentidos que cabem ao verbo explorar.

“Marte não é o melhor lugar para criar os seus filhos”, lembra Elton John em sua canção “Rocket Man”, de 1972, parceria com Bernie Taupin, no vídeo exibido no início da exposição “Space Adventure”, com cenas das missões Apollo.

Enquanto isso, uma placa deixada no solo lunar em 1969 insiste em avisar: “Aqui homens do planeta Terra pela primeira vez colocaram os pés na Lua. Viemos em paz por toda a humanidade". Uma paz ainda improvável entre os terráqueos.

Space Adventure

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