Best-seller que já rendeu uma série de livros, "Textos Cruéis para Serem Lidos Rapidamente", de Igor Pires, ganhou uma versão para os palcos que transforma a poesia da obra numa peça narrativa sobre as dores do pé na bunda. O texto está em cartaz em São Paulo, no Teatro Sérgio Cardoso, na região central, até o próximo dia 26, depois de ter cumprido temporada no Rio de Janeiro.
A obra original é toda composta por poemas. Coube ao carioca Carlos Jardim transformá-los em uma história e levá-los ao teatro. "O texto era muito sonoro, tinha muita dramaturgia ali", diz o diretor da peça, que tomou conhecimento do livro depois de ler uma reportagem sobre o fenômeno de vendas.
Na encenação, a trama gira em torno de Pedro, um paulistano que escreve a respeito de seu ex-namorado carioca, Fábio. Ao criar esses personagens, o encenador afirma que não quis que eles representassem Igor, autor do livro, e seu ex-parceiro.
Jardim afirma que, ao ler o livro, se pegou imaginando como seria a pessoa que motivou aquelas estrofes tão carregadas de dor. Ainda assim, diz, não quis se aprofundar em saber mais sobre a pessoa real quando conversou com o autor do livro.
Um dos desafios encontrados pelo diretor na adaptação, foi a linguagem poética. Ao mesmo tempo em que o diretor via beleza nas palavras ritmadas do autor, se deparava com a falta de naturalidade que o texto teria se fosse falado em voz alta. A solução encontrada foi embutir na trama a história de que Pedro está escrevendo um livro com aqueles versos.
De fato, o protagonista, vivido pelo ator Edmundo Vitor, lê trechos de poemas enquanto os escreve e fala da linguagem rebuscada que emprega nos textos, que chama de "rococó". Quem interpreta Fábio é o ator Felipe Barreto.
Pedro também chega a cantar em alguns momentos do espetáculo, mas Jardim não considera que isso faça dele um musical. Ele prefere chamar a apresentação de "uma peça com música". Isso porque, segundo ele, num musical ocorre o encaixe das canções nas cenas; mas em "Textos Cruéis Demais", elas "são uma extensão da fala dos personagens".
Além disso, afirma Jardim, as canções do espetáculo se assemelham àquelas ouvidas nas rádios, ao contrário de musicais tradicionais.
As quatro músicas da peça foram compostas por Jardim em parceria com Liliane Secco e são inspiradas nos poemas do livro, sendo duas delas assinadas em parceria com o autor, já que contam com os versos originais da obra. Quem gostar das músicas cantadas ao vivo no palco pode salvá-las no Spotify.
A peça não segue a linearidade temporal. Ela começa pelo fim do relacionamento, volta para o momento em que o casal se conhece e intercala situações vividas pelos dois em épocas diferentes.
Para combinar com a passagem aleatória do tempo, o cenário do espetáculo é composto por poucos elementos, que Jardim considera abstratos. Quem assina a ambientação da peça é Marieta Spada, que montou o cenário com objetos feitos de grades vermelhas que fazem papel de bancos, mesas e paredes, formando três regiões que representam lugares diferentes.
Além dos dois atores e dos objetos em cena, Jardim considera que a iluminação é um terceiro personagem na peça. O jogo de luzes, que intercalam principalmente entre o branco e o vermelho, serve para demarcar tanto o tempo como os sentimentos envolvidos em cena. Quem assina essa característica do espetáculo é o artista visual Paulo Denizot.
Outra diferença entre o livro e a peça é o tom com que o protagonista conta a história de rejeição. O diretor acredita que, por terem sido escritos "no calor do abandono", os poemas são mais melancólicos do que ele gostaria de comunicar no espetáculo. Por isso, os leitores que forem ao teatro devem encontrar um Pedro mais raivoso do que o original.
19h20
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