Atrizes que reviveram Elis falam sobre o musical, que sai de cartaz no domingo

Elas receberam uma missão de peso: trazer de volta aos palcos a cantora mais famosa do Brasil. Mas o tamanho e simbologia da personagem não as fez hesitar. Após quatro meses em cartaz no Rio de Janeiro e mais quatro em São Paulo, Laila Garin e Lílian Menezes —as atrizes que interpretam Elis Regina em "Elis, a Musical"— podem dizer que estão com sua missão cumprida.

O musical reuniu 80 mil espectadores no Rio e mais de 100 mil na capital paulista. Não raro, levou o público às lágrimas e comoveu com sua intensidade e interpretação bem alinhada de músicas que ficaram famosas na voz da cantora, como "Arrastão" e "O Bêbado e o Equilibrista".

"Estava com uma expectativa grande sobre São Paulo, afinal, é a cidade que Elis escolheu para viver", revela Laila, que ganhou o prêmio Shell de melhor atriz por conta de sua atuação no musical. "Mas tivemos uma reposta calorosa do público".

"Elis, a Musical" sai de cartaz neste domingo (27) com todos os ingressos esgotados. Abaixo, confira as entrevistas com as atrizes:



ENTREVISTA COM LAILA GARIN

"Guia" - O musical chega à reta final em São Paulo com mais de 100 mil espectadores. Que balanço você faz dessa temporada?
Laila - São Paulo é a cidade que Elis escolheu para viver, tem muitos admiradores dela aqui. Então, receber o aval dessas pessoas que são loucas por Elis é muito importante; queríamos fazer uma homenagem. A casa estava lotada sempre e muitos grupos vieram do interior para assistir. Foi muito emocionante! A gente sai daqui com gás para se apresentar até o final do ano.

Como foi o processo de construir a personagem em cima de uma pessoa tão emblemática?
A primeira coisa que fiz foi não fazer concessão. Só faria alguns gestos que lembrassem Elis se eles realmente nascessem de mim, se eles viessem com alguma verdade. O Dennis [Carvalho] nunca quis que eu fizesse uma imitação, e este foi o critério —eu pude recriar. As pessoas não têm saudades dos gestos e trejeitos da Elis. Elas têm saudades do que sentiam quando ouviam Elis. E para elas sentirem alguma coisa agora, no presente, eu precisava fazer uma interpretação viva.

A que você atribui o sucesso de 'Elis, a Musical'?
O teatro, como toda obra artística, tem um mistério. No caso de Elis, vejo um caminho que foi bom: eu sou atriz de teatro, o Dennis Carvalho é diretor de novelas, o Nelson Motta [roteiro] é jornalista... Estamos em um tempo de internet em que tudo é misturado. E a história de Elis mexe com as pessoas. E acho que o musical fala de pessoas, tem essa coisa visceral.


ENTREVISTA COM LÍLIAN MENEZES

"Guia" - Qual era sua expetativa para a turnê em São Paulo?
Lílian - Eu imaginava que teria um bom retorno. Elis morou aqui; muita gente que viu Elis ao vivo veio para assistir, e isso me deixava um pouco apreensiva. O público de São Paulo tem critérios diferentes de avaliação. É mais crítico, mais "cult", vai ao teatro para se divertir e também para analisar. Mas fomos tão ovacionados! Alguns atos específicos tiveram uma recepção diferente no Rio e em São Paulo. Foi uma surpresa, uma satisfação grande.

Você acredita que a Elis da Laila e a Elis da Lílian são diferentes?
Como eu era substituta, tinha que imitar a protagonista, então já tinha a referência. Mas a direção me deu liberdade para trabalhar a personagem. Hoje a minha Elis é diferente da Elis da Laila. É lógico que têm coisas de que nos apropriamos, como gestos e timbre de voz. Mas as personalidades que buscamos foram a grande diferença. A Elis da Laila tem uma força muito grande, é um ícone muito forte, intenso. Eu fui para outro caminho, o da mulher. Queria saber por que Elis era uma pessoa estourada, a "Pimentinha". Tentei buscar na vida dela as razões para ela ser daquela forma, e isso me trouxe esse lado carne e osso.

Qual a principal diferença dos musicais que chegam de fora e os musicais brasileiros?
Os musicais brasileiros são originais, são criados aqui. "Elis", por exemplo, tem o dedinho de cada um do elenco. Começamos do zero, vimos as coreografias sendo criadas, implementamos nele a nossa cultura. Musicais autorais são específicos do público brasileiro, que tem uma necessidade muito forte de reviver o ícone, de culturar. Já os musicais que vêm de fora são mais enlatados, existe esse tabu. Chegam prontos, é mais difícil criar.


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