Teatro B32 é inaugurado na Faria Lima com programação eclética e eventos gratuitos

Novo empreendimento também tem praça, restaurante e, em breve, bar no rooftop

Vemos músicos no palco, que é de madeira; uma câmera está apontada para eles e, ao fundo, a cortina preta que cobre a vidraça da fachada está levantada, permitindo ver a praça onde fica o teatro

Preparação para recital no interior do teatro B32 Marcelo Justo/Divulgação

São Paulo

O objetivo de Eiji Hayakawa ao conceber o projeto do teatro B32 não era criar um "grande gesto" arquitetônico. Sua intenção, conta, era trazer uma "externalidade positiva" para a cidade.

A expressão, que salta do campo da economia para a prancheta do arquiteto, diz respeito aos efeitos que uma decisão pode ter sobre aqueles que não a tomaram.

No caso, se traduz pela influência que o projeto pode ter no entorno, fazendo com que seja mais seguro e dinâmico.

Para isso acontecer, diz, não bastava o hardware da arquitetura; era preciso também o software, a programação que ative o espaço. O resultado é um edifício que abriga um mix de eventos corporativos e artísticos, com uma transparência incomum para um teatro, dada pela grande vidraça atrás do palco e voltada para a praça —que já recebe a parte gratuita da programação.

O teatro é um prédio envidraçado e está numa praça com chão azulado com desenhos brancos, em curva, e cadeiras soltas de madeira
Vista do teatro B32, na praça do empreendimento homônimo, na av. Faria Lima - Marcelo Justo/Divulgação

O primeiro evento ao ar livre do B32 foi o show "Beatles para Crianças", no dia 23/10. A Osesp se apresentou ali no dia 30 e volta no dia 20/11, com um programa que trará "As Quatro Estações op.8" de Vivaldi e "As Quatro Estações Portenhas" de Astor Piazzolla.

A programação tem o comando de Sandra Rodrigues, que foi gestora do Cultura Artística —concertos em parceria com o teatro estão previstos na seção musical do B32.

Nas artes cênicas, uma das atrações será, no ano que vem, um festival em comemoração do centenário de Maria Clara Machado, com peças como "Pluft, o Fantasminha".

A praça é o ponto nodal do complexo. É um espaço aberto ao público numa esquina valiosa da avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, escolha que fez com que Rafael Birmann, à frente da empreitada, fosse visto com desconfiança por seus pares.

Birmann é um grande interessado em urbanismo, mas não tanto pelo planejamento urbano feito no Brasil. Na opinião do incorporador, a cidade se faz edifício a edifício.

Isso justifica sua opção por ter um arquiteto diferente para cada ponto do complexo.

Hayakawa fez o teatro, sabendo que ele deveria guardar uma forte ligação com a praça. Esta, por sua vez, foi projeto do americano Thomas Balsley, criador do Riverside Park, em Nova York. A torre comercial teve concepção do também americano Chien Chung Pei, conhecido como Didi Pei, chefe do escritório fundado por seu pai, I.M. Pei, autor da pirâmide do Louvre.

Os três arquitetos participarão, na quarta (17), de um debate gratuito no teatro sobre a criação de espaços públicos pela iniciativa privada.

Rafael Birmann é um fã da jornalista e ativista urbana Jane Jacobs. Em "Morte e Vida de Grandes Cidades", livro com que ele já presenteou vários empreendedores, Jacobs defende uma cidade que tenha "olhos na rua" —ou seja, atividade em todas as horas do dia, trazendo segurança.

Pensando nesses olhos, o teatro terá um bar na cobertura; no térreo, já funciona o restaurante Dasian. Os eventos também ocuparão diferentes horários. A ideia é que o espaço da praça, com cadeiras soltas e fonte luminosa, seja usada por qualquer passante.

A torre ficou pronta em julho de 2020; o teatro, um ano mais tarde e representou um investimento de R$ 90 milhões, 50% a mais do que o previsto inicialmente.

Eiji Hayakawa diz que o "briefing inicial era bem claro; esse espaço precisaria ter flexibilidade". Ele se chamaria teatro, mas deveria abrigar palestras, exposições, até festas.

Por isso, a plateia se compõe de um sistema Gala, em que as cadeiras são recolhidas para debaixo do piso por um mecanismo de pistões. Também não poderia ser uma caixa escura —daí o vidro. O uso do material, notório mau isolante, ainda mais num lugar barulhento como a Faria Lima, foi um desafio técnico resolvido por José Augusto Nepomuceno, autor da acústica da Sala São Paulo.

O teatro é ainda equipado para transmissão online dos eventos. Sandra Rodrigues prevê que isso amplie o público, atingindo lugares como Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, a poucos quilômetros dali. "O conteúdo, uma vez que está pago, não tem por que não se replicar", diz ela.

Eiji Hayakawa conta ter feito mais de 90 estudos para a fachada do teatro. A ideia arrepiaria a maioria seus colegas na FAU-USP, onde se aprende que ela é decorrência do projeto. Ele não se acanha. Arquitetos como os suíços Herzog & de Meuron, diz, "tratam a fachada como uma pele".

A formação de Hayakawa se completou com um estágio no escritório de Tadao Ando, com quem mais tarde trabalhou por cinco anos. Entre os dois momentos no Japão, um período em Nova York, onde estudou desenho urbano e trabalhou no escritório EE&K.

De Ando, diz, aprendeu uma perspectiva autoral; dos americanos, o pragmatismo. No fim, importava que o conceito, a relação entre praça e teatro, fosse mantido. "Se a fachada mudou, isso é detalhe."

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais