Última chance para ver a ópera 'La Bohéme' no Teatro Bradesco, em SP

Na montagem do Coral da Cidade, cantores secundários e cenário inteligente roubam a cena

Danae Stephan
São Paulo

Em sua terceira incursão pelo mundo da ópera, o Coral da Cidade de São Paulo apresenta neste fim de semana, no Teatro Bradesco, as duas últimas récitas da ópera "La Bohéme" (1895), de Giacomo Pucinni. A montagem é tradicional, as inovações ficam por conta do cenário, criativo e inteligente.

No primeiro ato, a plateia é apresentada aos protagonistas: um grupo de quatro artistas jovens e pobres, que lutam para conquistar um lugar ao sol na Paris de 1830. Na noite de Natal, os amigos decidem ir ao Quartier Latin para se divertir. O poeta Rodolfo fica para trás e acaba conhecendo, e se apaixonando, por sua vizinha Mimi, uma vendedora de flores frágil e adoentada.

O cenário é um casebre forrado de jornal que forma uma concha acústica, o que ajuda na projeção das vozes dos cantores, mas não foi suficiente para compensar a falta de experiência do tenor Eduardo Trindade, que faz o poeta.

O cantor errou a entrada e o que mais pode na estreia, no dia 30 de novembro. Desafinou em várias passagens, teve projeção fraca e era constantemente encoberto pela orquestra ou por seus companheiros de palco.

No papel de Mimi, a soprano Camila Rabelo, que fez uma correta Pamina na “Flauta Mágica”, em agosto, não começou muito bem, desafinando em algumas notas, mas evoluiu nos atos seguintes.

Seguro, afinado e com uma química perfeita em cena estava o segundo casal da trama, Marcello e Musetta. Ele, interpretado pelo experiente barítono Rodolfo Giugliani, e ela, pela soprano Jayana Paiva, deram um show à parte, e já seriam motivo suficiente para prestigiar a montagem.

Giugliani, que já cantou com grandes nomes da cena lírica internacional, como a esplêndida Elina Garanca, que veio ao Brasil em junho pelo Mozarteum, participou neste ano da estreia da ópera “Lo Schiavo”, do brasileiro Carlos Gomes, em terras italianas.

 

Já a cantora impactou a plateia logo na entrada, no segundo ato, quando o público descobre a relação conflituosa do casal. Exagerada e um pouco caricata em alguns momentos, arrancou risos da plateia e garantiu a parte cômica da peça.

O cenário do segundo ato é uma das sacadas visuais —e práticas— da montagem. Na cena, os cantores se dirigem para o restaurante Mumu, do qual vemos a fachada, com o coro cantando na frente. Ao entrar no restaurante, cantores e assistentes viram o cenário modular, e ficamos, plateia e protagonistas, “dentro” do restaurante, enquanto o coro continua a cantoria do lado “de fora”.

O efeito é ótimo, apesar de encobrir um pouco as vozes do coro. No terceiro ato, o cenário é singelo e de grande efeito, mas a neve que caiu na estreia fez mais barulho do que o recomendável.

No quarto e último ato, merece destaque o baixo Andrey Mira, que emprestou sua voz potente e profunda ao filósofo Colline e recebeu devida ovação ao final da ária Vecchia Zimarra.

A orquestra, bem como a regência do maestro e diretor musical Luciano Camargo, se saiu bem, apesar de alguns desencontros com os cantores na estreia. Camargo é criador do coro formado por cerca de 120 cantores amadores, e encabeça a instituição e as montagens, feitas de forma independente, sem patrocínio ou incentivos fiscais. A julgar pela receptividade do público, está no caminho certo.

Teatro Bradesco - R. Palestra Itália, 500, 3º piso, Perdizes, região oeste, tel. 3670-4100. 1.457 lugares. Sáb.: 20h30. Dom.: 19h. Até 8/12. 150 min. 14 anos. Ingr.: R$ 100 a R$ 200. Ingr. p/ uhuu.com.

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