Bixiga ganha novos centros culturais que se somam aos tradicionais teatros e cantinas

Espaços Culturais novos e antigos no Bixiga
Fachada da sede do Teatro do Incêndio, na esquina das ruas 13 de Maio e Santo Antônio - Alberto Rocha/Folhapress


Adotado como lar por imigrantes italianos, descendentes de africanos e migrantes nordestinos no início do século passado, o Bixiga é, faz tempo, símbolo da diversidade cultural da cidade: reúne cantinas italianas, samba (é lá que fica a Vai-Vai), lojas de antiguidades e teatros.

Depois de perder o posto de bairro boêmio para a Vila Madalena, em meados dos anos 1990, ele vive agora uma renovação de sua vida cultural sem se desconectar da tradição.

Marco dessa onda é a instalação, em meio aos clássicos teatros e cantinas, de novos espaços culturais e gastronômicos engajados, como o restaurante Al Janiah, onde boa parte dos funcionários é de refugiados palestinos –e que oferece, além do cardápio árabe, shows de imigrantes e cursos e debates ligados ao tema.

Ali perto, a Casa 1 promove oficinas para adultos e crianças enquanto acolhe representantes da comunidade LGBT em situação de risco. Já a Casa Palco criou um espaço de eventos em que grupos de teatro e de dança ensaiam e trocam experiências.

Junto a essas iniciativas, chegou também uma leva de novos bares e restaurantes à região, como o Clã Destino e o Espaço 13. Desde 2016, pelo menos 14 novos estabelecimentos abriram as portas por lá.

Tal movimento num bairro histórico é sempre um alerta para o risco de gentrificação, processo em que a supervalorização de imóveis e serviços empurra a população original para outras regiões. "A possibilidade existe, pois, conforme o bairro vai se tornando mais interessante, também atrai um grupo mais abastado", diz o historiador Rodrigo Silva, que já ministrou cursos no Sesc sobre o bairro. "Mas outro caminho que o Bixiga pode seguir é o de entender suas características e criar grupos de pressão e de influência [para preservá-las]". Confira nas próximas páginas um roteiro para explorar o novo velho Bixiga.


Espaços Culturais

AL JANIAH 
Misto de bar, restaurante árabe e espaço cultural, o Al Janiah (pronuncia-se "Al Jânia"), do palestino-brasileiro Hasan Zarif, abriu as portas em 2016, na rua Álvaro de Carvalho, mas mudou-se há seis meses para o Bixiga. Com referências políticas na decoração e no menu –o drinque mais famoso do local é o Palestina Libre, com araque, cachaça, limão e zátar verde–, a casa respira engajamento político, mas também há espaço para um clima de celebração entre amigos.

Na programação, há cursos de línguas, debates, shows e eventos de celebração da cultura dos imigrantes, como o Congo Ancestral, neste sábado (8), com show, performance e poesia que ressaltam a cultura africana. 
R. Rui Barbosa, 269, s/ tel. 400 lugares. Ter. a qui.: 18h às 24h. Sex. e sáb.: a partir das 18h. Couvert artístico: R$ 10.

Espaços Culturais novos e antigos no Bixiga
Roda de samba na área externa do Al Janiah - Alberto Rocha/Folhapress

CASA PALCO 
O endereço é velho conhecido da cena teatral paulistana. Além de ainda abrigar a sede do Teatro da Vertigem, o imóvel já foi casa do grupo Nova Dança e, até o fim de 2016, do Teatro de Narradores. Com a saída do grupo, a diretora Eliana Monteiro, o iluminador Guilherme Bonfanti e a cenógrafa Marisa Bentivegna se uniram para montar, no começo deste ano, um espaço para grupos de teatro e de dança ensaiarem e trocarem experiências. Os organizadores também pretendem realizar cursos, aulas e pequenos eventos, como shows e projeção de filmes no terraço. 
R. Treze de Maio, 240, 2º andar, tel. 98278-8383. Seg. a dom.: 8h. facebook.com/casapalco2017

Diversidade
Ambiente do espaço Casa 1 - Zanone Fraissat/Folhapress

CASA 1 
Inaugurado em 2016, o local é um espaço de acolhida do público LGBT em situação de risco e também um centro cultural com programação gratuita. Entre as atividades oferecidas estão a oficina de desenhos para o público infantil (às quartas, a partir das 10h) e aulas de canto (segundas, às 20h). Os laboratórios de dança, teatro e performance têm programação mensal temática –em julho, artistas soropositivos ministram workshops. Veja a programação e saiba como se inscrever em facebook.com/casaum. 
Casa 1 - R. Cdssa. de São Joaquim, 277, s/ tel. 100 pessoas. Seg. a dom.: 10h às 22h. Grátis.

CASA JARDIM SECRETO 
As sócias da descolada feira de pequenos produtores –que frequentemente acontece na praça Dom Orione, também no Bixiga– escolheram o bairro para estabelecer seu ponto fixo, a Casa Jardim Secreto. Com inauguração prevista para o dia 21/7, o local terá loja colaborativa com itens de 50 expositores, programação cultural dedicada ao consumo consciente e espaço de coworking, além do Nano Cafés Especiais, com bebidas e comidinhas. 
R. Conselheiro Carrão, 374, s/ tel. 200 pessoas. A partir de 21/7.

CENTRAL PANELAÇO 
Inaugurada há um ano, a loja do roqueiro João Gordo divide imóvel com a Barbearia Cavalera (Panelaço também é o nome do canal de culinária vegana de Gordo no YouTube). Lá são vendidos camisetas de bandas, itens de decoração, temperos e pratos congelados veganos. Para comer, é famosa a coxinha de jaca, que pode ser acompanhada de cervejas e shots. A casa costuma receber palestras e workshops aos fins de semanas. 
R. Conselheiro Carrão, 451, tel. 2619-3472. Seg. a sex.: 13h às 20h. Sáb.: 11h às 20h. 

CASA BARBOSA 
O clima do local, instalado desde setembro de 2016 em uma casa tombada pelo patrimônio histórico, é o de um encontro entre amigos. O público beberica em pé e nas poucas mesas disponíveis enquanto curte apresentações de grupos de samba e de jazz, entre outros ritmos, que costumam rolar por ali. Além do som ao vivo, há também discotecagem em vinil. Nesta sexta (7), a casa recebe o grupo Sambarbosa, que revisita canções de Cartola, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola, entre outros compositores. 
R. Rui Barbosa, 559, s/ tel. 150 pessoas. Qua. a sex.: 19h às 2h. Sáb.: 18h às 2h. Dom.: 17h à 1h. Sambarbosa - sex. (7): 19h. Ingresso: R$ 5 a R$ 10. Quarta-feira: grátis. 

Espaços Culturais novos e antigos no Bixiga
Fachada da Casa Barbosa - Alberto Rocha/Folhapress

MUNDO PENSANTE 
Um dos primeiros da nova leva de espaços culturais a se estabelecer na região, o Mundo Pensante chegou no Bixiga em 2013 e, em maio, se mudou para o imóvel que abrigou o finado clube Glória. Com programação que integra música, artes e cursos de filosofia, o espaço também é conhecido por sediar baladas e shows que destacam a música brasileira. 
R. Treze de Maio, 830, tel. 5082-2657. Shows e festas: ter., qui., sex. e sáb: 23h às 6h. Cursos: programação em mundopensante.com.br. 18 anos. Ingr.: R$15 a R$ 40. 

PIPA - PRAIA URBANA 
Desde fevereiro, uma área de 2.000 m² com areia, guarda-sóis, cadeiras, duchas e árvores virou a verdadeira praia de paulista. O local promove atividades e oficinas, além de ser um espaço de convivência. Não é permitido entrar com alimentos, mas um bar serve bebidas, como chope artesanal e suco. Nos fins de semana, recebe food trucks. 
R. Dr. Alfredo Ellis, 198, ​tel. 99812-1646. Ter. a dom.: 9h às 21h. Livre. Grátis.

VILA ITORORÓ 
O conjunto arquitetônico do início do século 20, que concentra casas e um palacete, ocupa a divisa entre os bairros da Bela Vista e da Liberdade. O espaço residencial que acabou virando cortiço foi tombado como patrimônio municipal (2002) e estadual (2005) e teve sua restauração iniciada em 2013. Em 2015, o local abriu as portas como centro cultural. Um galpão com instalações artísticas interativas, aberto ao público, dá acesso à Vila.Atualmente, as oficinas culturais estão suspensas, mas é possível usar o espaço para ensaios, explorar a biblioteca com obras sobre arquitetura e frequentar o Fab Lab, laboratório com impressoras 3D. Aos sábados de manhã, o local oferece sessões gratuitas de psicanálise. 
R. Pedroso, 238, s/ tel. Ter., qua., sex. e sáb.: 9h às 17h. Qui.: 9h às 20h. Livre. Grátis.

Espaços Culturais novos e antigos no Bixiga
Obras de restauração da Vila Itororó - Alberto Rocha/Folhapress

TEATROS 
O Bixiga é famoso por reunir sedes de grupos teatrais. Um dos mais conhecidos, o Oficina já teve o prédio destruído por um incêndio e enfrenta um imbróglio imobiliário com o Grupo Silvio Santos há mais de 30 anos, mas segue na área desde os anos 1960. O edifício que hoje abriga a trupe, capitaneada por Zé Celso, foi construído nos anos 1990, com projeto da arquiteta Lina Bo Bardi. Também resistem no bairro teatros como Ruth Escobar, Maria Della Costa, Sérgio Cardoso, Mars e Incêndio. 
Teatro Oficina - R. Jaceguai, 520, tel. 3104-0678 
Teatro do Incêndio- R. 13 de Maio, 48, tel. 2609-3730


Boemia e Gastronomia

PAFUNÇA 
Aberto em fevereiro, o simpático boteco é uma das novas atrações do bairro, com atendimento informal e grafites colorindo as paredes. Um desenho do sambista Adoniran Barbosa indica a vocação da casa para a música –há shows de forró, samba, jazz e outros ritmos. O menu de comes varia a cada evento, mas a casa sempre oferece salgados e sanduíches. Cervejas em garrafas de 600 ml acompanham as conversas no bar. Aos sábados, o trio Terra da Garoa toca forrró ao vivo. 
R. Treze de Maio, 100, tel. 97508-5942. 25 lugares. Qua., qui. e dom.: 17h30 às 23h. Sex. e sáb.: 17h30 à 1h.

Espaços Culturais novos e antigos no Bixiga
Balcão do bar Pafunça - Alberto Rocha/Folhapress

446 VIROU BAR 
O número 446 da rua Rui Barbosa abrigava uma loja de antiguidades até que, como o nome sugere, virou um bar, há cerca de dois meses. As noites são animadas por shows, com foco na MPB. Para acompanhar as apresentações, a casa oferece drinques clássicos e porções rápidas, como fritas e pastéis. 
R. Rui Barbosa, 446, tel. 95177-4046. Sex. e sáb.: a partir das 18h. Dom.: 11h às 19h.

BUONA FATIA 
O pizza-bar, inaugurado em fevereiro, fica num pequeno salão com decoração em estilo vintage e jazz na trilha sonora. As massas, fininhas e crocantes, são servidas em pedaços de 30 cm que já vêm cortados para facilitar a comilança. Entre as opções de cobertura, a marguerita leva queijos mozarela, parmesão, molho e rodelas de tomate e pesto de manjericão. Para beber, há cerveja e vinho. 
R. Conselheiro Carrão, 466, tel. 2193-2885. 20 lugares. Ter. a qui.: 18h às 24h. Sex. e sáb.: 18h à 1h. 

CLÃ DESTINO 
O gastrobar evita produtos industrializados nas receitas e produz artesanalmente quase todos os ingredientes do menu, como embutidos e bacon –que aparecem em tábuas e lanches e refrigerantes. 

Decorada com um enorme grafite, a casa também oferece petiscos como o bolinho de tapioca com gorgonzola e castanhas. Nas torneiras de chope brilham bebidas de cervejarias nacionais. 

Neste sábado (8), o bar recebe DJs que tocam soul, brasilidades e reggae, em festa aberta ao público. 
R. Maria José, 423, tel. 3112-2369. 40 lugares. Seg. a sex.: 17h às 24h. Sáb.: 14h à 1h. 

Bolinho de tapioca com gorgonzola e castanhas do gastrobar Clã Destino ***  ****
Bolinho de tapioca com gorgonzola e castanhas do Clã Destino - Bruno Bucci/Divulgação

CATZO 
O pequenino bar de inspiração italiana abriu as portas para o público em maio. A dica é sentar-se nas poucas mesinhas na calçada e pedir um dos drinques da casa –o gim-tônica Deserto tem cardamomo e água de rosas– ou uma das cervejas especiais da geladeira. 
R. Treze de Maio, 772, tel. 99668-5626. 50 pessoas. Qui. a sáb.: 17h às 24h. Dom.: 12h às 18h. 

ESPAÇO 13 
Em frente à praça Dom Orione, a casa reúne barbearia, estúdio de tatuagem e bar de drinques com shows de estilos variados. Para beber, aposte no Kustom Kokaine (shot de rum, limão, pó de café e açúcar). A casa também organiza eventos na região. Neste sábado (8), das 14h às 20h, promove o Escadaria do Jazz, na escadaria do Bixiga, com bandas, DJs e food trucks. 
R. Treze de Maio, 798, tel. 3596-4140. 60 lugares. Ter. a sáb.: 11h à 0h30.

Centenários

O Bixiga reúne alguns dos estabelecimentos mais antigos da cidade, como a padaria Italianinha, fundada em 1896, a cantina Capuano, inaugurada em 1907, e a padaria Basilicata, que abriu em 1914 e lançou um restaurante em março deste ano. Saiba mais:

BASILICATA 
O pão italiano é a estrela desta padaria centenária, mas as roscas recheadas de linguiça e provolone também fazem sucesso. Entre os doces, experimente a fatia crocante, uma torta italiana feita com castanha, nozes e amêndoas.

Em março, a casa mudou para um imóvel maior e inaugurou um restaurante no andar de cima. O menu, com receitas do sul da Itália, é assinado por Rafael Lorenti, da quinta geração da família de fundadores. Entre as receitas, destaque para o fusilli com molho de tomate e molica (farofa de pão e parmesão) e para a bruschetta de aliche. Para arrematar, pastéis de castanha e especiarias. 
R. Treze de Maio, 596, tel. 3289-3111. 90 lugares. Ter. a qui.: 12h às 15h30 e 19h30 às 23h30. Sex.: 12h às 15h30 e 19h30 à 1h. Sáb.: 12h à 1h. Dom.: 12h às 17h.

São Paulo, SP, Brasil, 22-03-2017: Basilicata - Brusqueta com Aliche(foto Roberto Seba/Folhapress) ***EXCLUSIVO REVISTA***
Bruschetta de aliche da Basilicata - Roberto Seba/Folhapress

CAPUANO 
A história da cantina aparece nas paredes da casa, decoradas com matérias de jornais, fotos e quadros que remetem à Itália. As especialidades do local, que vêm em porções fartas, são o fusilli ao sugo e o cabrito. 
R. Conselheiro Carrão, 416, tel. 3288-1460. 67 lugares. Ter. a sex.: 11h30 às 15h e 19h às 23h30. Sáb.: 11h30 às 16h30 e 19h às 24h. Dom.: 11h30 às 17h. Couvert artístico: R$ 5,50.

Guia de cantinas italianas - Revista da Hora
Prato do restaurante Capuano - Vinicius Pereira/Folhapress

ITALIANINHA 
A padaria é comandada por cinco mulheres da família Franciulli. Os pães recheados, como o de calabresa (feita na casa), são imperdíveis. No inverno, o local serve diferentes tipos de caldo, como de mandioquinha ou de abóbora, para aquecer os clientes. 
R. Rui Barbosa, 121, tel. 3289-2838. Seg.: 14h às 20h. Ter. a sáb.: 7h às 20h. Dom.: 7h às 15h. 

PADARIAS ITALIANAS
Pão recheado com calabresa da padaria Italianinha - Fernando Donasci/Folhapress

Memória Afetiva

Fundado em 1982 por Armandinho Puglisi (1931-1994), uma espécie de agitador cultural da região, o Museu Memória do Bixiga reúne objetos, documentos e outros itens sobre o bairro –que, em sua maioria, foram doados por moradores locais. Depois de um período fechado, o local voltou a funcionar em abril. Sem verba ou patrocínio, é tocado por voluntários e só abre para visitação com horário marcado. Agende sua visita pelo museubixiga@gmail.com.
Rua dos Ingleses, 118


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