O palhaço Bambine recepciona o público que chega ao circo Moscou, no bairro de Itaquera, em São Paulo, acompanhado por um quarteto de músicos e usando máscara contra a Covid-19. “Voltar a trabalhar é como ter ganho na loteria”, diz Brian Palacios, 30, que faz o personagem.
Os circos seguem as mesmas regras do plano de quarentena estadual que afrouxou restrições no estado nesta semana. Hoje, eles podem se apresentar com lotação máximo e em horários que invadem a madrugada —mas, assim como cinemas e teatros, precisam manter o distanciamento na plateia, mantendo bloqueados assentos no picadeiro.
Máscaras, álcool em gel e pouca interação são o novo normal do circo na pandemia, que tenta convencer o público a se reunir novamente embaixo da lona. No período em que foram impossibilitados de trabalhar, muitas companhias relataram dificuldades e tiveram artistas com problemas financeiros, sem condições até para comprar comida para seus familiares.
Marlene Querubim, presidente da União Brasileira de Circos, diz que o cenário ainda está sendo mapeado. “No Brasil, tínhamos cerca de 600 companhias itinerantes. Neste momento, não sabemos ainda dizer quantos deles sobraram”, afirma ela, que também é fundadora do circo Spacial, atualmente aberto na zona sul paulistana.
Mesmo a volta traz novas dificuldades. Manter a atenção das crianças está ficando cada vez mais difícil, dizem os artistas. Bambino e seus dois irmãos que também são palhaços, Willy, 18, e Luzian Palacios, 30, não usam mais apenas esguichos de água e tropeços inesperados para ganhar a plateia. Agora, eles também precisam estar atualizados com as dancinhas mais populares do TikTok, por exemplo.
No Moscou, uma apresentação dura duas horas e meia e é dividida em duas partes. Na primeira, há as tradicionais apresentações com trapezistas, mágicos e o globo da morte —no qual três motoqueiros se aventuram dentro de uma gaiola de metal.
Então vem um intervalo de 15 minutos, quando artistas aproveitam para vender brinquedos a partir de R$ 10 e pipocas a R$ 8. É o caso do malabarista Cauã Freitas, 18, que vende churros e pipoca após terminar o seu número.
A segunda parte é reservada para o Mickey e a Disney. É nessa hora que Andreline Santana, 29, se apresenta com fantasia de princesa e cantando clássicos da empresa. Ela comenta que, desde a volta do público presencial, a companhia fez o espetáculo “Disney Magic Show”, com referências a sucessos como “Frozen”, “A Bela e a Fera” e “Toy Story”. “Algumas crianças já não se identificam com os palhaços, então essa programação ajuda a atrair mais gente.”
Essa é uma estratégia comum aos picadeiros. O circo Roma, por exemplo, que tem duas unidades montadas na zona sul de São Paulo, muda semanalmente o conteúdo dos shows com personagens mais pops —como os de “Patrulha Canina”, desenho famoso entre crianças pequenas. É o caso do Illusion também, que atualmente se apresenta no sambódromo do Anhembi.
Mas nem todos estão de volta. Mais cauteloso, o circo Spacial, um dos mais tradicionais do Brasil, com 36 anos de estrada, programa sua volta para o final de setembro. Querubim, fundadora da companhia e presidente da organização que representa os circos no país, diz que no momento as lonas estão erguidas no clube ADC Eletropaulo,às margens da Guarapiranga, aproveitando a pausa para realizar manutenções e preparar a volta, programada para 25 de setembro, com um espetáculo de um mês em comemoração ao aniversário do grupo.
“Achamos que seria mais prudente esperar a volta de 100% da capacidade de ocupação e um número maior de pessoas vacinadas para conseguirmos trabalhar com mais segurança”, afirma.
Também com mais cuidado em relação ao coronavírus e à volta dos eventos presenciais, o Sesc programou, entre 28 de agosto e 4 de setembro, um festival circense virtual com 11 apresentações e atrações internacionais, sendo três delas inéditas.
Entre as novidades do Festival Internacional Sesc de Circo, o show “Retumbantes” mistura números clássicos e música com composições autorais criadas para acompanhar ao vivo os acrobatas, equilibristas e ilusionistas.
Aos que preferem apostar nos eventos presenciais, é importante lembrar que ainda é momento de cautela, sobretudo por causa do avanço da variante delta da Covid-19 no Brasil. Quem quiser ir ao circo deve sempre manter o distanciamento mínimo em relação às outras pessoas, estar de máscara —a não ser na hora da pipoca, é claro— e higienizar constantemente as mãos.
Para a trapezista do Moscou, Patricia Tiemi Kuwai, 30, ver famílias indo novamente aos picadeiros é um alívio após mais de um ano sem conseguir trabalhar. “Se apenas uma pessoa comprar ingresso para o espetáculo, eu já me sinto realizada”, comenta.
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