Peça inspirada em personagens de Tarantino causa "sensação de 3D", diz diretor

As mulheres marcantes que aparecem nos filmes do diretor Quentin Tarantino serviram de inspiração para "Las Perras", que estreia nesta sexta-feira (17) no Espaço Parlapatões (centro de São Paulo). A peça conta a história de mulheres distintas e de personalidades fortes.

Um dos destaques da montagem é a interação dos atores com telões, que projetam vídeos de outros atores em cena. Na trilha sonora, há a mescla de músicas originais e garimpadas para dar ainda mais o tom de Tarantino.

A direção da montagem é de Fábio Ock, grande fã do cineasta que já havia feito um espetáculo semelhante em 2002 ("Na Cama com Tarantino"). Ele conta que, assim como Tarantino usa elementos de obras que o inspiram, tentou fazer o mesmo. "Ele recria, se alimenta disso, e faz a colcha de retalhos. E tentamos fazer isso também", afirma. "O Tarantino sabe divertir. Isso não muda o mundo, talvez, mas desperta coisas interessantes em quem está vendo."



LEIA ENTREVISTA COM O DIRETOR FÁBIO OCK

Guia - Como surgiu essa vontade de adaptar para o teatro personagens criadas no cinema?
Fábio Ock - Eu tenho uma convicção de que no cinema estão as melhores histórias. Sou muito fascinado por documentário, não existe nada mais dramático do que uma história verdadeira. O Tarantino tem histórias muito boas. Você pega um filme dele e pensa, "o que ele está querendo dizer"? Mas não existe uma pretensão como Lars von Trier, que tem grande mensagens. O Tarantino tem entretenimento, e os personagens são recheados desse universo, dessas boas histórias. Então é uma tentativa de trazer essas boas histórias para o teatro. Falando de antropofagia, é uma boa coisa para comer e se alimentar. No teatro alimentado de teatro, a gente come o próprio rabo. O Tarantino sabe contar histórias, divertir. A gente se apaixona pelos bandidos. Isso não muda o mundo, talvez, mas desperta coisas interessantes em quem está vendo.

Você sentiu alguma dificuldade na adaptação dessas personagens?
Não tive. Sou meio delinquente, me aproprio mesmo e brinco em cima.

De que maneira as personagens da peça remetem ao diretor Quentin Tarantino?
Todas as personagens foram inspiradas nas personagens dos filmes dele, mas deixamos somente algumas características, as pessoas só vão identificar algumas pequenas coisas. Não tem a gênese, trajetória das personagens na peça. Foi só um mote para releitura. O cabelo da Mia, por exemplo, em "Pulp Fiction", a espada do samurai (presente em "Kill Bill"), um figurino parecido ao de "Amor à Queima-Roupa"... É uma colcha de retalhos, mas contando uma história original. Óbvio que não chegamos ao nível do Tarantino, mas tentamos ter a sagacidade, o humor ácido.

Como as personagens de Tarantino são retratadas na montagem?
Uma tem características da Jackie Brown (do filme homônimo), outra da Alabama ("Amor à Queima Roupa"), outra da atriz Uma Thurman em "Kill Bill", outra a Mia "Pulp Fiction", e outra na Mallory, de "Assassinos por Natureza" (Tarantino atuou como roteirista do último). Inclusive, o Tarantino odeia esse filme, diz que é um grande videoclipe. Mas para o Tarantino foi importante, ele conseguiu notoriedade, foi fundamental na carreira. Eu particularmente adoro o filme. Acho muito legal a direção do Oliver Stone.

Há bastante interação dos atores em cena com telões. Como funciona isso?
Os atores contracenam com outros em vídeo. Parece que o ator está, mas não está. Todos os personagens masculinos são feitos dessa maneira. Uma cena tem três caras e eu filmei o mesmo ator fazendo os três personagens, uma analogia aquilo de "homem é tudo igual". E eles se interagem, e a atriz que está no palco também interage com ele. [A técnica de projeções chamada] vídeo mapping causa uma sensação de 3D.

O Tarantino aborda muito a violência em seus filmes. Isso acontece na peça?
A peça não é realista, porque não era o caso. Aí entra o teatro. Não tem aquele efeito de sangue jorrando como em "Kill Bill", por exemplo. Quando os personagens morrem em cena, efeitos de luz ou sonoros dão a metáfora dessa morte. Aí sim que misturo as linguagens. Mas tem violência, sim.

O Tarantino também tem personagens masculinos fora. Por que você eles não entraram na peça?
Eu estava intrigado com a questão da mulher ocupando o espaço do homem. Eu sei que isso é batido e tem acontecido há tempo, mas isso me intriga na questão do crime. Isso me impressiona, elas estão ocupando esse espaço também. A peça é diversão e entretenimento, mas a espinha dorsal fala disso, da mulher no espaço do homem.

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