Felipe Hirsch discute ofício teatral em novo espetáculo

Empreitada com o coletivo Ultralíricos estreia no Sesc Consolação nesta sexta (8)

São Paulo

Foi um processo e tanto até que "Fim", peça que o diretor Felipe Hirsch estreia nesta sexta (8) no Sesc Consolação com o coletivo Ultralíricos, chegasse ao seu formato atual.

O plano, a princípio, era construir o espetáculo a partir de improvisações do elenco, trabalhadas e retrabalhadas em diálogo com criações dos escritores André e Sérgio Sant'Anna.

Uma mulher com chapéu de freira evoca algo
Cena de "Fim", espetáculo dirigido por Felipe Hirsch - Elisa Mendes/Divulgação

Foi quando o dramaturgo argentino Rafael Spregelburd, com quem Hirsch havia colaborado em seu trabalho anterior, "Antes que a Definitiva Noite se Espalhe em Latino América", enviou ao diretor uma série de textos que havia escrito desde 2013.

"Milagrosamente, esse material tocava em todos os assuntos que estávamos investigando nos ensaios", relembra Hirsch, citando temas como arqueologia e memória do espaço. O conjunto tornou-se a nova base do espetáculo.

A peça se divide em quatro capítulos ou fins: das fronteiras, da arte, da nobreza e da história. No último, foram incluídos excertos produzidos nos dois meses de improvisações por André Sant'Anna e pelos Ultralíricos, coletivo fluido com que Hirsch trabalha desde "Puzzle" (2013).

Com isso, concretizou-se a vontade do diretor de desenvolver uma dramaturgia própria, elaborada em conjunto pela equipe.

"Falando do nosso ofício, da nossa condição enquanto artistas, sinto que estamos propondo a obra mais política que já fizemos", afirma.

Não que os trabalhos recentes de Hirsch tenham sido menos engajados. "Democracia", peça que o diretor encenou no ano passado no Chile e é parte da programação do MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) este mês, discute os ecos da ditadura chilena em uma adaptação livre de "Múltipla Escolha", de Alejandro Zambra. Em cena, cinco atores participam de um jogo sem sentido.

Já "Antes que a Definitiva Noite se Espalhe em Latino América", apresentada no Rio no início do ano e com previsão de chegada em São Paulo no segundo semestre, discute o avanço do conservadorismo a partir de textos de seis autores. Hirsch considera a montagem carioca, também assinada com os Ultralíricos, uma espécie de díptico de "Fim".

"Em 'Antes', já existia um interesse em falar sobre o isolamento e linchamento dos artistas nessa nova ordem (ou desordem) da sociedade brasileira atual. Agora, 'Fim' toca diretamente no assunto", diz.

Sesc Consolação - R. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000. 280 lugares. Qui. a sáb.: 21h. Dom.: 18h. Estreia sex. (8). Até 14/4. Ingr.: R$ 12 a R$ 40. Ingr. p/ sescsp.org.br.

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