Crítica: Com um pé no absurdo, peça "Gagá" brinca com imaginação

Dirigido por Marcelo Romagnoli, "Gagá" é um espetáculo corajoso, cujos meandros da história se desenrolam de modo a permitir um labirinto de possibilidades na imaginação do espectador, seja criança, seja adulto.

Ao beber nas fontes do teatro do absurdo, expressa o sem sentido da condição humana. Lelé (Fausto Franco) e Tantã (Jackie Obrigon) vivem num quarto branco, sem portas nem janelas (cenografia de Marisa Bentivegna), à espera do senhor Gagá, interpretado com o gigantismo da empatia de Guto Togniazzolo.

Peça Gagá
Cena da peça "Gagá", em cartaz no Sesc Pinheiros - Divulgação

Um alto-falante parece ser a comunicação da dupla com o mundo exterior. Eles usam palavras com sílabas trocadas, assim como as crianças, falam coisas absurdas, tal qual os loucos, e esquecem facilmente, do mesmo jeito que os velhos. Quem são, onde estão e qual seu destino são questões que não se revelam facilmente. Têm de ser construídas por cada um dos espectadores.

Num espetáculo com pausas e silêncios, num ritmo nada acelerado, os personagens disparam falas curtas e enfáticas, como pílulas de poesia —uma marca de Romagnoli. Em diálogos tão absurdos quanto filosóficos, tratam metaforicamente de dores como abandono e esquecimento.

A peça, com trilha assinada por Dr. Morris, não usa o recurso da música como apoio para narrar a história, evitando conduzir o espectador. Os efeitos sonoros, assim como as músicas que ecoam do alto-falante, são sugestivos e amplificam as sensações dos personagens.

Um dos momentos de maior lirismo é quando Gagá revela suas fragilidades e, numa inversão de papéis, entrega-se aos cuidados de Lelé e Tantã. O espetáculo segue nos provocando após o final: saímos com várias perguntas, o que é muito bom.

Avaliação: muito bom

Indicação: a partir de 7 anos

Sesc Pinheiros - R. Pais Leme, 195, Pinheiros, região oeste, tel. 3095-9400. Dom.: 15h e 17h. 60 min. Até 30/4. Ingr.: R$ 5 a R$ 17. Menores de 12 anos: grátis.

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