Saiba onde ver arte indígena contemporânea em São Paulo

Obras têm protagonismo na Bienal, que homenageia Jaider Esbell nesta quinta (2)

Duas esculturas de cobras infláveis boiam sobre lagoa no parque Ibirapuera

Escultura inflável do artista Jaider Esbell que integra a Bienal de São Paulo Danilo Verpa/Folhapress

São Paulo

"As instituições vão entender que a gente vem para ficar, e que não somos um modismo."​ Essa foi a avaliação do artista e curador Jaider Esbell, morto recentemente aos 41 anos, sobre a chegada da arte indígena ao grande circuito nos últimos anos. E se depender dos eventos recentes, ele estava certo.

Uma série de trabalhos de Esbell e de outras dezenas de artistas de territórios diferentes do país pode ser vista em instituições culturais da capital paulista e em programações virtuais. A 34ª edição da Bienal de São Paulo, principal evento de arte do país, tem protagonismo inédito de povos originários, com nove nomes entre os 91 que compõem a exposição, por exemplo.

Além disso, na reta final da programação da mostra —que termina no domingo (5)—, artistas indígenas se reúnem para retomar um projeto idealizado por Esbell e que começou ainda em outubro, o ciclo de programas "Bienal dos Índios", com atividades marcadas para esta quinta (2).

"A gente chega não sendo mais imaginado, mas como um corpo presente mesmo, com consciência, produção, trajetória, história, e com essa essencialidade que é o protagonismo", disse Esbell sobre a Bienal à Folha.

Além da estarem no evento e outras mostras temporárias na capital paulista, obras de artistas indígenas contemporâneos também foram incorporadas nos últimos anos a acervos de instituições de peso, como o Masp e a Pinacoteca.

Esbell foi uma figura central na costura dessa rede, inclusive como curador da mostra paralela à Bienal "Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea" no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, que exibiu a produção de mais de trinta desses nomes até o último domingo (28).

O artista makuxi dizia que seu trabalho era dirigido pelo neologismo "artivismo". "O termo nada mais é do que fazer essa agitação, essa política e comunicação cada vez mais definidas dentro do argumento artístico. É essa necessidade. Entendemos a arte como uma ferramenta politica", definiu.​

A seguir, veja cinco endereços para conhecer as obras de Jaider Esbell e de outros artistas indígenas contemporâneos, como Daiara Tukano, Gustavo Caboco, Sueli Maxakali, e as cosmologias diversas que atravessam os trabalhos.

34ª Bienal de São Paulo - Faz Escuro Mas Eu Canto
Nesta, que é a Bienal de São Paulo com o maior protagonismo indígena, as cosmologias de povos originários também aparecem como elemento fundamental para discutir outras possibilidades de existência em meio às crises atuais, uma das principais tônicas da edição.

Além das obras dentro do Pavilhão, de artistas de Daiara Tukano, Gustavo Caboco e Sueli Maxakali, há uma escultura de cobras de Jaider Esbell, "Entidades", no lago em frente ao Monumento à Bandeira, que valem ser vistas à noite, quando ficam iluminadas.

A instituição também retoma na última semana de Bienal o ciclo de programas Bienal dos Índios, feita em parceria com o MAM de São Paulo e a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, que foi suspensa em respeito ao luto dos participantes com a morte do artista que batiza a instituição.

Nesta quinta-feira (2), no Pavilhão da Bienal, Daiara Tukano convida Cristine Takuá, Carlos Papa, Denilson Baniwa e Bú'ú Kenedy para ativar a obra "Dabucuri no Céu", às 17h, e Gustavo Caboco faz uma performance que resgata sua trajetória como artista e seus diálogos com Esbell, às 19h.

Já às 19h30, o edifício recebe a apresentação Xondora Kuery Kaguy Ijá, os Guerreiros Guardiões da Floresta, formado por guerreiros guaranis mbya da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo.

​Pavilhão da Bienal, parque Ibirapuera, portão 3 - Ter., qua., sex. e dom., de 10h às 19h. Qui. e sáb., de 10h às 21h. Até 5/12. Grátis


Acervo da Pinacoteca
Em 2020, o museu paulistano apresentou "Véxoa", mostra que destacou a arte indígena —e agora também tem obras de artistas de povos originários no acervo. É o caso de "Feitiço para Salvar a Raposa", de Esbell, e de quatro obras de Denilson Baniwa. Todas elas estão cobertas com um pano preto como forma de demonstrar o luto pela morte de Esbell. Uma obra inédita de Baniwa também integra a exposição "Ninguém Teria Acreditado: Alvim Corrêa e Dez Artistas Contemporâneos", que abre neste sábado (4).
Praça da Luz, 2, Luz, região central. Qua. a seg., das 10h às 18h. Ingr.: R$ 10 a R$ 20. Grátis aos sábados


Masp
"Natureza Morta 1", de Denilson Baniwa, faz parte do "Acervo em Transformação" da instituição —e também está coberta por tempo indeterminado. Já a exposição com as doações mais recentes da instituição, apenas com obras de artistas mulheres que chegaram ao acervo entre 2020 e 2021, inclui trabalhos da artista makuxi Carmézia Emiliano e de Duhigó Tukano.

'Nepu Arquepu', obra da artista Duhigó Tukano, de São Gabriel da Cachoeira, que faz parte do acervo do Masp
'Nepu Arquepu', obra da artista Duhigó Tukano, de São Gabriel da Cachoeira, que faz parte do acervo do Masp - Edson Kumasaka/Divulgação

Até dia 30 de janeiro, a instituição também realiza a mostra "Conceição dos Bugres: Tudo É da Natureza do Mundo", com obras da artista do Mato Grosso do Sul conhecida pela produção de seus bugres, esculturas com poucos cortes precisos e geométricos. A exposição debate a herança kaingang das obras de Conceição Freitas da Silva, que se referia a figuras de povos originários quando descrevia suas peças. Apesar de não se afirmar indígena em entrevistas, o próprio termo "bugre", que foi dado a ela, indica a ligação —ele se refere ao indígena tido como "indomável", "não domesticável". Ou seja, um sujeito rude.

Av. Paulista, 1.578, Bela Vista, região central. Ter: 10h às 20h. Qua. a dom.: 10h às 18h. Ingr.: a partir de R$ 25, com agendamento pelo link masp.org.br/ingressos. Grátis às terças


'Por Um Sopro de Fúria e Esperança', no MuBE
Parece inviável debater a emergência da crise do clima, tema central dessa mostra, sem convocar cosmologias de povos das florestas para pensar o fim do mundo. Por isso, obras de Aislan Pankararu, Feliciano Lana, Márcia Mura, Denilson Baniwa e Richard Wera Mirim estão na exposição do Museu Brasileiro de Escultura e da Ecologia, o MuBE, que atenta para a destruição do meio ambiente.

O espaço também apresenta logo na entrada do prédio registros sonoros de corais de aldeias guaranis localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro.
R. Alemanha, 221, Jardim Europa, região oeste. Qua. a dom.: 11h às 17. Até 30/1/22. Grátis, com agendamento pelo site mube.space

Obra coberta com pano preto
Obra no Museu Brasileiro de Escultura e da Ecologia, o MuBE, coberto em homenagem ao artista Jaider Esbell, morto aos 41 anos em 2021 - Carolina Moraes/Folhapress

TePI - Teatro e Os Povos Indígenas
Entrou no ar no último dia 26 a plataforma TePI - Teatro e Os Povos Indígenas, com programação gratuita de peças, performances e debates com artistas e intelectuais para debater o tema. O projeto é idealizado pelo escritor Ailton Krenak e a diretora artística Andreia Duarte. Os artistas Paula Conzalez, do Chile, Denilson Baniwa e Zahy Guajajara são alguns dos nomes envolvidos na programação.
Em tepi.digital e no canal do YouTube SescSantos

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