Ganhadores em programação, bar e comida e custo-benefício
É difícil bater o combo que guarda o número 93 na rua Clélia, na zona oeste de São Paulo, quando o assunto é excelência musical. O espaço, que funciona como sede da principal unidade do Sesc na capital paulista, é também o local que concentra a maior e melhor parte da programação de música da rede.
Tudo começa pela própria arquitetura do lugar, que por si só já valeria a visita. A construção, que logo na entrada ganha ares de vila de cidade pequena por causa de uma rua de paralelepípedos que a corta em dois lados, acabou se tornando uma joia brutalista e um dos projetos mais reconhecíveis da cidade.
Nas mãos da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, os galpões que eram usados por fábricas de tambores, geladeiras e querosene em décadas anteriores se transformaram em uma grande estrutura de tijolinhos aparentes inaugurada em 1982 e inteiramente pensada para abrigar um complexo cultural, o que muda toda a experiência para os frequentadores.
Do lado direito, próximo aos portões de entrada do Sesc, fica o acesso para o teatro que é a estrela da unidade e tem capacidade para abrigar até 746 pessoas. Um palco quadrado fica no centro do espaço de dois andares de concreto aparente, e fileiras de cadeiras de madeira revestem dois dos lados do salão.
Quem fica nas laterais consegue assistir aos espetáculos em bancos no mezanino, que também têm ótima visão.
O palco centralizado e cercado por todos os lados é raridade na cidade e aumenta a aura de reverência aos artistas que pisam nele. Ao mesmo tempo, sua altura mínima quase elimina a distância do público, tornando tudo o que acontece ali extremamente íntimo.
É neste lugar que nomes como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé tocaram no começo de suas carreiras. E até hoje ele mantém a tradição de ser ponto de experimentação de grande parte dos músicos independentes que chegam aos palcos paulistanos —gente como Luiza Lian, Boogarins e Letrux, que souberam tirar o melhor daquele espaço.
Do outro lado da rua, a comedoria, carinhosamente chamada de choperia por seus frequentadores, costuma receber a fatia mais agitada e informal da programação e tem capacidade para até 800 pessoas.
Apresentações inesquecíveis de gente como Caetano Veloso, The Sun Ra Arkestra, BadBadNotGood, Mano Brown e Kamasi Washington já aconteceram naquele galpão.
Também na zona oeste, a unidade de Pinheiros é, junto com o Pompeia uma das maiores sedes de shows da rede em São Paulo. A força das atrações é equivalente —já tocaram por lá a ex-Sonic Youth Kim Gordon, Gal Costa e Maria Bethânia— e seu belo teatro com capacidade para 1.010 pessoas tem a mesma excelência sonora, o que garante a ela os mesmos prêmios do Sesc projetado por Bo Bardi.
A unidade também faz coro ao esforço do Sesc Pompeia de reunir atrações variadas, que sejam vitrine para o que de mais empolgante há na música atual e também celebrem a música de variadas gerações.
Os dois palcos são preenchidos por lançamentos, novas roupagens de obras clássicas, misturas improváveis que fazem todo o sentido e encontros pautados na música em sua mais pura forma, sem preconceitos com correntes ou ritmos específicos.
A mistura dessas programações ganha mais brilho quando somada ao serviço de bar e comida e ao custo-benefício encontrados nas casas. Quando não são gratuitos, os espetáculos musicais têm sempre preços atipicamente baixos em comparação com os outros espaços de show da cidade —em junho, por exemplo, as atrações não passam de R$ 60, e ainda têm um grande desconto para quem tem a credencial do Sesc.
Comer também é algo que dificilmente sairá caro. É certo que nenhum dos espaços tem cardápios super elaborados, mas há porções, sanduíches e outros quitutes. O serviço é simples e costuma levar poucos minutos, mesmo em dias de espetáculos disputados.
Para beber, o grande destaque fica com a comedoria da unidade Pompeia, único ponto onde o consumo de comes e bebes é totalmente liberado.
Não seria forçar a barra dizer que boa parte dos moradores de São Paulo fãs de música, vão, uma hora ou outra, circular com um chopinho claro ou uma taça de vinho (ambos vendidos por cerca de R$ 15) por aquele espaço.
Em muitas de suas unidades, mas principalmente nas duas avaliadas nesta edição, o Sesc é quem melhor consegue praticar o acesso à cultura que deveria ser padrão em qualquer lugar de São Paulo —diverso, criativo, bem executado e possível.
Sobretudo em uma cidade com preços de shows que mal acompanham o bolso da maior parte de seus moradores, os teatros e a comedoria do Pompeia e Pinheiros são como oásis para quem gosta de boa música.
R$ 15
É quanto custa, aproximadamente, um chopinho claro ou uma taça de vinho na comedoria da unidade Pompeia
Sesc Pompeia
R. Clélia, 93, Pompeia, zona oeste, Instagram @sescpompeia. Programação em sescsp.org.br/unidades/pompeia
Sesc Pinheiros
R. Pais Leme, 195, Pinheiros, zona oeste, Instagram @sescpinheiros. Programação em https://www.sescsp.org.br/unidades/pinheiros/
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