O funcionário da Coroa Espanhola Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho) é um homem carcomido pela expectativa.
O governador da província paraguaia onde é corregedor lhe diz que, "antes de se livrar de um cargo, deve se importar com ele". O recado, no entanto, não penetra seus ouvidos.
O corregedor, a peruca mal assentada sobre a cabeça, só pensa em ir embora dessas terras modorrentas, perdido entre questões que não lhe interessam, mas que deve resolver o que faz com menos rigor do que se espera.
É notável o uso da cor nesta adaptação, feita pela argentina Lucrecia Martel, do romance homônimo de seu conterrâneo Antonio Di Benedetto. A espera de Zama se tinge com uma paleta limitada. Ocres e vinhos poeirentos dominam o ambiente assolado pelo medo medo do cólera, de fantasmas e do mítico bandoleiro Vicuña Porto, morto "mil vezes".
Aqui e ali surge um azul, indicando um espasmo de civilização: nas paredes da casa da mulher que Zama deseja e que, como ele, lamenta a Europa perdida. Ou nas librés que, ao lado de perucas, são a única vestimenta sobre os corpos nus de mensageiros negros.
As cores mudam quando Zama, compreendendo que poucas esperas têm o fim almejado, sai da imobilidade. Verdes e vermelhos invadem a tela no último terço desse belo filme que, embora se passe no século 18, não guarda o ranço de produção de época. "Zama", ao contrário, lança uma questão atemporal: para viver, é preciso antes desejar a vida.
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