Renata Sorrah estreia peça vencedora de quatro Shell; leia entrevista

Não é recente o namoro de Renata Sorrah com a curitibana Cia. Brasileira de Teatro. Começou em 2010, quando a atriz assistiu a "Vida" e se apaixonou pela peça do grupo, que o projetou nacionalmente.

Da aproximação, nasceu a parceria "Esta Criança", espetáculo que estreia nesta sexta (19) no Sesc Vila Mariana (zona sul de São Paulo) depois de passar pelo Rio de Janeiro e pelo Festival de Curitiba. Os ingressos custam R$ 32 e podem ser comprados em qualquer unidade do Sesc. As primeiras sessões já estão esgotadas.


O diretor Marcio Abreu foi quem sugeriu o texto do francês Joël Pommerat. Sorrah já o conhecia de uma indicação feita por Ariane Mnouchkine, do célebre Théâtre du Soleil.

Quando fizeram uma leitura, tiveram certeza da escolha. "Tínhamos um nó na garganta ao fim de cada passagem", lembra Sorrah.

Dividida em dez cenas, a peça mostra histórias fragmentadas que tratam de relacionamentos entre pais e filhos. Os atores se alternam em diversos personagens e nenhum assume o papel de protagonista.

A obra de Pommerat sinaliza mais um ponto em comum entre Sorrah e a trupe paranaense: a busca por autores contemporâneos, muitos inéditos no país. Tanto a intérprete quanto a companhia apresentaram aos palcos brasileiros nomes até então desconhecidos por aqui.

Tanto Sorrah quanto a CBT apresentaram aos palcos brasileiros nomes até então desconhecidos no território nacional, como o alemão Rainer Werner Fassbinder, o norueguês Jon Fosse, o russo Ivan Viripaev e a francesa Noëlle Renaude.

O matrimônio parece ter dado certo --"Esta Criança" recebeu quatro Prêmios Shell-RJ: atriz (Sorrah), direção, iluminação e cenário-- e deve resultar em outro fruto: uma montagem de "Krum", do israelense Hanoch Levin.

Informe-se sobre a peça


LEIA ENTREVISTA COM RENATA SORRAH

Guia - Há um tempo você já nutre um namoro com a Cia. Brasileira. Como você conheceu o trabalho deles?
Renata Sorrah - Eu vi a peça "Vida" em 2010 e fiquei absolutamente encantada. Foi um encontro muito afetivo, muito renovador.

O que a tocou mais no trabalho da companhia?
Acho que foi tudo. Adorei o texto, que eles escreveram baseados no poeta Paulo Leminski. Também adorei a maneira dos atores, o modo concreto como eles ficavam em cena, a direção, a iluminação. Tudo. Eu assisti a uma coisa que foi muito importante para a minha vida.

E quando decidiram trabalhar juntos, como foi a escolha do texto?
Ariane Mnouchkine [diretora do grupo francês Théâtre du Soleil] me indicou um autor contemporâneo, Joël Pommerat. Giovana [Soar, integrante da Cia. Brasilera] disse que já tinha traduzido uma peça dele, "Polos". Foi uma coincidência atrás da outra. Ariane tinha me dito para prestar atenção em "Esta Criança". Então, Marcio [Abreu, diretor da Cia. Brasileira] trouxe vários textos e lemos muitos autores contemporâneos. Quando Marcio trouxe "Esta Criança", não tivemos dúvidas de que era essa a peça que queríamos fazer. Fizemos uma leitura e tínhamos um nó na garganta ao fim de cada cena, chegamos em um estado de suspensão.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress Renata Sorrah em cena do espetáculo "Esta Criança", parceria com a curitibana Companhia Brasileira de Teatro

Você e a Cia. Brasileira têm em comum o interesse por autores contemporâneos e a encenação do grupo busca essa forma seca de teatralidade. No caso de Pommerat, ele trata de situações reais sem ser realista.
Sim. Não tem o antes e o depois. É como se ele jogasse uma luz em cima de uma situação, de uma crise que já está no alto. Ele não vai chegando ao conflito. Ele não prepare, não explica, as pessoas não têm nome. Eu acho isso muito bom ele.

E como foi o processo de trabalhar com a companhia?
O Marcio é um excelente diretor de ator. Ele é ao mesmo tempo doce e muito firme. E extremamente inteligente. Ele entende e admira os atores. Foram muitas horas de ensaio durante três meses, mas não foi difícil. A gente fala sobre um assunto difícil, emocional, que é a relação entre pais e filhos. É um tema em que poderíamos fazer catarse. Mas não teve nada disse. Parecia que a gente conhecia aquilo. Ninguém nunca fez laboratórios, de colocar para fora. Isso eu achei tão interessante. Cada um ficou com os seus segredos e funcionou muito bem. Esse trabalho foi um processo de dois anos e foi tão bom. Acho que hoje estou uma pessoa bem melhor.

Vocês planejam ainda montar outra peça juntos?
Sim. Entre as leituras que fizemos, tem uma que é uma graça, uma adaptação de Pommerat para "Chapeuzinho Vermelho". E outra que queremos montar é uma peça chamada "Krum", do israelense Hanoch Levin. Devemos começar a ensaiar ["Krum"] no fim deste ano.


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