Em sua última passagem pelos palcos há quase uma década, o ator Eduardo Moscovis havia interpretado Stanley Kowalski, o marido controlador de Stella e principal algoz de Blanche DuBois em "Um Bonde Chamado Desejo", clássico do norte americano Tennessee Williams.
Considerada um marco na dramaturgia mundial, a personagem já teve intérpretes do quilate de Marlon Brando, na Broadway e nos cinemas, e Nuno Leal Maia, que co-estrelou a primeira montagem da obra no Brasil ainda na década de 1970.
Entretanto, mesmo tendo passado por esta que é considerada uma das maiores provas de fogo de um ator, Moscovis acredita que é em "Duetos", a comédia do dramaturgo inglês Peter Quilter sobre a construção de relacionamentos modernos, que mora seu grande desafio.
Isso porque a montagem que chega ao palco do Teatro FAAP, em Higienópolis, nesta nesta sexta-feira, é a primeira comédia que o artista encara nos palcos. "É um salto sem rede. É clichê, mas não tem expressão melhor. Eu já passei por muitos desafios, mas esse é diferente, a gente se sente mais exposto", diz o ator, que divide a cena com a atriz e dramaturga Patrycia Travassos.
"Duetos" foca em quatro histórias protagonizadas por um homem e uma mulher, não necessariamente um casal. As cenas narram histórias como a de um encontro às cegas marcado por um aplicativo de relacionamentos, a festa de aniversário surpresa que a empregada dá para o chefe tentando conquistá-lo, a viagem de um casal que pretende finalizar um divórcio e o irmão que lida com o terceiro casamento da irmã.
"O público embarca com muita facilidade porque não falamos de um único tipo de relacionamento, são várias formas de ver a relação a dois", explica Travassos, que ajudou a versionar o texto, cortando o que considerava excessos de uma peça que tinha mais de duas horas e um intervalo. A versão que chegou ao Brasil tem uma hora e meia.
"É outro público, é outra linguagem. Ninguém vai sair em um intervalo e voltar para ver cenas de uma peça com dois atores. Tivemos muita liberdade do autor que não é bobo, ele quer que a peça dele faça sucesso", diz.
Sob a direção de Ernesto Piccolo, "Duetos" marca também o encontro entre Moscovis e Travassos que, embora se conhecessem de forma superficial, já tinham o desejo de desenvolver algo em conjunto.
Ajudou o fato de Moscovis ter um espetáculo ainda em gestação mas sem data de estrear, e o desejo de voltar à cena com mais rapidez e a vontade de enfrentar desafios que vão desde encarar um público que não está acostumado a vê-lo num registro cômico até decorar o texto com rapidez para ensaiar e entrar em cena.
"É tudo atípico, então foi um exercício. Até no que diz respeito a decorar o texto, eu gosto de decorar lendo, fazendo exercício de mesa, aqui não. Foi decorar, passar e entrar em cena porque a peça estava pronta e eu tive que me adaptar", diz o ator, que chegou a propor algumas mudanças para atender o que chama de uma "demanda artística diferente."
O espetáculo permanece em cartaz até o dia 29 de outubro, com sessões de sexta-feira a domingo. Os ingressos para o primeiro final de semana já estão esgotados, mas para as próximas sessões custam de R$ 39,50 a R$ 150.
Comentários
Ver todos os comentários