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Shows

Em São Paulo, casas de shows vivem fase crítica com uma bolha prestes a estourar

Disposição para pagar caro por apresentações musicais está cada vez menor

São Paulo

O mercado de shows no Brasil foi sacudido nos últimos dias com a notícia dos cancelamentos de duas grandes turnês de nomes fortes do pop brasileiro: Ivete Sangalo e Ludmilla.

Independentemente das razões para os cancelamentos, o fato escancara o que muitas pessoas que conhecem o mercado vem dizendo há um tempo: há uma bolha de eventos musicais no Brasil e ela parece estar em seus últimos dias. Só neste ano foram cancelados festivais como o Mita e oRep, e o C6 encerrou sua versão carioca, mantendo apenas apresentações em São Paulo.

No palco no Cine Joia, na parte central, uma artista é iluminado por luzes amarelas, destacando-se contra um fundo escuro. Ela está com os braços abertos enquanto canta
Cine Joia, uma das casas de shows das mais tradicionais de São Paulo - Felipe Iruatã/Folhapress

A pandemia criou uma demanda represada de shows e eventos ao vivo. Os dois anos seguintes ao fim da fase crítica da Covid-19 foram de bonança, com shows lotados e ingressos esgotados. Essa fase parece ter chegado ao fim, e o mercado começa a se readequar a números mais realistas. E, se os festivais estão sofrendo, mesmo cheios de patrocínio e com ingressos caros, o que dizer das casas de música?

Festivais são eventos midiáticos e chamativos, mas as casas de shows são a verdadeira corrente sanguínea de qualquer cena musical. Festivais não criam cenas musicais. Essas são criadas, sempre, a partir de pequenos espaços de apresentações ao vivo.

O punk não nasceu num festival, mas em espaços nova-iorquinas como o CBGB's. A música eletrônica, seja a house ou o techno, foi criada em pequenos clubes enfumaçados e hoje é atração e eventos com dezenas de milhares de pessoas. O mesmo pode-se dizer de qualquer outro gênero musical.

A vida de casas de shows nunca foi fácil, mas hoje estamos numa fase particularmente crítica. Qualquer promotor pode atestar o aumento absurdo do preço de passagens aéreas e custos de frete depois da pandemia.

Hoje, trazer uma banda internacional ao Brasil está ao menos 40% mais caro do que antes de 2020. Artistas de uma região do Brasil têm cada vez mais dificuldades de viajar para se apresentar em outra região, devido ao preço abusivo das passagens domésticas.

A desvalorização do real diante do dólar também prejudica os promotores. Em janeiro de 2018, US$ 1 valia R$ 3,30. Hoje, vale R$ 5,20. Os cachês pagos a artistas estrangeiros cresceram muito. Com isso, a solução foi aumentar o valor dos ingressos, que têm subido muito mais que a inflação e os salários.

Com os dois anos de interrupção do mercado de shows devido à pandemia, essa situação ficou meio escondida. Logo após o fim da pandemia, no entanto, houve uma corrida em busca de ingressos, e a vontade de ver um show novamente era tão grande que o público não se importava de pagar caro. Agora, as pessoas estão pensando várias vezes antes de investir esta grana.

São Paulo tem uma rede grande de casas de shows, tanto de locais mais intimistas, com capacidades de 200 a 400 pessoas, como espaços de 7.000 ou 8.000 lugares. Em qualquer dia da semana é possível encontrar shows para ver, de qualquer gênero. Mas a pandemia causou o fechamento e muitos espaços, e os aumentos dos preços de aluguéis e a gentrificação de vários bairros da cidade estão prejudicando a cena musical.

Apesar de todos os problemas, quem gosta de música e vive na cidade pode contar com a incrível rede de shows do Sesc. A rede é financiada pelo setor de comércio de bens, serviços e turismo, que contribui com 1,5% das folhas de pagamentos das empresas. Com isso, consegue oferecer excelentes atrações musicais em espaços com boa qualidade de som e a preços muito abaixo dos praticados no mercado "normal".

Para muita gente, especialmente pessoas de baixa renda, o Sesc é a única alternativa de consumo de música, além de esporádicos shows gratuitos promovidos por prefeituras e associações culturais.

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