Quem compõe as trilhas dos musicais em cartaz nos palcos de SP

Danilo Dunas e as veteranas Kiara Sasso e Anna Toledo produzem novas obras autorais do gênero

São Paulo

Por muito tempo, falar de teatro musical em São Paulo era praticamente sinônimo de falar de adaptações de espetáculos da Broadway. Ou, quando muito, de peças biográficas sobre músicos como Elis Regina e Tim Maia, que faziam uso do vasto repertório de canções desses artistas.

Mas, aos poucos, começa a se consolidar uma cena de compositores locais, dedicados a compor trilhas sonoras inteiramente novas, feitas especificamente para espetáculos brasileiros. E na cidade de São Paulo estão em cartaz vários espetáculos que carregam essas músicas autorais.

Danilo Dunas, um dos nomes que estão despontando na atual cena dos compositores de trilha sonora para teatro em SP
Danilo Dunas, um dos nomes que estão despontando na atual cena dos compositores de trilha sonora para teatro em SP - Karime Xavier/Folhapress

"Sempre fui fã de musicais, e desde que lancei meu primeiro álbum, sempre incluí canções com tom fortemente dramático, cênico, confessional", diz o paulistano Danilo Dunas, de 36 anos. Ele compôs as músicas de "Revista Babadeira", espetáculo drag que atualiza a linguagem do teatro de revista, e também um dos números do monólogo "Nasci pra Ser Dercy", sobre a humorista Dercy Gonçalves. Ambas as peças estrearam neste ano e seguem em cartaz na cidade.

Embora tenha iniciado carreira fonográfica no mercado independente apenas em 2016, com o lançamento de seu primeiro disco solo, ele já havia composto trilhas de séries, como o terror "Contos de Edgar", criada por Fernando Meirelles e exibida pela Fox.

Uma vez que suas canções já tinham verve mais teatral, algumas delas flertando com o bolero e a sofrência, chegar aos palcos era um movimento natural. "Sempre gostei de me colocar no lugar do outro, criar personagens", conta Dunas, que passou a usar suas músicas para ajudar a contar a trama do que é encenado ou sublinhar diálogos.

O compositor é parte de um movimento crescente. Na última década, Vitor Rocha, Elton Towersey, Fernanda Maia, Daniel Salve, Thiago Gimenes e Marco França têm criado obras autorais de sucesso no teatro musical, além de inspirar compositores populares como Ed Motta, Zeca Baleiro e Chico César a também mergulhar nessa seara.

Além deles, nomes com experiência na ribalta vêm se aventurando na renovação do gênero no Brasil. Considerada uma das principais atrizes do segmento, com algumas das protagonistas mais importantes do gênero no currículo, Kiara Sasso se arriscou como compositora no infantojuvenil "O Palhaço e a Bailarina", produzido em 2016.

Ao lado do parceiro Lázaro Menezes, e com a colaboração de Adrien Steinway, a artista deu os primeiros passos em sua produção autoral, que ganhará um novo capítulo com a estreia de "A Casa das Sete Mulheres", previsto para estrear em 2024. Ela diz que sentia que lhe faltava espaço no mercado.

A mesma impressão tomou conta de Anna Toledo, que passou a produzir letras originais com "Conserto para Dois", estrelado por Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello, que ficou em temporada até o ano passado.

Embora as produções originais venham conquistando mais espaço perante o público, poucos são os que movimentam multidões como as produções americanas montadas em terreno nacional. Para Toledo, contudo, é uma questão de tempo.

"Muitas montagens da Broadway que hoje veneramos não foram sucesso popular na primeira montagem, mas ganharam reconhecimento ao longo dos anos. Às vezes leva mais de uma temporada para que uma peça original encontre seu público", afirma.

Para Sasso, pesa contra os musicais uma espécie de ranço pelo fato de que o formato se consolidou lá fora, o que se torna um desincentivo à produção do gênero. "A galera quer fazer algo antiamericano, o que eu não acho muito inteligente, Eles têm uma fórmula que a gente sabe que dá certo, é o que prende a atenção da plateia", diz a atriz.

O brasiliense Fred Silveira endossa a impressão de Sasso, sua parceira de cena na última produção de "A Família Addams", em 2022. "A história deve ser boa de qualquer maneira, a música não vai entrar para salvar algo que não é bom por si só", afirma.

Dunas acredita que não há tema que não possa ser trabalhado em um musical. "Basta ter criatividade. Acredito que todas as dramaturgias possam virar um musical, inclusive aquelas que originalmente não foram pensadas como tal. É possível fazer uma peça biográfica sobre um grande cantor sem canções, por exemplo, mas com canções tende a ficar melhor."

Revista Babadeira

  • Quando 20 de janeiro a 19 de março (sex e sáb às 21h e dom às 19h)
  • Onde Espaço da Cia de Revista (al. Nothmann, 1135 - Campos Elíseos)
  • Preço Grátis
  • Autoria Neyde Veneziano, Dagoberto Felix, Alexia Twister e Thelores Drag
  • Elenco Alexia Twister, Antonia Pethit, Aprill XO e outros
  • Direção Neyde Veneziano
  • Canções originais Danilo Dunas
  • Acessibilidade

Nasci pra ser Dercy

  • Quando 13/01 a 26/02 (sex. e sáb às 21h | dom. às 19h)
  • Onde Teatro Itália Bandeirantes (av. Ipiranga, 344 - República)
  • Preço R$ 50,00 a R$ 80,00
  • Autoria Kiko Rieser
  • Elenco Grace Gianoukas
  • Direção Kiko Rieser
  • Acessibilidade

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