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'Patagotitan', exposição com maior dinossauro do mundo, é melhor do que videogame

É muito difícil não ficar com as pernas bambas diante das dimensões do gigante montado em SP

DINOSSAUROS: PATAGOTITAN - O MAIOR DO MUNDO

Os avanços da tecnologia audiovisual deixaram o público de hoje tremendamente mal acostumado no que diz respeito às reconstruções da Era dos Dinossauros. Alguém que vê as correrias de "Jurassic World" ano sim, ano não numa TV de tela grande ainda seria capaz de se impressionar com um mero esqueleto de dino? Ao menos no caso do monstro argentino Patagotitan, em exposição agora no parque Ibirapuera, a resposta é um indiscutível sim.

Dinossauro da mostra no Ibirapuera
Réplica do Patagotitan na mostra do Ibirapuera - Caio Gallucci/Divulgação

É muito difícil não ficar com as pernas ao menos um pouquinho bambas diante das dimensões do gigante. A experiência de assistir a filmes de ficção científica ou documentários, por mais bem produzidos que sejam, simplesmente não se compara a chegar perto –e se postar embaixo– da reconstrução de um animal cujo fêmur tem, por si só, a altura de uma pessoa.

Aliás, também dá para comprovar isso deitando do lado do fêmur fossilizado verdadeiro, trazido da Patagônia para a mostra. Perto dos 40 metros de comprimento do herbívoro pescoçudo de 100 milhões de anos, qualquer ser humano fica minúsculo.

O gigantismo do astro principal, no entanto, está longe de ser a única virtude da exposição "Dinossauros: Patagotitan – O Maior do Mundo", que pode ser vista no Pavilhão das Culturas Brasileiras do parque. A estrutura da mostra aposta na simplicidade e é elegantemente funcional.

Excetuando-se uma única concessão cinematográfica, um curto e competente documentário sobre a pesquisa de campo na Patagônia, produzido pelo Museu Paleontológico Egidio Feruglio, lar de boa parte dos fósseis da mostra, o foco está no contato com os esqueletos e reconstruções propriamente ditos. Algumas das réplicas de partes-chave da anatomia dos dinos, diferenciadas com a cor azul, podem ser tocadas pelos visitantes.

Essa abordagem sem firulas funciona bem, em parte, porque é possível contar uma fatia muito significativa da história evolutiva dos dinossauros, que vai de 230 milhões de anos a 66 milhões de anos atrás, usando apenas fósseis argentinos e brasileiros –por enquanto, bem mais os do lado de lá da fronteira, graças à facilidade de achar os antigos esqueletos nas rochas mais desnudas e no clima patagônico.

A saga começa com a espécie gaúcha Buriolestes schultzi, animal não muito maior que um gato doméstico e carnívoro como os bichanos de hoje, mas que está nas origens do grupo dos pescoçudos herbívoros e descomunais como o Patagotitan. Tudo indica que essas modestas espécies sul-americanas serviram como um laboratório relativamente isolado para a evolução do grupo, já que se diversificaram num ambiente de clima temperado e vegetação farta, enquanto as regiões tropicais do planeta tinham se transformado num grande deserto.

A trajetória dos grandes carnívoros sul-americanos também está documentada, com alguns dos exemplos mais famosos da fauna argentina do período Cretáceo, entre 145 milhões de anos e 66 milhões de anos atrás, que tinham parentes próximos em território brasileiro. É o caso do Tyrannotitan chubutensis, que alcançava 12 metros, rivalizando com seu quase xará Tyrannosaurus rex, e o chifrudo Carnotaurus, cuja cabeçorra foi reconstruída com a aparência que teria em vida.

A diversidade de formas, tamanhos e estilos de vida, explicada com bons textos de apoio, é o suficiente para mostrar como os dinossauros, mais do que monstros genéricos de ficção científica, eram o que os mamíferos terrestres são hoje: os vertebrados mais importantes de seus ecossistemas, tão diferentes entre si quanto um chimpanzé difere de um elefante ou de um tatu.

Uma última dica para o visitante: não deixe de usar o tambor para simular o hercúleo batimento cardíaco do Patagotitan. É melhor do que qualquer videogame.

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