Descrição de chapéu Artes Cênicas
Teatro

Viga Espaço Cênico tem teatro demolido para dar lugar a prédio em São Paulo

Donos do local agora buscam um novo galpão na cidade para abrigar seus espetáculos

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São Paulo

Quem passar pelo número 1.323 da rua Capote Valente, em Pinheiros, vai poder ver os últimos dias do prédio do Viga Espaço Cênico. O teatro, que funcionou por quase 18 anos na zona oeste paulistana, precisou fechar as portas em 30 de junho. O terreno foi vendido para uma construtora, que vai levantar um prédio no local.

Arnolfo de Mello, proprietário do Viga Espaço Cênico, alugava o espaço. Segundo ele, a oferta da MOS Incorporadora pelo terreno para levantar seu projeto imobiliário girou em torno de R$ 6,5 milhões. “Eu tinha opção de cobrir a compra, mas não tinha como levantar esse dinheiro”, diz.

Imagem do Viga tirada nesta segunda (23); o prédio já perdeu as janelas da fachada e teve o teto derrubado
Prédio do Viga Espaço Cênico nesta segunda (23), já sem as janelas e com o teto derrubado - Laura Lewer/Folhapress

“Sinto pena que o Viga tenha que dar espaço a um empreendimento”, diz o arquiteto Roberto Loeb, que assinou a adaptação do espaço para se tornar um teatro. Para ele, é natural que novos empreendimentos imobiliários surjam na cidade, mas "o que decepciona é a falta de trabalho conceitual para preservar esse tipo de contribuição", caso de espaços culturais como o Viga.

Segundo Eduardo de Carvalho, sócio da MOS, o terreno em que ficava o teatro vai fazer parte do lote onde será erguido um condomínio residencial na rua Alves Guimarães, logo atrás do teatro. O que exatamente será construído no lugar do Viga, com entrada para a Capote Valente, porém, não está decidido. “Provavelmente vai ser uma área comercial, alguma coisa que movimente a cidade. Não vamos construir muros ou uma entrada e saída de carros”, afirma.

O teto do teatro que agora vem abaixo é justamente o que inspirou o nome do local. Quando Loeb precisou transformar o galpão industrial que existia no terreno em um espaço cênico, ele decidiu substituir as estruturas de madeira do teto por vigas metálicas, que sustentavam a construção e, ao mesmo tempo, deixavam o espaço mais aberto. “A viga ficou como um símbolo dessa abertura”, afirma ele.

Mello conta que passou alguns meses negociando com o proprietário do terreno e tentou pedir ajuda da Secretaria Municipal de Cultura para que o teatro fosse preservado ou para que a incorporadora devolvesse, de alguma forma, o espaço para a cidade. As conversas não foram adiante.

Desde 2003, o Viga abrigou diversos espetáculos e performances artísticas. O prédio tinha um bar, um local para exposições e espaços em que ocorriam apresentações, como a sala Viga. Mesmo na fase mais restrita da pandemia na capital, o espaço funcionava recebendo grupos que iam gravar peças para serem exibidas online. Mello conta que o teatro teve apresentações até o dia anterior ao da entrega das chaves.

Quem for ao local hoje vai ver que a estrutura já foi quase toda ao chão —as janelas da fachada foram retiradas e parte do teto foi demolido.

Imagem da Sala Viga, no interior do Viga Espaço Cênico
Imagem da Sala Viga, no interior do Viga Espaço Cênico - @flaviocfotos/Divulgação

“A legislação leva pouco em conta a cultura, a memória, as coisas que são tão importantes para dar vida à cidade", comenta Loeb . Para o arquiteto, há uma certa selvageria na forma como o urbanismo tem avançado em São Paulo.

Ele comenta que a Vila Madalena, vizinha a Pinheiros, é um dos bairros da capital que atraem esses empreendimentos. “Começam a construir prédios, prédios e prédios e acabam matando o que era tão essencial para a vida urbana, que é a história."

Recentemente, por exemplo, o tradicional bar Mercearia São Pedro, na Vila Madalena, divulgou que pode fechar as portas em breve. Um dos sócios afirmou que o terreno será vendido para uma construtora para abrigar um empreendimento de luxo —o outro sócio e a Even, apontada como a compradora do local, negam.

Croqui do Viga Espaço Cênico do livro 'Roberto Loeb', da editora BEI
Croqui do Viga Espaço Cênico do livro 'Roberto Loeb', da editora BEI - Reprodução

"O adensamento é benéfico para a cidade, mas tem que ser feito com cuidado", afirma Loeb. "Claro que eu preferia não ver o Viga sair dali”, continua o arquiteto. Para ele, a incorporadora poderia ter negociado com a prefeitura uma solução para a permanência do teatro —se não no mesmo terreno, ao menos na mesma região.

Apesar da demolição, o Viga deve continuar a existir. Segundo Mello, o centro busca agora um novo endereço para retomar as atividades até o início do ano que vem.

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