Carta de suicídio de Kurt Cobain é base de peça que "recria" seus últimos dias

Nada de musical ou de tentar mostrar o sucesso estrondoso do Nirvana. A peça "Aberdeen - Um Possível Kurt Cobain", que estreia neste sábado (7) na Galeria Olido (centro de São Paulo), abre espaço ao lado frágil, solitário e autodestrutivo do músico, que se matou em 5 de abril de 1994.

Crédito: Zé Carlos Barretta/Divulgação

A história toda se passa com base em divagações, pensamentos e conversas que Cobain teria tido com Boddah, seu amigo imaginário, nos três dias em que foi considerado desaparecido --antes da localização do corpo.

O ator Nicolas Trevijano, idealizador do projeto e intérprete do monólogo, conta que decidiu fazer a peça após assistir ao filme "Retrato de uma Ausência", que mostrava o lado humano do artista. "Saí encantado com ele, e resolvi falar desse homem angustiado, sensível, apaixonante, e de sua tentativa de compreender o mundo", explica.

Trevijano também diz que, durante a preparação do espetáculo, a equipe procurou um psicólogo para entender melhor os pensamentos do líder do Nirvana. Entregaram o texto da peça e a carta de suicídio, que falava de empatia. "Tentamos essa aproximação, de saber o que ele tem que está em mim e em todos nós."

"Aberdeen - Um Possível Kurt Cobain" tem direção de José Roberto Jardim e texto de Sérgio Roveri. A entrada é gratuita. Aberdden, do título, é o nome da cidade norte-americana onde o músico viveu a infância e a adolescência.

Crédito: Robert Sorbo/AP Lado frágil de Kurt Cobain (foto), vocalista do Nirvana, é tema de peça que estreia sábado (7) na Galeria Olido


LEIA ENTREVISTA COM NICOLAS TREVIJANO:

Guia Folha - Vocês fizeram um estudo psiquiátrico para entender Kurt Cobain?
Nicolas Trevijano - O diretor, antes de começarmos a ensaiar, fez uma reunião com um amigo nosso que é psicológo e professor de filosofia. Ele entregou o nosso texto e a carta de suicídio um dia antes e depois nos encontramos. Entendemos um pouco mais dele, o que foi importante para humanizar esse homem/personagem que tinhamos pela frente. Kurt, em sua carta de despedida, fala de empatia. Na filosofia, empatia é a capacidade que temos de nos colocarmos no lugar do outro e, assim, entender alguma coisa em nós mesmos. Tentamos, nesse processo todo, essa aproximação, do que ele tem que está em mim e em todos nós.

Crédito: Divulgação

Por que resolveu fazer a peça? Por que vale a pena conhecer esse lado psicológico dele?
Fui assistir a um filme chamado "About a Son" ("Retrato de uma Ausência"), no cinema. Um filme onde achei que ia ver o Kurt músico, o roqueiro que havia mexido comigo há 20 anos. Sai de lá conhecendo um pouco mais do homem, e tão encantado com ele que resolvi fazer esta peça. Uma peça que falasse exatamente desse homem angustiado, sensível, apaixonante, e da sua tentativa de compreender o mundo.

Ao mesmo tempo, essa história me pegou porque estava vivendo uma crise existencial, onde as minhas perguntas ecoavam sem nenhuma resposta. Estava vendo a minha juventude que me abandonou, a morte se aproximando. Essas coisas que, escritas assim, parecem bobas, mas quando você sente é realmente duro. A vida passa muito rápido, acho que a peça é uma forma de tentar entender, sentir, viver isso.

Já esse lado psicológico acho que vale a pena conhecer sim. Um homem bonito, rico, um artista bem sucedido, com reconhecimento e fama, e que refuta tudo isso porque a vida não fazia sentido. É estranho, não?! Não é atrás disso que passamos a vida toda? Na nossa sociedade materialista e utilitarista, o lema é pisar, subjugar o outro, pra conseguir ser alguém. Se a gente conseguir entender um pouco dele, e o dele que há em nós, quem sabe não perceba alguma outra coisa mais sutil e profunda nas nossas vidas, em quem realmente a gente é.

Mergulhar nos pensamentos e emoções do Kurt mexeu com a sua vida?
Acho que já meio que respondi isso, mas, resumindo, mexeu sim. Só como história, se você me contar isso como um personagem, uma ficção, já mexeria. Acho muito triste e ao mesmo tempo interessante esse cara. E quando isso se aproxima de você (empatia), daí as histórias fazem muito mais sentido.

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