A relação entre pais e filhos é o mote do drama "Aos Nossos Filhos", que estreia nesta sexta-feira (dia 7) no Sesc Santana (zona norte de São Paulo). Os ingressos custam de R$ 6 a R$ 24.
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A atriz, cantora e diretora portuguesa Maria de Medeiros (que atuou no filme "Pulp Fiction - Tempo de Violência", de Quentin Tarantino) interpreta uma mulher que lutou contra a ditadura e que agora descobre que a filha (Laura Castro, que também escreveu o roteiro da peça) terá um bebê com a companheira, com quem mantém um relacionamento há 15 anos.
"A peça tem tudo a ver com meu trabalho", diz Maria. "Dirigi o documentário 'Repare Bem', sobre a ditadura brasileira. No meu CD, gravei a canção 'Aos Nossos Filhos', de Ivan Lins". Por meio do diálogo entre mãe e filha, a peça discute a liberdade individual e as novas formações familiares.
Confira, abaixo, a entrevista completa com a atriz.
LEIA O BATE-PAPO COM MARIA DE MEDEIROS:
Guia Folha - Como você se envolveu no projeto da peça?
Maria de Medeiros - A peça surgiu inesperadamente. Ela foi o resultado de muitas coincidências, o que prova que todas as minhas atividades estão ligadas. Vim a São Paulo para a Mostra Internacional de Cinema, onde apresentei "Repare Bem", documentário que dirigi e que me foi proposto pela Comissão da Anistia. Ele fala sobre a ditadura militar brasileira e mostra a história da família de Eduardo "Bacuri", um guerrilheiro importante que foi exilado na Itália e assassinado na ditadura. Graças a esse trabalho, Denise e Eduarda [esposa e filha de Bacuri] estão encontrando o Brasil, e Eduarda está descobrindo sua origem. O filme também é familiar, sobre a relação entre pais e filhos. Em homenagem a Denise e Eduarda, gravei a canção "Aos Nossos Filhos", de Ivan Lins, no meu disco. Foi então que a Laura Castro me mandou a peça, que chama justamente "Aos Nossos Filhos".
Então a peça já chamava "Aos Nossos Filhos" mesmo antes de você entrar no elenco?
Já. A peça, inclusive, foi construída com base na música. E tem tudo a ver com o trabalho que vinha fazendo há dois anos. É uma montagem muito interessante, não só por causa da história brasileira, mas também pela temática das formações familiares, que é uma questão muito atual no mundo inteiro.
A sua personagem parece ser o tipo "mulher linha-dura". Apesar de ter lutado pela liberdade na ditadura, ela tem dificuldades em aceitar a sexualidade da filha?
Sim. A peça é muito interessante, porque Laura [Castro] não construiu aquela personagem tradicional de uma mãe conservadora, religiosa. É o contrário. A mãe Vera, por toda sua vida, foi uma lutadora pela liberdade, lutou contra os preconceitos. Na peça, ela explica que está engajada nessa luta. E ela é muito inteligente, com a mente muito aberta. Quando a filha anuncia a gravidez, ela fica feliz e até pensa que a filha mudou a sexualidade. Mas a filha diz que está esperando o bebê na barriga da sua companheira. E a mãe questiona isso. Ela diz "então, esse filho é dela, não é seu!". Os diálogos são interessantes. As personagens são muito inteligentes e apresentam argumentos muito pertinentes, e outros muito irracionais. Como em qualquer discussão de pais e filhos, há muitos argumentos, e às vezes elas vão perdendo a razão.
O que fez com que você decidisse atuar no Brasil? Pretende atuar aqui mais vezes?
Eu sou apaixonada pelo Brasil, gosto muito de trabalhar aqui. Eu já vinha desenvolvendo trabalhos cinematográficos aqui. Fiz dois filmes aqui como atriz. Gosto de dirigir, gosto de fazer música. Minha banda, inclusive, é de São Paulo. Mas eu não tinha pensado em fazer uma peça; essa é a primeira no Brasil. Eu faço pouco teatro, porque o palco exige um grande envolvimento. É como entrar para um convento, tem que se dedicar especialmente a isso. Então, faço projetos pontuais, que me entusiasmam.
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