Andrea Beltrão é a "pior atriz do mundo" em nova comédia musical

Uma das intérpretes mais elogiadas de sua geração, Andrea Beltrão, 49, vive, ironicamente, a "pior atriz do mundo" na comédia musical "Jacinta", que estreou no ano passado no Rio de Janeiro e chega a São Paulo nesta sexta-feira (dia 9) para temporada no Sesc Vila Mariana (zona sul).

Os ingressos custam entre R$ 6,40 e R$ 32 e estão à venda em qualquer unidade do Sesc.

Escrita há cerca de dez anos por Newton Moreno (de "Agreste" e "As Centenárias"), a peça ganhou versão musicada pela equipe criativa, que inclui Aderbal Freire-Filho (direção) e Branco Mello (músicas).

O enredo se passa no século 16, quando a portuguesa Jacinta (Andrea) encena um texto do poeta Gil Vicente para sua rainha e, de tão desastrosa apresentação, mata a monarca de desgosto. Como punição, a atriz é expulsa de sua terra e vai parar no Brasil.


"Jacinta é desajustada, mas tem um desejo enorme de acertar. E essas imperfeições fazem dela uma personagem muito humana", explica Andrea.

O espetáculo não se prende a fidelidades históricas e abusa do anacronismo para trafegar pela evolução das artes cênicas.

A trilha sonora também varia de melodias medievais a ritmos como rock e funk.

"É uma peça sobre o teatro, e o que é mais comovente: a trama é vista pela ótica de uma atriz ruim, mas absolutamente apaixonada pelo ofício", diz Aderbal. "Essa história de amor não correspondido é muito forte."

Informe-se sobre a peça


LEIA ENTREVISTA COM ANDREA BELTRÃO:

Guia Folha - O texto foi escrito pelo dramaturgo Newton Moreno há quase dez anos, antes mesmo de ele ter escrito as "As Centenárias" (peça que Andrea estrelou ao lado de Marieta Severo em 2007). Como "Jacinta" chegou até você?
Andrea Beltrão - Quando Newton veio fazer "Agreste" aqui no Teatro Poeira [casa de espetáculos do Rio de Janeiro gerida por Andrea e Marieta], ele trouxe o texto de "Jacinta" e me apresentou. Ele iria montá-lo com Louise Cardoso, mas eles acabaram não fazendo juntos. Na época, eu não queria fazer teatro sozinha, eu queria fazer alguma coisa que fosse com a Marieta, de qualquer maneira. Mas me interessei pelo texto.

O espetáculo originalmente não é um musical. Por que vocês decidiram levar a música para a história?
Acho que foi mais uma vontade de a gente fazer uma coisa que fosse diferente para nós. O texto em si não tem uma indicação de música, tanto que no crédito da peça deixamos bem claro que é uma ópera-rock a partir do texto "Jacinta", de Newton Moreno.

E como é fazer o papel de uma atriz ruim?
Jacinta tem uma coisa que eu acho muito legal: ela é desajustada, mas é uma pessoa apaixonada e tem desejo enorme de acertar. Acho que isso deixa ela muito humana. Seus erros dela e suas imperfeições se aproximam muito de como nós já fomos um dia, no início da profissão ou do namoro. Fazer uma atriz ruim por fazer é engraçado, mas a gente queria muito que tivesse um sentido diferente, a coisa de imaturidade. Tem muito o lado humano.

Crédito: Nil Caniné/Divulgação Andrea Beltrão (centro) é a "pior atriz do mundo" na peça que chega a São Paulo para temporada no Sesc Vila Mariana

Para o papel você buscou inspiração no início da sua carreira?
Sim. Um tempo antes do ensaio, o [roteirista e diretor] Antonio Carlos da Fontoura me mandou um DVD com o primeiro especial para TV que eu fiz com ele, quando eu tinha 16 anos, a idade que a minha filha tem hoje. Era sobre Nelson Rodrigues, um barato. E eu me diverti muito me vendo. Alguma coisa de mim hoje já tinha ali, mas era muito diferente, a minha voz tão fininha... Pensei: "meu Deus, quanta pureza!". Depois dei uma olhada no "Armação Ilimitada" [seriado televisivo dos anos 1980] e vi umas fotos, mas não mais que isso. Porque eu tenho pavor de ficar me vendo, detesto! Para eu não ter um surto psicótico, eu só vi um pouquinho.

Na peça, vocês falam com vários sotaques (principalmente o português). Como é o seu?
Eu tento fazer um sotaque mais real possível. Eu me inspirei completamente no [humorista e apresentador português] Raul Solnado, que se apresentou muitas vezes no Brasil. Então ele tinha que falar devagar, esticando, se fazendo parecer muito claro, porque a velocidade em que os portugueses falam é uma loucura.

Esta não é a sua estreia cantando, você já estuda há um tempo e já fez musicais. Mas as pessoas não conhecem muito esse seu lado cantora. Como está sendo a experiência?
Eu acho o maior barato cantar porque é na peça. Não vou ser cantora nunca, não vou investir nessa nova carreira. Eu gosto de cantar mascarada, de personagem. Eu, Andrea, virar cantora, é uma coisa inimaginável. Eu gostaria, sim, de já ter nascido cantora, tipo uma Cássia Eller, uma Marisa Monte, um Michael Jackson, nada mal, um Barry White. Na peça, é uma brincadeira, um musical diferente e a gente pode cantar rasgando, não tem que fazer "treinadinho".

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