Como muitos atores, Thiago Lacerda pensava há um tempo em montar um texto de William Shakespeare, mas descartava a ideia de interpretar "Hamlet". "Sempre me pareceu a peça mais montada, a mais conhecida, o personagem mais falado", diz.
- Fenômeno de público, musical "Tim Maia" retorna a SP com ingresso a R$ 40
- "O Rei Leão" estreia em março com músicas adaptadas por Gilberto Gil
- "Guia" indica oito comédias e dramas imperdíveis do teatro
- Premiada cia. questiona realidade em maratona de monólogos
Mas mudou de ideia quando surgiu o convite de ser dirigido por Ron Daniels, um especialista no bardo inglês e diretor associado da companhia inglesa Royal Shakespeare Company.
Seu "Hamlet", uma releitura contemporânea do texto, estreia nesta sexta-feira (19) no Tuca (zona oeste de São Paulo).
O ator interpreta o papel-título da clássica tragédia, o do príncipe dinamarquês que, ouvindo o fantasma do falecido pai, decide vingar a sua morte.
Leia a seguir a entrevista que Lacerda concedeu ao "Guia":
Guia Folha - Você já tinha há um tempo a ideia de montar um Shakespeare, mas não um "Hamlet". Por quê?
Thiago Lacerda - Meu último espetáculo foi uma montagem de "Calígula" [2008, dirigida por Gabriel Villela], de Albert Camus. Pensei que, depois disso, talvez fosse uma boa oportunidade de montar um Shakespeare. Obviamente, o primeiro texto que vem à cabeça, nessa fase da minha vida, é "Hamlet". Mas sempre me pareceu a peça mais montada, a mais conhecida, o personagem mais falado. De todos os espetáculos de Shakespeare, talvez tenha sido o que eu mais vi. Então, optei por não pensar nisso. E transformei Calígula no meu Hamlet. Porque a estrutura de Camus é simular a "Hamlet", quer dizer, ele usa em "Calígula" um pouco do que Shakespeare propõe como estrutura dramática.
E como foi quando surgiu o convite para viver o príncipe da Dinamarca?
Ruy Cortez [produtor da peça] me ligou, em nome de Ron Daniels, propondo "Hamlet". Eu imediatamente aceitei, porque era Ron e porque foi um convite muito gentil. Eu logo desisti da ideia de não pensar em "Hamlet" e percebi que, se eu não fizesse Hamlet nesse momento, eu não faria nunca mais. A ideia de estar com Ron era talvez uma espécie de argumento que faltava para mim, porque ele tem uma vivência desse texto que me fez abrir mão de todo esse sedimento que temos sobre a obra.
Daniels propõe para a montagem que a equipe esqueça as referências da obra e olhe para esse "Hamlet" como se visse o texto pela primeira vez. Como é para você essa abordagem?
Eu acho essa proposta maravilhosa, porque é claro que hoje muito pouca coisa da peça é cem porcento original. Ao longo desses séculos em que esse texto foi montado, ele já foi lido, relido, pensado, repensado. O que interessa basicamente quando Ron diz "uma forma totalmente nova" é que a gente tem que se manter íntegro, isso é um procedimento de disponibilidade absoluta de cada um de nós para com a obra.
Daniels também propõe um certo humor sarcástico no texto...
Essa ideia do humor é muito nova para mim. A forma como Ron enxerga o humor nesse texto, por exemplo, eu nunca tinha enxergado. O humor que a gente imprime nessa montagem é muito influência de um pensamento dele.
E como está sendo a construção do seu Hamlet?
A minha construção tem sido cotidiana. Antes de começar o processo, a gente já tinha conversado sobre a ideia de nos mantermos íntegros sobre o texto. E eu deixei essas referências todas, todos os livros que estava lendo, para trás. Eu me dediquei à nossa mesa de leitura e ao nosso ensaio. A gente discorda em muitos momentos. Mas eu apresento a minha ideia e é bonito de ver um cara como Ron dizer "tá bom". Esse é o frescor que ele busca.
Comentários
Ver todos os comentários