Quando Hollywood começa, enfim, a levantar a voz contra o assédio e o machismo, um filme protagonizado por uma mulher forte que não tem medo de denunciar e intimida, em vez de ser intimidada, vem bem a calhar.
"Três Anúncios para um Crime", vencedor do prêmio do público no Festival de Toronto e de melhor roteiro em Veneza, traz como protagonista a mulher forte por excelência.
Na trama, Frances McDormand vive Mildred, uma mulher que, sete meses após ter a filha assassinada numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, sem que o culpado fosse identificado, transforma o luto em raiva e decide intimar o chefe da polícia local com três outdoors instalados numa estrada:
"Estuprada enquanto morria", "Mas ninguém foi preso", "Por que, chefe Willoughby?"
Os outdoors acabam por criar atrito entre a mulher e a população conservadora daquele bastião da América profunda, que venera o tal chefe de polícia, interpretado por um ótimo Woody Harrelson. Com ele, Mildred tem uma relação de conflito afetuoso.
É com outro policial, Dixon (o incrível Sam Rockwell), que a tensão escala para um estado de quase-guerra. Quando Mildred acusa a polícia de torturar negros em vez de resolver crimes, Dixon rebate: "É torturar afro-americanos!"
No drama cômico do roteirista e diretor britânico Martin McDonagh ("Na Mira do Chefe"), violência e aquele humor que provoca risos constrangidos se combinam de um jeito único.
"Três Anúncios" lembra muito um filme dos irmãos Coen pelo humor ácido, mesmo em situações graves, e por ter McDormand, a musa dos Coen, como protagonista. A atriz, aliás, tem aqui nova chance de levar o Oscar, 21 anos depois de "Fargo". As outras mulheres fortes de Hollywood terão que penar para batê-la.
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