Vencedor em visão de palco e programação
Não há nenhum outro lugar como o Cine Joia em São Paulo. A casa, inaugurada em 2011, preenche sozinha uma lacuna específica em São Paulo —a de um espaço de shows pequeno que recebe, ao mesmo tempo, rostos nacionais em ascensão e artistas incensados internacionalmente que ainda têm público em formação no Brasil.
Esse é um dos motivos que fizeram da casa no bairro da Liberdade, criada pela dupla Facundo Guerra e Lucio Ribeiro, uma das queridinhas da cidade. No espaço charmoso e versátil desde sua criação —começou nos anos 1950 como cinema e se transformou em sede de igreja pentecostal—, dificilmente há uma fatia de público que não tenha sido contemplada em algum momento.
Só neste ano, por exemplo, a agenda agradou fãs de música pop com a americana Fletcher, que tem marcado presença em lineups de festivais pelo mundo, fez os roqueiros felizes com Tortoise e The Lemonheads, anunciou shows da lenda do reggae Marcia Griffiths e de Julian Marley e incluiu em sua programação o rap de Don L, Black Alien e Kyan. A lista vai longe e também inclui outros nomes brasileiros importantes, como Marcos Valle, Otto, Xenia França e Curumin.
Essa curadoria acertada e inventiva é o traço mais consistente do espaço desde sua criação. Para os aficionados em novidades, entrega a oportunidade de ver seus artistas preferidos bem de perto antes que eles e os valores de seus ingressos cresçam ou que se precise pagar o preço de uma entrada de festival para ter esta oportunidade.
Para os saudosos, traz com frequência bandas lendárias que ajudaram a moldar a música que o próprio Joia reverencia atualmente na figura de artistas contemporâneos. É uma combinação poderosa que, se não existisse, tornaria a cena paulistana bem menos empolgante.
A experiência ainda é potencializada por uma visão dos shows que também é rara na cidade. O palco é baixo, o que deixa toda apresentação mais íntima, a vista é limpa e próxima em qualquer ponto do salão e do mezanino e a estrutura de cinema, com piso inclinado, é a melhor amiga de quem não consegue um lugar na frente do artista e acaba recompensado por uma uma visão ampla e mais alta dos fundos.
Essa mesma estrutura pensada apenas para se assistir a filmes, no entanto, é muito provavelmente a principal responsável pela maior fraqueza do espaço. Passam-se os anos e o som do Cine Joia continua sendo um dos menos eficientes entre os concorrentes, recebendo queixas constantes do público.
A acústica específica faz com que uma apresentação com som alto e limpo seja mais a exceção do que a regra para os seus frequentadores. É comum ir a um show no lugar e ter que fugir de pontos em que o som esteja abafado, que a voz do artista ou os instrumentos não sejam valorizados e a conversa da pessoa ao lado seja mais alta do que a música tocada no palco.
A situação é sempre mais complicada em shows internacionais, quando a banda viaja com seu próprio técnico de som que não conhece as especificidades daquela estrutura. O resultado é uma experiência imprevisível, que quando não é feita de forma eficiente consegue ser totalmente bem aproveitada apenas por quem está no centro da casa, perto de onde os amplificadores são operados.
Assim, o Cine Joia, uma das casas mais essenciais da cidade, perde um tanto de seu brilho. Mas seus fiéis frequentadores, cientes da singularidade das noites naquele lugar, estão sempre dispostos a dar mais uma chance.
2011
É o ano em que o Cine Joia foi inaugurado
Conheça
Outro lugar com programação de qualidade é o Bona (r. Dr. Paulo Vieira, 101, Sumaré)
Cine Joia
Pça. Carlos Gomes, 82, Liberdade, região central. Instagram @cine_joia. Programação em cinejoia.byinti.com
Comentários
Ver todos os comentários