Conheça a travessa Dona Paula, vila escondida em SP que reúne cafés e galerias de arte

Espaço em Higienópolis vê movimento crescer com a chegada de novos negócios

Entrada da travessa Dona Paula, em Higienópolis, na região central Gabriel Cabral/Folhapress

08/02/2023

23h15 - Atualizado em 17/02/2023 às 18h20

Nathalia Durval

São Paulo

Quem anda pela rua coronel José Eusébio, que passa ao lado do cemitério da Consolação e desemboca na via de mesmo nome, custa a notar a travessa Dona Paula. Mas a vila discreta, a poucos quarteirões da avenida Paulista, vem se tornando mais agitada graças a um conjunto de atrações —de café instagramável a galerias de arte.

Para chegar até as casinhas é preciso cruzar o portão de entrada, ladeado por plantas. Em formato de T, a viela tem sobrados em tijolos aparentes, chão de paralelepípedo, árvores e gatos à solta. A paisagem de cidade do interior faz esquecer da metrópole.

A poucos metros das movimentadas rua da Consolação e da avenida Angélica, em Higienópolis, região central da cidade, a vila fechada foi construída nos anos 1920 com sobrados residenciais —hoje, parte deles são comerciais.

Já centenária, a travessa Dona Paula começou a ganhar um novo público durante a pandemia, com negócios que decidiram se instalar ali.

Um deles é o Gato Griô, café que abriu as portas ao público em maio do ano passado. Com decoração 2D —ou seja, toda pintada em preto e branco, o que cria uma ilusão de ótica—, a cafeteria foi pensada para ser instagramável. Antes de completar um ano, acumula filas aos fins de semana com ajuda das redes sociais, em que contabiliza quase 47 mil seguidores.

"Embora a gente não tenha uma vitrine aberta para quem passa pela rua como as outras cafeterias, nosso público se programa para vir", diz Cássio Cicero, que toca o local junto ao marido, Eduardo Badaró. Quando buscava um imóvel para o negócio, a ideia do casal era justamente um que transmitisse aconchego.

Logo ao lado, há um outro café, o We Lov Cakes. Formada em moda, Patrícia Tenenbojm decidiu se dedicar aos bolos em 2013, a partir de uma receita de pão de ló de sua avó.

Ela aprendeu a prepará-lo e criou uma versão com brigadeiro rosa, que foi o pontapé para a marca. Em 2017, abriu uma loja na vila, ocupando uma das casas com decoração que aposta em tons pastel e mesinhas a céu aberto.

"Foi amor à primeira vista com a casinha e seu jardim. O clima da vila é uma delícia e quem vai lá fica encantado", conta Tenenbojm.

Foi naquele mesmo ano de 2017 que a publicitária Júlia Nuss acertou a mão no preparo de doces, aos 18 anos, ainda na faculdade. Ela começou vendendo brigadeiros aos colegas de curso. "Era para ser uma coisa a curto prazo, mas fui tendo retorno e virou o meu trabalho", ela diz.

Há cerca de um ano e meio, Nuss montou sua loja na vila, a Brigadayros. Em uma vitrine, ela expõe, além dos brigadeiros, que custam R$ 4,60 cada, bolos e cookies (R$ 11 cada), que podem ser comprados a pronta entrega ou pedidos sob encomenda.

Funciona em sistema semelhante a Farinha na Cozinha, padaria artesanal que ocupa outra casa e faz as entregas por uma janelinha.

Comandada pelos sócios Daniela Azevedo e Guilherme Arruda, a padaria começou com uma produção feita em casa e se mudou para a travessa em janeiro de 2020.

As fornadas saem diariamente. No menu, que varia a cada semana, estão pães diversos, como brioche (R$ 27) e bagel (R$ 15 duas unidades).

Mas nem só de gastronomia vive a travessa Dona Paula. A viela também abriga um coworking, uma importadora de vinhos e galerias, como a Projeto Vênus, de arte contemporânea brasileira, e A Gentil Carioca, escritório do Rio também de arte contemporânea.

Outros imóveis servem de moradia, ateliês e consultórios. Nos próximos meses, será aberto um restaurante da rede Pecorino na entrada da vila.

O portão fica aberto a visitantes de segunda-feira a sábado, das 8h30 às 18h30. Para os empresários, o que ameaça a tranquilidade da vilinha é o som de obras de novas construções nas proximidades.