Donos da Mercearia têm venda de imóveis próximos ao bar determinada pela Justiça

Futuro do boteco, que é ponto de encontro de escritores e boêmios em SP, segue incerto

São Paulo

A novela que envolve o Bar Mercearia São Pedro, na paulistana Vila Madalena, parece longe de terminar. Depois que um dos proprietários, Marcos Benuthe, confirmou nesta quarta-feira (18) que a casa encerraria as atividades de mais de 50 anos e daria lugar a um empreendimento imobiliário, o futuro do reduto de escritores, artistas e boêmios da Vila Madalena ainda está incerto.

Há algumas disputas em andamento, inclusive na Justiça. Mesmo com a confirmação de Marcos, seu irmão e também sócio do bar, Pedro Anis, negou que a casa fechará as portas.

A construtora Even, que supostamente compraria o local e outras construções no mesmo quarteirão para levantar o tal empreendimento, também negou a compra.

Com possível fechamento à vista, o tradicional bar da Vila Madalena Mercearia São Pedro continua recebendo clientes
Com possível fechamento à vista, o tradicional bar da Vila Madalena Mercearia São Pedro continua recebendo clientes - Gabriel Cabral/Folhapress

Apesar disso, no dia 4 de agosto, a Justiça de São Paulo determinou a venda de três imóveis que pertencem à família Benuthe —todos localizados na rua Rodésia, a mesma do bar. Mas nenhum deles refere-se à Mercearia. Os três imóveis citados na sentença são os dos números 16, 20 e 26 e estão vizinhos à sede do estabelecimento, que ocupa o número 34.

A decisão parte de uma disputa judicial que envolve os dois irmãos. Como coproprietário dos imóveis, Marcos pediu a venda dos prédios dizendo que houve quebra de confiança na sociedade e dificuldade na administração.

Segundo o processo, ele não teria acesso à sua parte nos aluguéis referentes aos locais e preferiu dividir o valor que será recebido com a venda das construções.

Há ainda disputa entre os irmãos em relação ao uso do número 30 também da rua Rodésia, conhecido como Anexo, colado à Mercearia.

Mas o bar mesmo, que ocupa o número 34, ainda tem o destino suspenso. Não há ainda uma definição da Justiça sobre o local, que passa por um processo de inventário desde a morte do pai de Marcos e Pedro.

Fora isso, há um processo de dissolução de sociedade dos irmãos, mas que ainda não foi apreciado. Nele, Marcos alega que Pedro não daria informações sobre a situação financeira da empresa, além de não repassar o pró-labore nem os lucros da sociedade.

Procurado, Marcos disse que não comentaria os processos. Pedro não atendeu à reportagem.

Enquanto os irmãos e a Justiça não chegam a uma conclusão em relação à sociedade e ao bar, o espaço segue aberto e atraindo clientes em clima de despedida. Na noite de quarta (18), quando a notícia do fim do bar se espalhou, muitas pessoas sentavam em uma das mesas com a mesma pergunta: “E aí, veio também para a despedida?”.

Mas, mesmo que o imóvel seja vendido, isso não significa necessariamente a morte da Mercearia. O que está em jogo é quem é dono do imóvel. Se os irmãos decidirem manter o bar funcionando e o novo proprietário da casa na rua Rodésia número 34 aceitar manter o boteco no mesmo local, a Mercearia ainda poderia continuar aberta e não iria se juntar a casas como o bar Genésio, criado em 2002 e que encerrou as atividades, ou o Mandíbula —​veja a lista completa de bares fechados em São Paulo.

Uma das calçadas mais concorridas da capital paulista, a Mercearia São Pedro foi inaugurada como uma mercearia mesmo em 1968 por Pedro Benuthe, pai de Pedro e Marcos. Quatro anos depois, porém, ganhou balcão e equipamentos de bar, quando passou a servir pingas e sanduíches.

A expansão continuou nos próximos anos. Na década de 1980, a família ampliou as atividades com o aluguel de fitas de VHS e passou a atrair seu público mais fiel, escritores e jornalistas. Em 1996, passou também a servir almoço caseiro e, no início dos anos 2000, acrescentou livros às prateleiras.

Parte dessa história está eternizada nas páginas de “Saideira - O Livro dos Epitáfios”, antologia organizada pelos escritores Marcelino Freire e Joca Reiners Terron, que chegou às livrarias em abril de 2018 em comemoração aos 50 anos da casa.

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais

Mais lidas