De um lado, as espátulas e as madeiras usadas na xilogravura. Do outro, as tintas e sprays do grafite. As duas técnicas, que vão da cultura dos folhetos de cordel à arte urbana, se misturam na nova exposição "Xilograffiti", que abre ao público no Sesc Consolação na noite desta quarta, dia 4.
A mostra, que é gratuita, busca fazer uma conexão entre trabalhos de artistas e coletivos de grafite e de xilogravura de diferentes cantos do país. Embora possam parecer distantes, as linguagens encontram uma ligação, diz Baixo Ribeiro, curador da programação e fundador da galeria Choque Cultural.
"Elas têm muitas conexões. A primeira, que quis ressaltar na exposição, é a ideia de colaboração. A gravura nunca é um processo individual, você tem o gravador, que faz a matriz, e tem o impressor. Na hora de fazer o grafite, os artistas também se encontram nas ruas", diz. Além disso, ambas carregam um viés popular.
Logo na empena do edifício do Sesc Consolação, na região central, aparece um mural de 20 metros de altura por oito metros de comprimento, no formato de um estandarte colorido, em uma homenagem do maranhense Romildo Rocha ao grafite e à cultura nordestina.
No espaço de convivência da unidade, as obras são agrupadas por núcleos temáticos, como os dedicados aos cordéis e à tipografia. Há, por exemplo, trabalhos do xilogravurista pernambucano J. Borges, que registra a cultura popular, e uma coleção de cordéis produzidos pelo coletivo cearense Lira Nordestina.
Um mural pintado na própria parede do local traz imagens do cotidiano ilustradas por Derlon, artista recifense que é conhecido pelos grafites em preto e branco de traços fortes, que lembram as impressões da xilogravura e a literatura de cordel.
Logo em seguida ganham destaque os lambe-lambes, os zines e os pôsteres que misturam letras, palavras e imagens e povoam as paisagens urbanas de grandes cidades —entre eles, os cartazes da paulistana Lau Guimarães, que usa técnicas de estêncil.
Enquanto isso, o Atelier Piratininga apresenta uma gravura produzida por 26 artistas. Já o coletivo Paulestinos une referências do cangaço e dos mangás em uma colagem de um cangaceiro em uma moto, em alusão ao protagonista do longa animado "Akira", do japonês Katsuhiro Otomo.
Em paralelo à exposição, serão oferecidas oficinas que ensinam a técnica de entalhe e de impressão xilográfica. Além disso, os visitantes podem produzir gravuras e pôsteres usando as matrizes originais das obras expostas no local.
"Você pode levar um pedaço da exposição. Esse é um jeito de quebrar a barreira entre o ateliê e a vida real", finaliza Ribeiro.
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