Uma casa imponente de fachada branca, cercada por um portão de ferro, rodeada por árvores e aparentemente desabitada há anos desperta a curiosidade de quem passa pela avenida Higienópolis, em um dos bairros nobres da região central de São Paulo.
Conhecida como casarão Nhonhô Magalhães, a mansão tombada abrirá suas portas para uma visita dos curiosos, após passar por uma reforma de R$ 15 milhões bancada pelo shopping Pátio Higienópolis, seu vizinho e atual proprietário do edifício.
O local será aberto ao público para um passeio monitorado durante a Jornada do Patrimônio, evento gratuito da prefeitura que ocorre neste sábado, dia 20. Mas esta será uma das poucas chances de conhecer o casarão, agora rebatizado de Casa Higienópolis, já que ele terá uso restrito para eventos privados —e para quem tiver a partir de R$ 40 mil para alugar o espaço.
Inspirado em palacetes franceses do século 19, o imóvel construído na década de 1930 conta com cinco pavimentos distribuídos em 2.300 metros quadrado, jardim, capela e teatro, com construção que incorpora elementos arquitetônicos de diferentes movimentos, passando por neoclássico, art déco e modernismo.
A história da casa é quase centenária. Sua construção foi encomendada em 1927 pelo barão do café Carlos Leôncio de Magalhães, o Nhonhô Magalhães, para servir de residência e receber grandes festas e saraus. Ele, porém, morreu antes de ver a obra finalizada, dez anos depois.
Sua mulher, Ernestina, e seus filhos se mudaram para a residência e moraram por lá até 1948, quando a viúva vendeu a mansão para o governo de São Paulo. O espaço teve diferentes usos nos anos seguintes, entre eles ser sede da Secretaria de Segurança entre 1974 e 1994.
O shopping Pátio Higienópolis entrou na jogada em 2005, quando comprou o imóvel do estado por R$ 19,5 milhões. O edital da venda, no entanto, determinava que parte do casarão fosse cedida para uso cultural, sem cobrança de ingressos, por 20 anos.
Por isso, a área que antes era a garagem da mansão foi transferida ao Paço das Artes, que ganhou uma sede definitiva no local, inaugurada em janeiro de 2020. O museu está aberto e recebe diferentes exposições, cursos e debates.
A restauração do edifício teve início apenas em 2009, quatro anos após ser adquirido pelo centro de compras. A longa reforma durou uma década —tempo necessário para fazer estudos técnicos e recuperar o conteúdo original da construção, segundo Toninho Sarasá, coordenador do processo de restauro.
"A casa se encontrava em um estado bem deteriorado, com interferências do uso público", diz.
Fissuras nas paredes, madeiras apodrecidas e pisos quebrados foram alguns dos problemas encontrados. Azulejos, vitrais e murais foram restaurados, enquanto um projeto de paisagismo recuperou os jardins e a garagem foi adequada para as normas museológicas.
Como o casarão é tombado nas esferas estadual e municipal, pelo Condephaat e pelo Conpresp, a fachada e as estruturas tiveram de ser mantidas. Mas o espaço ganhou alguns acréscimos, como um bar instalado em um dos cômodos. Outro ambiente ganhou espelhos e mesas como se fosse camarim, enquanto um terceiro foi equipado com cabines de banheiro.
Sofás, cadeiras, mesas de centro, abajures e cortinas foram adicionados em uma decoração luxuosa. Tudo foi pensado para receber os eventos particulares no local, que tem capacidade para até 250 pessoas.
Alexandre Biancamano, diretor de marketing do Iguatemi, empresa de shoppings que administra o Pátio Higienópolis, diz que o casarão também será aberto periodicamente ao público para visitas gratuitas. Um dos projetos é o Arq Tour, roteiro guiado pelo edifício e pelo bairro —mas ainda não há previsão para começar.
"A Casa Higienópolis vai ser utilizada basicamente para eventos privados, tanto por empresas que locam o espaço quanto por programações concebidas pelo shopping", afirma Biancamano. Entre eles, por exemplo, estão desfiles de moda e casamentos. O uso do imóvel como uma extensão do centro de compras sempre foi o objetivo do Iguatemi, diz o diretor de marketing.
A reabertura estava prevista para 2020, mas a pandemia de Covid-19 adiou os planos. Quem quiser conhecer o espaço tem uma das poucas chances neste sábado, dia 20, no passeio da Jornada do Patrimônio. Para isso, é preciso se inscrever antes por email para tentar uma vaga —a mensagem pode ser enviada no próprio dia da visita. Para ir depois, vai ser preciso esperar um convite de casamento.
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