"Eu não conheço nada, desculpa! Me ajude."
Foi assim que o secretário especial da Cultura, Mario Frias, respondeu à pergunta da Folha sobre a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi —a entrevista foi dada nesta quinta, dia 20, durante a abertura do pavilhão brasileiro da 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, na qual Bo Bardi está sendo celebrada com o Leão de Ouro e é a grande estrela do evento.
Se tiver tempo na agenda após a viagem à Itália, Frias pode fazer uma parada em São Paulo para conhecer mais sobre a arquiteta.
Nascida em Roma em 1914, Bo Bardi se mudou para o Brasil e passou a viver na capital paulista quando tinha 32 anos. Até a sua morte, em 20 de março de 1992, aos 77 anos, Bo Bardi projetou uma série de construções que se tornaram conhecidas na cidade, consolidando-a como um dos principais nomes da arquitetura brasileira. Entre suas obras está o prédio do Masp, na avenida Paulista. Mas há também a Casa de Vidro, onde ela morou na região do Morumbi, além do teatro Oficina e do Sesc Pompeia, por exemplo.
Com pressa, o roteiro abaixo pode ser feito em um dia. Mas Frias —ou qualquer pessoa interessada em saber mais sobre Lina Bo Bardi e arquitetura brasileira— poderá aproveitar melhor o circuito se tiver mais tempo para mergulhar no trabalho da arquiteta.
Embora o secretário seja crítico das restrições à circulação de pessoas durante a pandemia, o governo de São Paulo limita atualmente o horário de funcionamento dos estabelecimentos e a capacidade máxima desses locais. Por isso, alguns deles podem ter acessos restritos e exigir agendamento prévio.
Bom passeio.
Casa de Vidro
Construída em 1950 e 1951, quando São Paulo ainda engatinhava na ocupação da região do Morumbi, a Casa de Vidro foi o primeiro projeto de Lina Bo Bardi inteiramente construído. "Durante a Guerra, só se destruía", ela costumava dizer sobre seu trabalho quando ainda morava na Itália. Moradia do casal Lina Bo e Pietro Maria Bardi, a casa traz um toque de poesia para a arquitetura —cercada pela mata, a caixa de vidro é sustentada por pilotis, como se flutuasse, e era parada obrigatória da classe artística paulistana e de intelectuais que visitavam São Paulo, como Glauber Rocha e Alexander Calder.
Rua General Almério de Moura, 200, Morumbi. Tel. (11) 3744-9902. institutobardi.com.br
Masp
As colunas vermelhas se tornaram um clichê tão grande de São Paulo quanto o Cristo Redentor no Rio de Janeiro —o prédio assinado por Lina Bo Bardi estampa camisetas, chaveirinhos e todo o tipo de souvenir barato. Antes localizado no centro, o Museu de Arte de São Paulo foi transferido para a Paulista em 1968, tendo na inauguração a presença da rainha Elizabeth 2ª. Um dos grandes feitos da construção é o fato de ela estar ali, imponente, mas ao mesmo tempo não estar, devolvendo à metrópole um espaço aberto em forma de vão-livre. "Acho que no Museu de Arte de São Paulo eliminei o esnobismo cultural tão querido pelos intelectuais e os arquitetos de hoje, optando pelas soluções diretas, despidas", dizia Bo Bardi.
Av. Paulista, 1.578, Bela Vista. Tel. (11) 3149-5959. masp.org.br
Sesc Pompeia
Antes da pandemia, a rua cercada pelos galpões costuamava ficar lotada de crianças brincando e de casais atrasados para um show ou peça de teatro. Lina Bo Bardi entrou pela primeira vez na Fábrica de Tambores da Pompeia em 1976 e finalizou totalmente o conjunto do atual Sesc Pompeia, no mesmo local da fábrica, dez anos depois. Na época, ela vivia uma espécie de ostracismo profissional gerado pela ditadura militar —até que repareceu à frente do projeto do centro de lazer, trazendo a rua para dentro do espaço. "Arquitetura, para mim, é ver um velhinho ou uma criança com um prato cheio de comida, atravessando elegantemente o espaço do nosso restaurante, à procura de um lugar para se sentar numa mesa coletiva", disse a arquiteta sobre o projeto.
Rua Clélia, 93, Pompeia. Tel. (11) 3871-7700. sescsp.org.br
Teatro Oficina
Foi no início da década de 1980 que Lina Bo Bardi começou os estudos para o teatro Oficina, na região do Bexiga. O grupo liderado por Zé Celso tinha sido criado duas décadas antes, sobrevivido a um incêndio em 1966 e virado célebre com montagens como "O Rei da Vela" e "Roda Viva". Mais uma vez, o projeto apresenta um conceito de rua, de passarela e de passagem, criando um teatro pouco convencional —nele, a plateia fica acomodada nas laterais, em estruturas metálicas, enquanto o palco é uma passarela central. O espaço foi eleito o melhor teatro do mundo pelo jornal britânico The Guardian.
Rua Jaceguai, 52, Bela Vista. Tel. (11) 3106-2818. teatroficina.com
Comentários
Ver todos os comentários