Foi por uma coincidência que o diretor e produtor Gustavo Barchilon anunciou sua versão brasileira de "Funny Girl - A Garota Genial" no momento em que o musical —uma espécie de clássico esquecido na Broadway da década de 1950— ganhava uma nova chance nos palcos nova-iorquinos.
Protagonizada pela estrela teen Lea Michele, a produção americana tirou a obra do limbo em que se encontrava há 58 anos, desde sua primeira versão, estrelada por Barbra Streisand. Tanto o musical quanto filme, lançado um ano depois, fizeram da artista um dos principais nomes do entretenimento lá fora.
"Acredito que esse tenha sido um dos motivos de ninguém ter remontado", diz o diretor, que também assina a adaptação da obra que chega ao palco do Teatro Porto Seguro nesta sexta-feira (18).
A despeito do que Barchilon chama de "fenômeno Barbra", outro ponto decisivo para a falta de remontagens da obra foi o seu teor um tanto datado. A produção narra a história do sucesso meteórico da atriz Fanny Brice, um dos principais nomes do teatro de variedades nos Estados Unidos no século 19.
Judia de família tradicional, ela fugia aos padrões de comportamento da época e fez sucesso por suas piadas e tiradas irônicas, além de não ter físico para compor o coro dos grandes teatros que apresentavam shows.
"Ela era muito original na sua arte, mas era assombrada por questões como o casamento. Era preciso casar cedo para não ficar para a titia, e o musical é construído em torno desse desejo dela", diz Barchilon, que crê que essa seja uma das hipóteses para explicar por que ele não foi remontado.
Na versão que chega ao Brasil, muita coisa foi alterada, a começar pela duração. As três horas da obra original foram transformadas em uma hora e 45 minutos sem intervalo. Outra mudança estrutural foi no tema, que antes tinha como principal foco os sonhos de estrelato de uma artista judia que punha tudo em segundo plano para fazer o seu casamento dar certo.
"Essa obra se transformou em uma grande homenagem a tudo o que somos, artistas que estabelecem relações, que têm problemas, que sofrem, mas que, no fim do dia, o que importa é que o show deve acontecer, que o palco é um lugar sagrado."
Apesar do teor dramático, o espetáculo é uma comédia musical que narra a história de Brice e seu desejo de ser uma estrela do teatro de variedades. Em paralelo, lida com as expectativas da família de que se case ainda jovem. Sua vida muda ao conhecer Nick Arnstein, um apostador de cavalos. A partir daí o musical toma outro rumo, mostrando como a estrela passa a lidar com a relação com o marido, a filha, o estrelato e a mãe, Rose, a maior incentivadora de sua carreira vivida por Stella Miranda.
Giulia Nadruz, que dá vida à personagem principal, vê na obra uma forma de discutir temas como relacionamentos abusivos. "Fanny se casa com o Nick Arnstein, mas nem ela nem ele estão prontos para aquilo. Ele quer ter a independência dele, e isso acaba afetando a carreira dela, enquanto ela quer ter o controle do marido. É uma relação muito difícil" diz a atriz.
Ao lado da artista estão nomes como Eriberto Leão na pele do apostador Nick Arnstein, Arízio Magalhães como o histórico produtor Florenz Ziegfeld e Vânia Canto, que alterna o papel de Fanny Brice. Canto faz as sessões de domingo, enquanto Nadruz se apresenta às sextas-feiras e sábados.
"Funny Girl - A Garota Genial" permanece em cartaz até o dia 08 de outubro, de sexta-feira a domingo e com sessões duplas aos sábados e domingos.
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