Grace Gianoukas vive Dercy Gonçalves em peça que recupera legado da atriz

Solo 'Nasci pra Ser Dercy' estreia nesta sexta-feira no Teatro Itália Bandeirantes, em São Paulo

São Paulo

Figura imortalizada no imaginário popular, seja por sua importância histórica ou pela irreverência com a que tratou suas aparições na mídia ao longo de mais de 70 anos, Dercy Gonçalves foi uma atriz que pavimentou caminho próprio dentro do mercado das artes no Brasil.

Grace Gianoukas em cena em 'Nasci pra ser Dercy'
Grace Gianoukas em cena em 'Nasci pra ser Dercy' - Heloísa Bortz

Mesmo tendo sido responsável por revolucionar a comédia no país, a artista demorou a receber a devida reverência, principalmente em seu lugar de origem, o teatro. Esse cenário pode mudar a partir desta sexta-feira, dia 13, quando chega ao palco do Teatro Itália Bandeirantes "Nasci para Ser Dercy", solo estrelado por outro nome marcante da comédia brasileira, a atriz Grace Gianoukas.

"A Dercy era uma persona com tintas muito fortes, e é claro que isso propiciava uma caricatura, um estigma que as pessoas tinham dela. Ela ficou reduzida à ideia da velha-louca-que-fala-palavrão, e isso é tão distante da real Dercy", afirma Kiko Rieser, autor e diretor do espetáculo.

Embora narre a história de uma jovem saída do pequeno município de Santa Maria Madalena, no interior do Rio de Janeiro, que busca ser atriz mambembe numa companhia de circo antes de se tornar um dos principais nomes do cenário nacional, "Nasci pra Ser Dercy" não se caracteriza como uma biografia. Isso porque Dercy jamais surge em cena.

Quem aparece é Vera, uma atriz que se prepara para um teste de vídeo no qual terá de interpretar Dercy Gonçalves num filme. Diante da leitura equivocada que o roteiro faz da personagem, a atriz dá uma aula sobre quem é a artista.

"Eu jamais ambicionaria escrever uma peça-biografia sobre a Dercy, pelo simples fato de que essa mulher viveu muito, tanto em longevidade como em intensidade. Acho que nem uma pentalogia do Zé Celso conseguiria dar conta desses 101 anos de revoluções", afirma o diretor.

Convidada a estrelar a montagem, Grace Gianoukas mergulhou no papel como uma forma de homenagear não apenas a artista Dercy Gonçalves, mas todo o legado que ela deixou para a comédia brasileira.

A montagem atual surgiu a partir de espetáculos idealizados anteriormente. O primeiro, na década de 1990, teria texto de Maria Adelaide Amaral e direção de Marília Pêra.


Escolhida pela própria Dercy como sua intérprete oficial, Fafy Siqueira deveria protagonizar tanto aquela montagem quanto uma seguinte, que seria dirigida por Miguel Falabella, nos anos 2000, e que também não foi para frente. A atriz esteve envolvida com a montagem que estreia neste fim de semana, mas deixou a produção por problemas pessoais. Gianoukas entrou em seguida.

"Achei um desafio bastante interessante quando fiquei sabendo que não houve até hoje uma peça que falasse especificamente da Dercy", afirma. "Achei que seria um bom momento para fazer uma homenagem e também propor um resgate dessa qualidade de comédia mais escrachada, que era como se fosse o punk da época."

A atriz vê ainda a chance de proporcionar ao público uma redescoberta do legado deixado pela artista, morta em 2008. "Não sei se todo mundo sabe dessa importância, mas ela levou o improviso para a comédia", diz.

"Tem sido um trabalho diário de construção, e não posso ficar me cobrando porque não sou imitadora, eu estou procurando a alma de Dolores Gonçalves para que as novas gerações vejam e saibam de quais fontes beber", completa Gianoukas. "É isso que eu procuro, mostrar que estamos além das dancinhas de TikTok."

Com a participação especial de Miguel Falabella como a voz do diretor em off que dialoga com Vera, "Nasci pra Ser Dercy" surge também para descortinar um período da história das artes do Brasil que respinga ainda na política e no comportamento social.

"A Dercy vivia dizendo que o Brasil é um país sem memória e que não valoriza seus artistas", diz Rieser. "Por isso, qualquer esforço para trazer a vida dos que vieram antes de nós é louvável. Se conhecêssemos a história, e falo como sociedade, não repetiríamos erros tão grotescos."

Nasci pra ser Dercy

  • Quando 13/01 a 26/02 (sex. e sáb às 21h | dom. às 19h)
  • Onde Teatro Itália Bandeirantes (av. Ipiranga, 344 - República)
  • Preço R$ 50,00 a R$ 80,00
  • Autoria Kiko Rieser
  • Elenco Grace Gianoukas
  • Direção Kiko Rieser
  • Acessibilidade

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