O streaming também chegou ao teatro. A Mostra Internacional de Teatro de São Paulo lançou a MIT+, uma plataforma online com peças gravadas das últimas sete edições do festival, entrevistas, oficinas e espetáculos inéditos.
A programação inicial reúne nomes como Romeo Castellucci, que dirigiu a peça "Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus”, uma das mais comentadas da primeira edição da mostra. Outros nome são Simon McBurney, que leva o espectador para a Amazônia em seu espetáculo "O Encontro", e Ntando Cele, sul-africana que cria um paralelo com o personagem de Shakespeare em "Vai Vai Othelo".
O site foi idealizado por Natália Machiavelli com os diretores do festival Antonio Araújo e Guilherme Marques. As peças são todas gratuitas, mas é preciso fazer um cadastro para receber o acesso às apresentações.
"Esse é um projeto anterior à pandemia, porque tudo é filmado a cada edição da MITsp e, depois do quarto festival, apareceu essa ideia", conta Araújo. "A pandemia talvez tenha ajudado a acelerar o processo de concretização da plataforma."
Um dos destaques do acervo, que será disponibilizado aos poucos, é justamente a peça de Castellucci, que estava na programação da primeira mostra e será apresentada em trechos. O diretor também foi convidado para uma entrevista em que fala sobre o espetáculo e sobre o momento atual do Brasil. "O trabalho dele abre dois núcleos que são importantes pra plataforma, a doença e a cura", afirma Araújo.
Ele também assinala que as discussões decoloniais são um dos nortes do projeto —além da nova peça da Ntando Cele, a MIT+ terá a apresentação de "Black Off", outro espetáculo da sul-africana, de "Descolonizando o Pensamento, performance da portuguesa Grada Kilomba, e outras palestras sobre o tema.
"A presença nunca vai ser substituída no teatro", diz Natália Machiavelli, criadora da plataforma. "O que vamos fazer é usá-la para alcançar mais pessoas, inclusive um público mais jovem."
Machiavelli e Araújo também afirmam que, quando a mostra voltar a ter suas apresentações presenciais, existe a expectativa que as edições adquiram um caráter híbrido, também com espetáculos acontecendo online.
A seguir, veja uma lista de cinco espetáculos e performances para conhecer na plataforma MIT+, que tem as primeiras exibições disponíveis a partir desta sexta, dia 12.
O Encontro
De 19 a 21 de março, às 11h, e de 22 a 24 de março, às 20h. Direação e atuação: Simon McBurney. 12 anos
Inspirado no livro "Amazon Beaming", de Petru Popescu, o diretor britânico conta a história de Loren McIntyre, um fotojornalista da National Geographic que se perdeu na terra indígena do vale do Javari, na Amazônia brasileira. O ideal é assistir à peça com fones de ouvido para entrar no ambiente sonoro que McNurney cria no espetáculo, gravado no Barbican Centre, em Londres.
Vai Vai Othelo
Dia 16, às 21h, e de 17 a 21 de março, às 20h. Direção: Ntando Cele. 2020. 14 anos
Ntando Cele cria um paralelo com Otelo, personagem de Shakespeare que é um dos poucos protagonistas negros no teatro, para discutir o espaço do negro nas artes cênicas. No espetáculo, gravado no Schlachthaus Theater Bern, na Suíça, a artista interpreta diversos personagens, como o próprio Otelo e uma go-go girl.
Requiem
Dos dias 12 a 15 de março, às 19h. Direção: Romeo Castellucci. 2010, gravada em julho de 2019. Livre
A festa comunitária criada pelo italiano a partir da missa fúnebre de Mozart mostra danças e referências folclóricas —a apresentação é seguida por uma conversa entre o diretor e Júlia Guimarães. Castellucci também é um dos destaques da programação com trechos de "Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus", peça que estava na programação da primeira edição da MITsp. Ele fala, ainda, sobre o trabalho e a situação atual do Brasil em uma entrevista disponível na plataforma.
Camming – 101 noites
Dias 12 e 13 de março, às 23h, e 14, às 16h. Concepção e performance: Janaina Leite. 18 anos. Transmissão ao vivo.
Nessa performance, a dramaturga continua a explorar o universo da pornografia, que também está em seus trabalhos "Stabat Mater" e "O Armário Normando". Agora, o espetáculo parte de sua experiência em plataformas de sexo pago com camgirls, que recebem de acordo com o tempo de permanência dos usuários da plataforma.
Ué, Eu Ecoa Ocê'u É Eu?
De 22 a 24 de março, às 22h. Direção: Cibele Forjaz e Celso Sim. 18 anos
A performance apresenta um rito funerário em homenagem a indígenas mortos pelo coronavírus. O espetáculo, que será exibido em duas versões, transmitidas na sequência, também aborda os problemas de gestão da crise sanitária e o canibalismo.
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