Documentário 'Human Flow', do chinês Ai Weiwei, ​registra o drama de refugiados



Quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, 11 países possuíam cercas e muros em suas fronteiras. No ano passado, 70 deles já haviam instalado esses dispositivos de contenção.

Essa é uma das informações que aparecem na tela ao longo da projeção de "Human Flow", documentário do artista chinês Ai Weiwei. Ele percorreu o mundo para registrar a dramática migração de pessoas que tentam deixar para trás os flagelos da guerra, das perseguições e da miséria em busca de uma vida melhor  —ou da simples sobrevivência.

O projeto, de dimensões épicas, levou Weiwei a percorrer 23 países e 40 campos de refugiados na África, Sudeste Asiático, Oriente Médio, Europa e América. Duas centenas de pessoas, entre elas operadores de drones, participaram da empreitada, que resultou em cerca de mil horas de imagens e entrevistas, sintetizadas numa edição final de 140 minutos.

O filme, que participou do Festival de Veneza, foi lançado semana passada nos Estados Unidos em meio à inauguração de um evento monumental de arte pública em Nova York, produzido nos últimos dois anos —a ocupação "Good Fences Make Good Neighbours" ("boas cercas fazem bons vizinhos").


O artista espalhou centenas de obras pela cidade, de banners em pontos de ônibus a grandes esculturas em pontos turísticos, que mimetizam cercas e gaiolas, mas são amigáveis e podem ser transpostas pelo público.

Na entrevista coletiva que concedeu na cidade, Weiwei falou sobre a crise dos refugiados e sobre as barreiras não apenas físicas que se erguem no mundo contemporâneo. "Estamos vivendo em um momento em que não há tolerância, estamos divididos. Tentam nos separar por cores, raça, religião, nacionalidade", disse.

Embora ambicioso, o documentário não tem a pretensão de ser uma discussão política ou sociológica exaustiva sobre o assunto. Apresenta estatísticas, entrevista refugiados, ativistas e autoridades, mas também cita passagens literárias de autores de diversos países.

Ao enfrentar um tema por si doloroso, Weiwei não foge do drama, mas não carrega nas tintas do apelo sentimental ou da chantagem barata. As imagens são belas e bem construídas —correndo, mas procurando conter o risco da estetização— e as pessoas são tratadas com delicadeza e humanidade.

O artista chinês, que se transformou em celebridade mundial, sofreu ele mesmo as agruras do autoritarismo em seu país, que atingiu sua família quando ele era ainda criança. Viveu alguns anos em Nova York e aprendeu a enfrentar ameaças de censura e cerceamento de sua liberdade. Sabe do que está falando.

Veja salas e horários de exibição.

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