Qualquer um pode dizer que seu vinho é natural impunemente. Enquanto os vinhos orgânicos e biodinâmicos são super regulados —associações checam as vinícolas e distribuem selos de autenticidade— os naturais autodenominam-se. Até hoje não oficializaram uma cartilha que defina esse termo tão subjetivo. Produtores de vinhos naturais usam uvas orgânicas: ótimo! Mas defendem uma tal de “intervenção mínima”, o que equivale a chamar de pouca a dor de um pé torcido ou de fácil a composição de um samba.
Uvas maduras em um recipiente fermentarão sozinhas. Suas leveduras irão se alimentar do açúcar e transformar o mosto em vinho. Só que se sem intervenção ele virará vinagre!
Há incontáveis maneiras de controlar as fermentações e a maturação de um vinho —das inofensivas, como subir ou descer a temperatura das cubas, às bandidas, como submergir lascas de carvalho no tinto para dar-lhe sabor de baunilha e madeira. Há mil tons de cinza entre o industrial que adiciona açúcar ou leveduras saborizantes ao mosto e o radical que só considera naturais os vinhos sem filtragem (turvos) e sem sulfito (conservante). Estou mais para os naturais light que filtram, sim, e sulfitam ligeiramente para evitar aromas defeituosos como sidra ou repolho cozido. Extremismo é mau até no vinho.
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