Enquanto bares e restaurantes voltam a abrir as portas em São Paulo, após autorização do governo estadual, e muitos fazem vaquinhas online para manter suas operações, há casas que vão na contramão —e arrecadam dinheiro em financiamentos coletivos para não precisarem voltar a funcionar durante a pandemia e respeitar a orientação dos infectologistas, que recomendam que todos ainda fiquem em casa.
É o caso do Patuscada, que fez duas vaquinhas online recentemente. Esse modelo de financiamento vem se tornando a única saída encontrada por diferentes estabelecimentos de São Paulo para aliviar o sufoco financeiro gerado pelo fechamento de todo o setor cultural e gastronômico —de cinemas a restaurantes, de casas de show a bares.
Sede da editora Patuá e ponto de encontro da literatura contemporânea paulistana, o Patuscada apostou primeiro em uma vaquinha no ano passado.
Quando aglomerações ainda eram permitidas, em janeiro de 2020, a casa recebia um lançamento de livro quando uma forte chuva estragou o telhado do espaço. A enxurrada fez o teto ter danos estruturais e ficar a ponto de desabar.
Eduardo Lacerda, dono do bar e da editora, diz que o proprietário do imóvel arcou com os custos da reforma, mas a editora decidiu arrecadar R$ 20 mil em uma vaquinha online para fazer os retoques finais na pintura, no piso, na calçada e na iluminação.
Na época, uma das recompensas do financiamento era participar de uma antologia, que reuniu mais de 300 colaboradores. Com o dinheiro, foi possível reerguer o estabelecimento e preparar uma festa de reabertura pós-reforma.
Mas aí veio a pandemia.
No dia em que o Patuscada reabriria as portas, em março do ano passado, o Brasil ainda confirmava as primeiras centenas de pessoas infectadas com coronavírus —e o medo da doença desconhecida inibiu a ida dos convidados ao evento. Das 300 pessoas esperadas, só 20 apareceram.
Foi quando o bar decidiu fechar as portas. Sem funcionar desde então, há mais de um ano, o espaço começou a enfrentar os desafios financeiros da maioria dos pequenos empreendedores para manter o pagamento do aluguel e das contas com a casa fechada.
"Conseguimos um desconto pequeno com o proprietário porque ameaçamos deixar o espaço, então ele reduziu o aluguel em cerca de 30%", diz Lacerda.
Se o bar dependia muito dos eventos de lançamento de livros da Patuá e de outras editoras independentes para atrair o público, o período fechado fez as contas apertarem.
Foi então que foi lançada a segunda vaquinha, em fevereiro deste ano, que arrecadou quase R$ 60 mil. Mas não para a casa voltar a funcionar de imediato. O dinheiro garante sobrevida do Patuscada até, pelo menos, o mês de julho —mas fechado, sem receber clientes presencialmente, seguindo as orientações dos infectologistas.
"Acho que só será seguro reabrir o bar no segundo semestre, quando as pessoas mais vulneráveis já deverão estar vacinadas", prevê Lacerda.
Mesmo em meio às instabilidades, o editor faz planos de expansão para o futuro. Além de manter o bar em São Paulo, localizado no bairro de Pinheiros, ele pretende abrir uma nova unidade do interior paulista, na cidade de Santa Isabel, a cerca de 60 quilômetros da capital, para onde ele se mudou por causa da pandemia.
"Será como o Patuscada, mas rural", ele diz. Quem sabe vem um terceiro financiamento coletivo por aí.
Comentários
Ver todos os comentários