Reverenciado em maio pelo festival IndieLisboa, na seção Herói Independente, o diretor francês Paul Vecchiali recebe, aos 87 anos, nova homenagem internacional com a retrospectiva dedicada a ele pela Mostra, que lhe entregará o prêmio Leon Cakoff (deferência ao criador e diretor do festival, morto em 2011).
Nascido na Córsega, Vecchiali é um herói independente e também desconhecido até mesmo para boa parte do público do cinema autoral europeu. Seus filmes têm distribuição restrita e quase nenhum prêmio. O conjunto da obra se caracteriza pelo freestyle liberdade estética que o põe na contramão de um universo, o do cinema de prestígio, que valoriza o rigor e a repetição formal.
Com a revolução digital e o amplo acesso à produção, muita gente se pergunta sobre o quê fazer cinema; o resultado, para essa turma com recursos na mão e pouca ideia na cabeça, são filmes que parecem existir apenas para que a pessoa diga que faz filmes. Não é, decididamente, o caso de Vecchiali.
O amplo espectro de interesses que o movem e o movem de forma passional poderá ser conferido nos 14 títulos que a Mostra exibirá. Restará apenas uma lacuna: o período inicial, que inclui dois longas (o primeiro, "Os Pequenos Dramas", de 1961) e três curtas.
O mais antigo longa da retrospectiva é "O Estrangulador" (1970), em que Jacques Perrin interpreta um assassino de mulheres convencido de que cumpre uma boa missão. O mais recente é "Os 7 Desertores" (cujo título original tem o complemento "ou a Guerra a Granel"), que fará estreia mundial em São Paulo.
Entre um e outro, mil coisas. Vecchiali abordou a condição feminina, de maneira lúdica, por meio do relacionamento entre duas atrizes em "Mulheres, Mulheres" (1974). Explorou o amor e a busca da felicidade entre homens, em "Uma Vez Mais" (1988), que dividiu com "A Última Tentação de Cristo" o prêmio da crítica no Festival de Veneza.
Nos últimos anos, continua trabalhando intensamente. "Noites Brancas no Píer" (2014), que disputou o Festival de Locarno, aproxima dois estranhos (um homem e uma mulher) em uma situação inusitada. "É o Amor" (2015) começa com uma trama de vingança promovida por uma mulher traída que se descobre envolvida por sua armadilha.
Em "O Ignorante" (2016), com Catherine Deneuve e Mathieu Amalric, o próprio Vecchiali interpreta o protagonista, que se aproxima do fim da vida disposto a reerguer uma ponte afetiva com o passado.
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