Após mais de um ano com as cortinas fechadas por causa da pandemia, os teatros voltaram a aquecer o circuito cultural de São Paulo —e agora é a vez dos musicais retornarem aos palcos. Com centenas de profissionais envolvidos e estruturas gigantescas, alguns desses espetáculos chegaram a entrar em cartaz no ano passado e foram interrompidos por causa da pandemia, como "Donna Summer", enquanto outros tinham previsão de estrear, mas não tiveram tempo, caso de "Cinderella".
O espetáculo inspirado no conto de fadas marcou a época de ouro da Broadway e agora ganha versão brasileira, feita por Charles Möeller e Claudio Botelho, marcando o início da exibição de grandes espetáculos no Teatro Liberdade. O musical entra em cartaz nesta quinta-feira, dia 2.
Localizado no bairro da Liberdade, na região central de São Paulo, o espaço é velho conhecido do circuito pauliustano —abrigou em 1954 o Cine Tokyo, depois virou Cine Álamo e se transformou em sala de ensaio do Theatro Municipal, mas estava fechado. Manuel Fernandes foi um dos responsáveis por tirar o pó do local, que ficou abandonado por dez anos.
Fernandes, que foi diretor do Teatro Bradesco durante cinco anos, abriu as portas do teatro em agosto de 2019. Pouco mais de seis meses depois, ele precisou fechar o lugar por causa da pandemia.
“Estarmos aqui hoje é apenas uma questão de teimosia, de persistência e de amor”, diz o administrador do Liberdade, que é o segundo maior teatro de rua de São Paulo, com capacidade de mil lugares.
Em outubro do ano passado, a casa voltou a receber programação uma vez por semana, com o stand-up do comediante Thiago Ventura. “Com isso a gente conseguia pelo menos pagar uma diária aos técnicos”, contou Fernandes.
Segundo ele, por enquanto a bilheteria não é suficiente para pagar as contas e as dívidas adquiridas durante a quarentena, mas o empresário comemora ter sobrevivido ao período de portas fechadas. Ele afirma que, desde o início, planejava retomar os trabalhos com um grande espetáculo. “Deu certo, a gente está voltando com um musical da Broadway."
"Cinderella" já passou pelo Brasil em 2016, tendo sido visto por mais de 200 mil espectadores no Rio de Janeiro e em São Paulo. O elenco desta nova montagem teve de se adaptar por causa da pandemia. "Começamos a perder gente, porque as pessoas não conseguiram se manter no Rio e em São Paulo porque são capitais caras”, diz Renata Borges, produtora da Touché Entretenimento, responsável pela peça.
Segundo levantamento do Itaú Cultural com dados do IBGE, 43% dos trabalhadores das artes cênicas perderam emprego em 2020. Só na capital paulista, a paralisação dos musicais pode ter deixado 13 mil sem trabalho.
Mesmo com a produção seguindo os protocolos de segurança contra a Covid-19, incluindo testes semanais de toda a equipe, a produtora diz que a retomada não está sendo fácil. “A gente esbarra em fatores como o receio do público de voltar a frequentar os teatros e a incerteza em relação à bilheteria, mesmo em sucessos como 'Cinderella'”, afirma Borges.
A Sociedade Brasileira de Teatro Musical estima que 28 produções deixaram de estrear ou foram interrompidas na capital paulista. Uma dessas produções é "Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate", que reabre o Teatro Renault daqui a duas semanas. Outra é "Donna Summer", dirigida por Miguel Falabella, que volta ao Teatro Santander também nesta quinta (2), após ficar apenas duas semanas em cartaz no início de 2020. O musical conta a história da grande estrela da música disco.
“Para a gente, essa volta tem sido muito significativa”, conta Bárbara Guerra, produtora e coreógrafa do espetáculo. O motivo disso não é apenas a retomada dos trabalhos, mas tem relação com a perda que o musical sofreu —a morte do ator Edson Montenegro, que interpretava o pai da Donna Summer na produção, e outras duas pessoas que faziam parte da equipe técnica. Todos morreram por causa da Covid-19.
Os cuidados durante ensaios e bastidores passam pelo uso de máscara, distanciamento entre os profissionais e testagem regular da equipe. Para Guerra, a maior animação é voltar aos palco contando a história de uma artista negra que sofreu com o machismo e o racismo.
“Donna Summer abriu a porta para essas atrizes estarem ali no teatro, fazendo um musical, sendo protagonistas, mulheres pretas", afirma a produtora. "Poder voltar com essa peça, neste momento, tem sido uma expectativa muito forte."
MUSICAIS EM CARTAZ EM SP
Cinderella
Teatro Liberdade - r. Galvão Bueno, 129, Liberdade, região central. De 2/9 a 31/10. Qui. e sex., às 20h30; sáb., às 16h e 20h30; dom., às 16h e 20h. Ingressos de R$ 60 a R$ 240, em eventim.com
Donna Summer
Teatro Santander - av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041, Itaim Bibi, zona oeste. De 2/9 a 31/10. Qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h30 e 21h; e dom., às 16h e 19h30. Ingressos de R$ 75 a R$ 280, em sympla.com
O Pescador e a Estrela
CCBB - r. Álvares Penteado, 112 , Centro. De 4/9 a 3/10. Sáb. e dom., às 15h. Ingressos a R$ 30, em eventim.com.br
Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate
Teatro Renault - av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista, região central. A partir de 17/9. Sex., às 20h30; sáb., às 15h30 e 20h30; dom., às 14h30 e 19h30. Ingressos de R$ 50 a R$ 310, em Tickets For Fun
Guerra de Papel
Teatro Viradalata - r. Apinajés, 1.387, Sumaré, zona oeste. Sessões presenciais e online de 3/9 a 26/9. Sex. e sáb., às 21h; dom., às19h. Ingressos a R$ 20, em sympla.com
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