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Teatro

Caetano Veloso e Gilberto Gil se tornam passos de dança em espetáculos do Grupo Corpo

'Gil Refazendo' e 'Onqotô', com canções dos músicos baianos, estreiam no teatro Alfa, em SP

São Paulo

​Dois dos principais artistas brasileiros, Caetano Veloso e Gilberto Gil acabaram de completar 80 anos e, em meio às comemorações, se juntam nos palcos de um jeito diferente —como passos de dança, em dois espetáculos do Grupo Corpo.

Os músicos baianos assinam as trilhas sonoras de "Gil" e "Onqotô", balés que abrem a temporada de dança do teatro Alfa, na zona sul da capital paulista, a partir desta quarta, dia 10. O dia de estreia está com ingressos esgotados.

O primeiro espetáculo, que estreou em 2019, volta aos palcos após dois anos fora de cena, mas totalmente reformulado pela companhia de dança mineira, rebatizado agora de "Gil Refazendo".

Cena do espetáculo 'Gil Refazendo', do Grupo Corpo
Cena de 'Gil Refazendo', do Grupo Corpo, em cartaz no teatro Alfa - José Luiz Pederneiras/Divulgação

A coreografia, assinada por Rodrigo Pederneiras, foi refeita, com novos movimentos e números, mas partindo da mesma trilha sonora criada por Gilberto Gil.

As mudanças partiram de uma insatisfação da própria companhia e também como uma forma de se adaptar às transformações do país, explica o diretor artístico Paulo Pederneiras, irmão de Rodrigo. "A gente tem que repensar o mundo, porque parece que precisamos refazer muitas coisas que foram sendo destruídas no nosso país. É hora de repensar e refazer tudo", diz ele.

A parte visual também mudou. Saíram de cena um fundo amarelo e figurinos coloridos, que deram lugar a algo mais sóbrio e roupas de tons pastéis. Um vídeo também mostra as transformações de girassóis —gravadas ao longo de 15 dias, as imagens são projetadas de trás para frente, fazendo com que as plantas murchas projetadas em cena voltem aos poucos à vida.

No palco, o balé é apresentado em grupos de vários bailarinos, em vez de duos e trios, como é costume nas coreografias. A única exceção é um solo de samba da bailarina Mariana do Rosário ao som de "Aquele Abraço".

"Em 47 anos do Grupo Corpo isso nunca aconteceu. Foi uma decisão muito difícil, mas achamos que ficou aquém do que poderia ser", conta o diretor artístico sobre a primeira versão do espetáculo. "Quem viu vai assistir a um outro espetáculo. Quem ainda não viu vai ver o Gil que nós desejamos."

Na trilha de 38 minutos, surgem músicas já conhecidas do público, mas que ganham variações e releituras. Entre elas, "Andar com Fé", "Toda Menina Baiana", "Tempo Rei", "Realce" e "Sítio do Picapau Amarelo".

Para as gravações, o músico baiano montou uma banda com instrumentos clássicos como sopros, flautas e pianos, que se juntam a guitarra, contrabaixo e também recursos eletrônicos, de samples a sintetizadores. O resultado é uma composição que mistura bossa nova, samba, jazz, modinhas e até música eletrônica e erudita.

Na sequência de "Gil Refazendo", outra coreografia do grupo é apresentada. Na esteira do aniversário de 80 anos de Caetano Veloso, "Onqotô" foi a escolhida para a dobradinha. "É uma homenagem aos dois", diz o diretor artístico.

Somadas as montagens, a apresentação do grupo Corpo dura cerca de uma hora e 20 minutos. Serão dez apresentações na temporada, ao longo de duas semanas ​

Criado em 2005 em celebração às três décadas da companhia mineira, o balé de Caetano é um dos mais tradicionais do grupo Corpo e apresenta trilha composta pelo músico baiano ao lado de José Miguel Wisnik. A coreografia é assinada também por Rodrigo Pederneiras.

O espetáculo parte de questionamentos existenciais e explora a sensação de pequenez do ser humano no universo —o nome, "Onqotô", representa um jeito mineiro de dizer "Onde que eu estou?".

São nove faixas originais, que envolvem percussões, pianos e contrabaixos, por ora apenas instrumentais, mas com vozes em algumas composições. As canções interpretadas pela dupla Caetano e Wisnik são ainda permeadas por poemas, com versos cantados de "Os Lusíadas", de Camões, e estrofes de um soneto de Gregório de Matos.

Gil Refazendo e Onqotô

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