Oito palcos da cidade abrem as cortinas para a MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) a partir de terça-feira (14). Teatros e centros culturais, como o Auditório Ibirapuera, o Itaú Cultural e unidades do Sesc, receberão dez espetáculos, sendo sete estrangeiros.
O festival, idealizado por Antônio Araújo, diretor do Teatro da Vertigem, e Guilherme Marques, diretor-geral do Centro Internacional de Teatro Ecum, adotou dois eixos para conduzir esta edição. O primeiro é o teatro-documentário, característico, por exemplo, do diretor libanês Rabih Mroué, que ganha uma mostra com três montagens dentro do evento.
O segundo, a reflexão sobre o papel do negro, que já estava presente na 3ª MITsp, em 2016 --mas segue em pauta já que a discussão, para Araújo, é "inesgotável" (leia abaixo). Neste ano, o tema tem protagonismo em peças como a sul-africana "Black Off" e as brasileiras "A Missão em Fragmentos: 12 Cenas de Descolonização em Legítima Defesa" e "Branco: O Cheiro do Lírio e do Formol".
A MITsp destaca ainda montagens estrangeiras inéditas no Brasil, que mantêm sua tradição de mesclar diferentes vertentes artísticas --caso da belga "Avante, Marche!" e da alemã "Por que o Sr. R. Enlouqueceu?".
O evento, que costuma ter boa parte dos ingressos esgotados antes mesmo de seu início, vem se consolidando na programação da cidade por trazer artistas relevantes da cena internacional teatral.
Mesmo assim, neste ano, está menor e quase deixou de acontecer por redução de orçamento de patrocinadores --a verba passou de R$ 3,4 milhões para R$ 2,9 milhões. Em 2016, foram 39 sessões de 11 espetáculos em dez dias; agora, serão 30 apresentações de dez peças em oito dias.
A seguir, o "Guia" traz o serviço dos espetáculos, além de destaques da programação paralela e uma agenda com festivais de teatro e de dança que devem acontecer até o fim do ano.
ENTREVISTA: Antônio Araújo, idealizador e diretor artístico da MITsp
Por que escolher o papel do negro e o teatro-documentário como eixos?
O protagonismo negro começou na edição passada e ficamos com a impressão de que seria importante dar continuidade à discussão, que é inesgotável. E o teatro-documentário, apesar de não ser um formato novo, ainda é muito forte na cena contemporânea.
Como a redução de orçamento impactou o evento?
Chegamos a pensar em adiar a mostra para 2018, mas achamos importante fazê-la, mesmo que um pouco menor. A falta de verba impacta porque nosso desejo é ampliar a mostra com outras ações, ligadas à formação de público, por exemplo --coisas que ainda não temos condições de fazer.
Mas há uma extensa programação paralela...
Sim, neste ano ela está mais substanciosa. Há uma inquietação que atravessa a mostra, que vem do desejo de discutir a situação atual do país. Apesar de ser internacional, a MIT procura aproveitar o espaço para pensar o local também.
Que balanço faz dessas quatro edições?
Percebemos que a cada ano o festival vem despertando mais interesse, o que confirma nossa intuição de que a cidade precisa de um festival internacional. Porém, sofremos com a redução de verba desta edição e da anterior. O desafio, então, ainda é fazer com que ele sobreviva.
ESTRANGEIROS
Avante, Marche!
Criado pelos diretores belgas Alain Platel e Frank Van Laecke e pelo compositor Steven Prengels, da companhia de dança Les Ballets C de la B, o espetáculo mistura música, dança e teatro. Dezoito instrumentistas brasileiros (regidos por Carlos Moreno), quatro atores e sete músicos integram o elenco. Na história, um trombonista doente se despede de seu instrumento e vai para as últimas fileiras da banda tocar dois címbalos (pratos).
Theatro Municipal. Qua. (15) e qui. (16): 20h. 100 min. 12 anos.
MOSTRA RABIH MROUÉ
Tão Pouco Tempo
O primeiro espetáculo do libanês apresentado na MIT é encenado por sua mulher, a atriz Lina Majdalanie. Em um palco quase vazio, ela manuseia fotos que, mergulhadas em um líquido, vão perdendo a cor enquanto fala sobre troca de prisioneiros, restos mortais de soldados e o cadáver de Deeb Al Asmar, um mártir islâmico fictício. Com ironia e humor, a peça questiona a fascinação por imagens de líderes mortos.
Sesc Vila Mariana. Ter. (14) e qua. (15): 19h. 60 min. 14 anos.
Cavalgando Nuvens
O irmão de Mroué, o ator Yasser, interpreta um personagem que se parece com ele próprio: baleado aos 17 anos, Yasser perdeu a capacidade de utilizar as palavras e passou a gravar vídeos. Ele relata suas memórias para contar de forma subjetiva os acontecimentos políticos no Líbanoe mostrar a fragilidade no processo de construção de uma biografia.
Sesc Vila Mariana. Sex. (17) e sáb. (18): 21h. Dom. (19): 18h. 65 min. 14 anos.
Revolução em Pixels
O próprio Rabih Mroué está em cena. Numa espécie de palestra-performance, o artista investiga o ato de documentar a revolução na Síria por meio de imagens captadas em celulares e compartilhadas em redes sociais. Para isso, ele examina fotografias e vídeos selecionados do YouTube.
Sesc Vila Mariana. Qua. (15) e sex. (16): 21h. 60 min. 14 anos.
Black Off
O espetáculo, que utiliza elementos do stand-up comedy, do audiovisual, da música e da performance, combina dois trabalhos anteriores da artista e ativista da África do Sul Ntando Cele. Ela aborda a identidade do negro, o papel da mulher negra e o racismo. O alter ego de Ntando, Bianca White (uma comediante filantropa que julga saber tudo sobre negros), conduz parte da performance.
Itaú Cultural. Sáb. (18), seg. (20) e ter. (21): 19h. Dom. (19): 15h e 19h. 100 min. 15 anos.
Mateluna
A peça, que estreou no ano passado em Berlim, tem texto e direção do chileno Guillermo Calderón, nome importante do teatro político latino-americano. O espetáculo é uma espécie de continuação de "Escola", trabalho apresentado por ele na primeira edição do festival, em 2014. A montagem discute justiça, memória e reconhecimento aos que lutaram contra a ditadura chilena a partir da história real do guerrilheiro Jorge Mateluna.
Teatro João Caetano. Sáb. (18), seg. (20) e ter. (21): 21h. Dom. (19): 16h e 21h. 90 min. 12 anos.
Por Que o Sr. R Enlouqueceu?
O longa homônimo do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder é o ponto de inspiração para esta montagem da Münchner Kammerspiele (importante grupo alemã), com direção de Susane Kennedy. Usando máscaras de silicone e falando de forma pausada, os atores contam a história de um homem comum que faz tudo o que se espera dele. A peça acontece dentro de uma caixa forrada de madeira.
Sesc Pinheiros. Qua. (15) e sex. (17): 21h. 130 min. 14 anos.
NACIONAIS
A Missão em Fragmentos: 12 Cenas de Descolonização em Legítima Defesa
A peça, que tem direção de Eugênio Lima, parte de "A Missão: Lembrança de uma Revolução", de Heiner Müller, e confronta o texto com outros escritos para desconstruir o pensamento colonizador e racista. Quinze performers negros integram o elenco.
Auditório Ibirapuera - sex. (17) e sáb. (18): 21h. Dom. (19): 18h. 120 min. 16 anos.
Branco: O Cheiro do Lírio e do Formol
Com dramaturgia de Alexandre Dal Farra, que assina a direção com Janaina Leite, a montagem é uma tentativa de elaborar um discurso crítico sobre o papel do branco em relação ao racismo. A peça mescla o cotidiano de uma família de classe média, versões anteriores do texto e o depoimento de um narrador que busca dar conta do próprio processo de criação da peça.
CCSP. Sex. (17): 18h. Sáb. (18): 21h. Dom. (19): 20h30. 100 min. 16 anos.
Para que o Céu Não Caia
O espetáculo de dança da coreógrafa Lia Rodrigues é inspirado nos livros "Há Mundo por Vir?", de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, e "A Queda do Céu", do xamã Davi Kopenawa. Diante de catástrofes naturais e mudanças climáticas, os bailarinos dançam no ritmo de máquinas e carros para tentar encontrar um jeito de sobreviver.
Sesc Belenzinho. Sex. (17) e sáb. (18): 21h30. Dom. (19): 17h30. 80 min. 16 anos.
PROGRAMAÇÃO: Destaques das 83 atividades gratuitas
Diálogos Transversais
Ao final de uma das apresentações de cada espetáculo da mostra são realizados comentários críticos sobre a peça. Artistas e especialistas de outras áreas foram convidados a dialogar com o público. O músico Tom Zé, por exemplo, bate papo após "Avante, Marche!", em 15/3, no Municipal.
Programação completa em mitsp.org
Dimensões Públicas da Crise e Formas de Resistência
O seminário tem convidados como a pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, o filósofo e colunista da Folha Vladimir Safatle e a ensaísta Ivana Bentes. Eles discutem assuntos como as diferentes narrativas a respeito dos acontecimentos políticos brasileiros recentes.
Itaú Cultural. Qua. (15), qui. (16) e sex. (17): 14h às 16h30.
Discursos Sobre o Não Dito: Racismo e a Descolonização do Pensamento
Em dois dias, especialistas de diversas áreas refletem sobre os desdobramentos da escravidão negra e as formas do racismo no Brasil e no mundo. A intelectual sul-africana Nicky Falkof e a socióloga americana Patricia Collins são algumas das participantes.
Itaú Cultural. Seg. (20) e ter. (21): 14h às 17h.
Entrevista com Guillermo Calderón
Os críticos teatrais Daniele Avila Small (da revista eletrônica "Questão de Crítica") e Welington Andrade (revista "Cult") entrevistam o dramaturgo e diretor chileno Guillermo Calderón, que traz à MIT Mateluna.
Teatro de Contêiner da Cia. Mungunzá - R. dos Gusmões, 43. Seg. (20): 11h às 13h.
Pensamento em Processo
De 15 a 20/3, no Itaú Cultural, diretores, dramaturgos, atores e performers dos espetáculos partilham questões de seus processos criativos com o público. Na quinta (16), às 10h, é a vez do diretor Rabih Mroué e, na sexta (17), às 11h30, da diretora alemã Susanne Kennedy.
Programação completa em mitsp.org
SERVIÇO:
Ingressos e endereços
Entradas podem ser compradas on-line, mas os locais reservam 10% dos ingressos para serem vendidos na porta. A exceção são as três unidades do Sesc onde há o risco de eles se esgotarem; já não há mais ingressos, por exemplo, para "Por que o Sr. R. Enlouqueceu?" e "Para que o Céu não Caia".
Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer - Av. Pedro Álvares Cabral, portões 2 e 3, Pq. Ibirapuera, tel. 3629-1075. 800 lugares. Ingr.: R$ 20
Centro Cultural São Paulo - R. Vergueiro, 1.000, Liberdade, tel. 3397-4002. Ingr.: R$ 20
Itaú Cultural - Av. Paulista, 149, Bela Vista, tel. 2168-1777. 254 lugares. Retirar ingressos com 2h de antecedência. GRÁTIS
Teatro Municipal João Caetano - R. Borges Lagoa, 650, Vl. Clementino, tel. 5573-3774. 438 lugares. Ingr.: R$ 20.
Theatro Municipal - Pça. Ramos de Azevedo, s/ nº, República, tel. 3053-2090. 876 lugares. Ingr.: R$ 20
Sesc Belenzinho - R. Pe. Adelino, 1.000, Quarta Parada, tel. 2076-9700. 100 lugares. Ingr.: R$ 20
Sesc Pinheiros - R. Pais Leme, 195, Pinheiros, tel. 3095-9400. 492 lugares. Ingr.: R$ 20
Sesc Vila Mariana - R. Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 5080-3000. 400 lugares. Ingr.: R$ 20
Informações e vendas: mitsp.org
PREPARE-SE: 2017 tem outros tantos festivais de teatro, dança e circo
Março e abril
Visões Urbanas 2017
A 10ª edição do festival internacional promovido pela Cia Artesãos do Corpo reúne, de 31/3 a 9/4, espetáculos, performances e intervenções urbanas de artistas como Yo Nakamura, do Japão.
Abril
12º ABCDança
Grupos das cidades do ABC paulista se apresentam de 20/4 a 28/5 em locais como o Teatro Clara Nunes e o Centro Cultural São Paulo.
Junho
Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos
É a terceira edição do evento do CCSP que traz dramaturgias contemporâneas inéditas. A primeira será Boi Ronceiro, texto de Ricardo Inhan.
Junho
Festival Internacional Sesc de Circo
Espetáculos nacionais e internacionais, além de workshops e bate-papos, integram a programação.
Agosto
Palco Giratório
O projeto de circulação de espetáculos nacionais organizado pelo Sesc chega à 20 edição.
Setembro
Bienal Sesc de Dança
A mostra será realizada pela segunda vez em Campinas.
Outubro
Bienal Internacional de Teatro da USP
Em sua 3ª edição, o evento trará a companhia peruana Yuyachkani.
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